O regime sírio mencionou nesta terça-feira (21) a possibilidade de negociar uma renúncia do presidente Bashar al-Assad para pôr fim ao conflito com a rebelião, enquanto fortes bombardeios e combates eram registrados em Aleppo, segunda maior cidade da Síria.
Em Moscou, o vice-primeiro-ministro sírio, Qadri Jamil, levantou a possibilidade de negociar a renúncia do presidente Bashar al-Assad para pôr fim ao conflito com a rebelião que assola o país.
"Fazer da renúncia uma condição para manter um diálogo significa que jamais se poderá haver tal diálogo. Mas, nas negociações, pode-se falar de qualquer problema. Estamos dispostos, inclusive, a falar sobre este ponto", afirmou Jamil em declarações traduzidas para o russo, após um encontro com o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov.
Os Estados Unidos, os países europeus e o mundo árabe pediram em diversas oportunidades que o presidente sírio saia do poder. Washington reiterou este apelo na segunda-feira (20).
Pouco depois, Lavrov declarou que os esforços de Damasco para pôr fim à violência ainda são insuficientes, ressaltando que não há outra solução, a não ser continuar por este caminho.
Moscou continua sendo o maior aliado do regime sírio e vetou em três oportunidades ao lado de Pequim resoluções do Conselho de Segurança ameaçando Damasco com sanções.
Enquanto isso, pelo menos 24 pessoas foram mortas em todo o país, entre elas mulheres e crianças em Aleppo, enquanto o regime manteve seus ataques contra áreas rebeldes um dia depois de o presidente americano, Barack Obama, ter alertado Damasco sobre seu arsenal de armas químicas.
Um forte bombardeio foi relatado em Aleppo, incluindo na região onde uma jornalista japonesa foi morta depois de ter sido atingida em meio a um tiroteio na segunda-feira, enquanto aviões de guerra bombardearam a cidade ao norte de Marea, disseram ativistas.
Os militantes também informaram que as tropas haviam invadido uma cidade perto de Damasco, incendiando casas e lojas, enquanto helicópteros e aviões de guerra bombardearam vários subúrbios da capital, que o regime alegou ter recapturado em grande parte no mês passado.
A morte da jornalista japonesa Mika Yamamoto, de 45 anos, aumentou para quatro o número de jornalistas estrangeiros mortos na Síria desde o início da ofensiva contra o regime do presidente Bashar al-Assad, em março de 2011.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos afirmou que outros três jornalistas - uma libanesa, um árabe e um turco - estavam desaparecidos.
"Ameaças eleitoreiras"
Obama alertou o regime de Assad na segunda-feira, ao afirmar que, embora ele não tenha ordenado uma intervenção militar "neste momento", os Estados Unidos estão "monitorando a situação cuidadosamente" e que elaboraram planos de contingência.
Mas Lavrov afirmou nesta terça-feira: "Não deve haver intervenção externa".
"A única coisa que os atores estrangeiros devem fazer é criar condições para o início de um diálogo", disse.
Qadri Jamil também reagiu às afirmações do presidente americano nesta terça, afirmando que as "ameaças de Obama são simplesmente propaganda relacionada com as eleições americanas".
O Conselho de Segurança da ONU falhou até agora em entrar em acordo para conter o banho de sangue ou para lidar com Assad, depois que Rússia e China vetaram resoluções sobre o conflito.
Mas Lavrov também informou a um enviado sírio que os esforços feitos por Damasco para terminar o conflito "não eram suficientes".
"As pessoas estão conosco"
O Exército Sírio Livre (ESL), formado por opositores, indicou ter avançado em Aleppo, mas o regime negou.
"Agora nós controlamos mais de 60% da cidade de Aleppo, e a cada dia tomamos o controle de novos distritos", afirmou o coronel Abdel Khabbar al-Okaii, comandante do Exército Sírio Livre. "As pessoas estão conosco... De que outra forma você acha que poderíamos ter durado um mês?", se perguntou.
Mas uma fonte de segurança em Damasco desmentiu as alegações.
"Isso é completamente falso", disse a fonte. "Os terroristas não estão avançando, o Exército é que está fazendo um progresso lento".
O regime alertou para a "mãe de todas as batalhas" para recapturar Aleppo, onde o Observatório, com sede na Grã-Bretanha, indicou bombardeios nesta terça-feira que mataram nove civis, entre eles duas mulheres e duas crianças.
Aviões de guerra também atacaram as cidades de Marea e Tall Rifaat, ao norte, disse o OSDH.
"O Exército bombardeou estoques de armas rebeldes na região de Aleppo para evitar que os rebeldes possam ter acesso a eles (na cidade)", disse um funcionário de segurança sírio. "Reforços de ambos os lados estão indo para Aleppo. É uma guerra que vai durar muito tempo".
A violência nesta terça-feira ocorre após uma segunda-feira sangrenta, com a morte de 167 pessoas em todo o país, disse o Observatório.
O conflito sírio ecoou no vizinho Líbano durante a noite, com confrontos entre simpatizantes e opositores ao regime de Assad que deixaram 33 pessoas feridas na cidade de Trípoli, segundo os serviços de segurança.
Em Paris, o presidente do Conselho Nacional Sírio (CNS), Abdel Baset Sayda, afirmou que a principal coalizão opositora estuda a formação de "um governo de transição".
Sayda fez essas declarações depois de se reunir com o chefe de Estado francês, François Hollande, no Palácio do Eliseu.
"Estudamos atualmente a formação de um governo de transição", declarou Sayda, à frente da delegação do CNS que se reuniu com Hollande por quase 45 minutos.
"É um processo que requer muitas consultas. Não se pode ir muito rápido, mas o Conselho Nacional Sírio tenta concluí-lo o quanto antes", acrescentou perante a imprensa.