O Reino Unido adotou desde o início de novembro normas para conter o contágio da Covid-19. E embora as restrições permitam que as igrejas sejam abertas para a oração privada, a legislação governamental estipula que isso não vale para a “adoração comunitária”, como missas, cultos etc.
Multas de até 10 mil libras esterlinas podem ser aplicadas para quem infringir esta lei.
As regras, contudo, variam de região para região. Em algumas, é possível realizar cultos (com restrições), em outras, não.
E, nesses lugares, alguns líderes cristãos estão desafiando a lei estatal, fazendo lembrar – dadas as devidas proporções – o período das perseguições romanas.
Um pastor cristão falou ao The Guardian, sob condição de anonimato, que ele e sua comunidade continuaram com as cerimônias de domingo durante o confinamento em novembro.
“Temos mantido serviços clandestinos desde que esse confinamento começou. É estranho para nós agir assim. As pessoas disseram que parece mais uma igreja subterrânea na China”, disse ele.
O pastor acrescentou: “Como cristãos, queremos ser os melhores cidadãos que pudermos. Não queremos ser desobedientes, mas estamos sendo forçados a uma posição na qual ou temos de seguir com nossas convicções religiosas ou ir contra nossas consciências e crenças e nos submeter ao Estado. Essa é a situação em que estamos.”
Em 15 de novembro, a polícia interrompeu um culto no norte de Londres, realizado pelo pastor evangélico Regan King, afirmando que o evento violava a lei. Cerca de 30 fiéis se reuniram na igreja Angel, na capital inglesa, no dia 15 de novembro, para um culto, incluindo um batismo.
Após uma discussão com a polícia, o pastor concordou em realizar uma breve reunião ao ar livre no pátio da igreja. O pastor Regan King afirmou mais tarde à BBC Radio 4 que "nossa prioridade é o temor de Deus... Servimos a uma lei maior. Só porque algo é lei não quer dizer que seja certo."
Questões legais
Segundo o Catholic World Report, mais de 120 líderes de várias denominações cristãs desafiaram as ordens para fechar igrejas na Inglaterra e no País de Gales. Os líderes religiosos dizem que o governo não produziu evidências que justifiquem o tratamento rigoroso dos locais de culto.
O grupo evangélico Christian Legal Centre está apoiando os líderes em seu desafio legal ao Secretário de Estado de Saúde e Assistência Social. Os líderes religiosos dizem que as novas restrições à adoração pública violam o artigo nove da Lei de Direitos Humanos, que protege a liberdade dos cristãos de praticar em público sua religião ou crenças, e também seu ensino e sua observância comunitárias.
Eles também reclamaram que o regulamento permite que os locais de culto funcionem para fins seculares, como para a entrega de alimentos a pessoas carentes, e que, por isso, a lei seria autocontraditória.
Para Andrea Williams, CEO da Christian Concern, o governo se excede com essas leis que proíbem o culto: “eu não acredito que o governo tem autoridade para dizer à igreja de Jesus Cristo que não pode se reunir para adoração. Eles não forneceram nenhuma evidência, eles apenas nos classificaram como não essenciais. Mas acreditamos que a adoração é a coisa mais essencial na vida”, disse ao Observer.
Para o Natal, contudo, o governo planeja medidas um pouco mais leves entre 23 e 27 de dezembro. Até três famílias poderão se reunir dentro de casa, em espaços públicos ao ar livre e em locais de culto. No entanto, eles não poderão se reunir em bares ou outros ambientes semelhantes.