Em discurso nesta terça-feira 3, Felipe 6º, rei da Espanha, defendeu o "firme compromisso da coroa com a democracia e a unidade da Espanha", e não fez nenhum aceno ao desejo separatista da Catalunha.
Foi a primeira declaração oficial do monarca oficial sobre a crise catalã, dois dias depois de a violência policial deixar quase 900 feridos durante um plebiscito separatista no domingo (1º).
No que deve desagradar os independentistas, Felipe 6º afirmou que as autoridades catalãs foram "desleais" ao realizar o plebiscito.
"Elas se situaram à margem do direito e da democracia, tentaram romper a unidade da Espanha e a soberania nacional", disse.
Para o rei, "é responsabilidade do Estado assegurar a ordem constitucional"; fala com a qual ele se alinhou ao posicionamento do premiê espanhol, Mariano Rajoy.
Contexto
A Catalunha é uma região espanhola já com alguma autonomia, contando com um Parlamento próprio e uma polícia a seu mando, os chamados Mossos. Mas uma série de vitórias eleitorais deu força para que partidos separatistas pedissem a independência completa.
O movimento tem crescido desde 2012, data de imensas manifestações populares, mas chegou a seu ápice no dia 1º com o plebiscito separatista. Mais de 90% votaram no "sim" — apesar de essa consulta ter contado com apenas 2,2 milhões de eleitores, ou seja, 42% do total.
O governo central em Madri não reconheceu o plebiscito e tampouco vai aceitar uma eventual, prevista para os próximos dias. Ainda não há uma data para que o Parlamento discuta o gesto.
Um dos argumentos dos separatistas é sua economia pujante, que corresponde a 20% do PIB espanhol, hoje estimado em US$ 1,2 trilhão.
"A Catalunha é um povo explorado, e ainda por cima nos odeiam", afirma à Folha Josep María Calbete, 82, durante um protesto "Uma Catalunha independente é viável, mas uma Espanha sem a Catalunha, não. Por isso não vão nos oferecem diálogo."
Greve
Barcelona, principal destino turístico espanhol, foi paralisada por uma greve parcial na terça-feira (3) em protesto à violência policial.
Apenas 25% do transporte público funcionou nos horários de pico. A infraestrutura nacional — linhas de trem e os aeroportos — operou quase em normalidade.
Servidores públicos da prefeitura não foram trabalhar e 75% dos trabalhadores da saúde tampouco, mas o governo central de Madri avisou que vai descontar o dia do pagamento. O porto de Barcelona foi paralisado.
Atrações como o recinto modernista de San Pau e La Pedrera, de Antoni Gaudí, foram fechadas, afetando visitantes. Barcelona recebeu 32 milhões de turistas em 2016.
O dia transcorreu sem incidentes, após pedidos das autoridades locais por calma. O presidente catalão, Carles Puigdemont, afirmou à população que não se deixasse levar por "provocações".
As autoridades de Barcelona disseram que 700 mil pessoas participaram de protestos na cidade. Multidões estavam enroladas em bandeiras catalãs -faixas vermelhas e amarelas — e gritando "as ruas sempre serão nossas", que se tornaram uma espécie de hino da semana.
Um cartaz dizia que "eles não nos deixam dizer nem um 'piu'", em referência ao personagem infantil Piu-Piu, que se tornou símbolo da repressão policial, depois que agentes enviados por Madri foram alojados em um barco com ilustrações do pássaro.
Em alguns povoados catalães, a população protestou contra a presença da policia nacional, levando à expulsão de alguns membros das forças de segurança dos hotéis em que estavam alojados.
O atrito entre os governos de Madri e de Barcelona, escalado nas últimos semanas, é um dos principais desafios da democracia espanhola desde sua transição em 1975, que encerrou uma ditadura de quase quatro décadas.
"Sempre acreditei que a independência catalã daria continuidade à nossa história", diz Ferrán Sabate, 64, na manifestação -falando alto para ser ouvido entre o tilintar das chaves balançadas no protesto.
"Fomos independentes por séculos, até sermos tomados por armas em 1714", diz. Naquela data, o rei espanhol Felipe 5º tomou Barcelona e suspendeu a autonomia parcial da Catalunha.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Deixe sua opinião