O rei Juan Carlos de Espanha vinha sendo alvo, nesta segunda-feira (16), de duras críticas, por parte dos que o acusam de caçar elefantes em Botsuana, no momento em que seu país atravessa uma grave crise econômica.

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O monarca, de 74 anos, teve que ser levado com emergência e submetido, neste final de semana, a uma cirurgia no quadril, em consequência de uma queda, e se recuperava num hospital de Madri.

O interesse por seu estado de saúde foi ofuscado pela críticas, após informações de que estava caçando elefantes.

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A Casa Real não confirmou que o rei estivesse em Botsuana quando ocorreu o acidente. A informação foi divulgada pelas autoridades do governo.

"Tinha licença para caçar elefantes", declarou à AFP o porta-voz do governo, Jeff Ramsay. "Entendo que sofreu a queda quando já estava num chalé, não no terreno", acrescentou.

Uma foto de Juan Carlos de 2006, posando, com a escopeta na mão, diante de um elefante morto nesse país da África e publicada em vários jornais espanhóis no domingo contribuiu para alimentar o escândalo.

A atriz francesa, conhecida por seu trabalho de defesa dos animais, Brigitte Bardot, escreveu uma carta aberta ao rei fustigando a caça de elefantes. "É um ato indecente, repugnante e fico indignada por ser com uma pessoa de sua posição", afirmou. "O senhor não vale mais que os caçadores ilegais que pilham e saqueiam a natureza, é a vergonha da Espanha", acrescentou.

"Não desejo ao senhor um pronto restabelecimento, porque isso o levaria a prosseguir com suas estadas mortíferas na África ou em outro local", inflamou-se ela.

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A organização espanhola Pacma considerou "inaceitável que Juan Carlos vá à África caçar elefantes enquanto o governo impõe duras medidas de austeridade e faz cortes no orçamento que tornam a vida dos cidadãos cada vez mais difícil".

A aventura representa uma despesa "de sete a 20.000 euros para cada animal abatido", acrescentando que "o custo médio de um safári é de 35.000 euros".

O fórum social europeu Actuable divulgou na internet um abaixo-assinado, de mais de 40.000 pessoas, pedindo que o rei deixe imediatamente o posto de presidente de honra da filial espanhola da ONG World Wildlife Fund (WWF).

A WWF anunciou, por sua vez, no twitter, que "fará chegar à Casa Real os comentários, além de reiterar seu compromisso com a proteção dos elefantes".

Alguns chegaram até a evocar a possibilidade de demissão, e talvez abdicação, de um rei que vinha sendo até aqui quase intocável, encarnando a transição democrática após o fim da ditadura do general Franco, em 1975.

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Tomás Gómez, líder dos socialistas madrilenos, somou-se às críticas emitidas por grupos políticos de esquerda na reprovação feita pela imprensa espanhola.

"Chegou o momento de a Casa Real escolher entre as obrigações e as sujeições das responsabilidades públicas e a abdicação, que lhe permita desfrutar de uma vida diferente", afirmou.

"Esse comportamento não é o que nós, espanhóis, esperávamos da Casa Real em momentos de crise. É pouco edificante", acrescentou.

Outras duas ONGs de defesa dos animais, 'Igualdad Animal y Equanimal', pediram, num comunicado, manifestações nesta terça-feira diante do hospital San José de Madrid, onde o rei convalesce.

A família real espanhola vem sendo objeto de críticas e escândalos há alguns meses, marcados por um suposto caso de corrupção que envolve um dos genros do rei, o duque de Palma e ex-campeão olímpico de handebol Iñaki Urdangarín.

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A cirurgia de sábado foi a quarta submetida pelo rei, em dois anos.

O médico, Angel Villamor, afirmou que poderá receber alta nesta semana, uma vez que "já consegue caminhar e sentar-se sozinho".

Em 2009, um tribunal decidiu arquivar as acusações contra os autores de uma caricatura que representava Juan Carlos numa caçada na Rússia, onde teria matado um urso de circo, depois de beber vodka.