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Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista (à esq.), e o primeiro-ministro Boris Johnson, líder do Partido Conservador, votam nas eleições gerais do Reino Unido, 12 de dezembro de 2019
Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista (à esq.), e o primeiro-ministro Boris Johnson, líder do Partido Conservador, votam nas eleições gerais do Reino Unido, 12 de dezembro de 2019| Foto: Daniel LEAL-OLIVAS / AFP

As pesquisas de boca de urna indicam vitória com folga do Partido Conservador, liderado por Boris Johnson, nas eleições gerais do Reino Unido, por uma vantagem de 86 assentos no Parlamento em relação ao Partido Trabalhista, segundo a imprensa britânica. Se os resultados das pesquisas de boca de urna forem confirmados, os conservadores devem conquistar 368 assentos (51 mais do que em 2017), e o Partido Trabalhista, 191 (71 menos do que em 2017). O número mínimo de assentos que garante maioria no Parlamento é de 326.

Se as projeções se confirmarem quando o resultado oficial for anunciado, essa será a maior vitória do Partido Conservador desde os dias de Margaret Thatcher, enquanto o desempenho de Jeremy Corbyn terá sido o pior do Partido Trabalhista em mais de 40 anos.

O Partido Nacional Escocês (SNP na sigla em inglês), pró separatista do Reino Unido, veio em terceiro lugar, com 55 cadeiras, seguido do Liberal Democrata (LD) em quarto, com 13 assentos.

Os britânicos foram às urnas nesta quinta-feira (12) para as eleições apontadas como as "mais importantes em uma geração", que definirá o Parlamento que deve apresentar uma resposta à questão mais complexa na história recente do país - o Brexit.

Os locais de votação abriram as portas às 7h (4h em Brasília) e foram fechados às 22h (19h em Brasília), quando foram divulgadas as pesquisas de boca de urna.

Segundo o jornal britânico The Guardian, as pesquisas de boca de urna são feitas desde 1974 no país e têm sido bastante confiáveis nos últimos anos. Os britânicos terão que esperar mais algumas horas para saber se os resultados confirmam as projeções da boca de urna. Nas últimas quatro eleições, elas previram em duas ocasiões o tamanho da maioria com 100% de precisão, em uma ocasião com erro de quatro assentos, e uma vez errou por 22 assentos (em 2015).

O levantamento é feito com cerca de 20 mil eleitores em 144 locais de votação criteriosamente escolhidos. Os entrevistadores contam quantos eleitores votaram, e perguntam a uma parte deles em qual partido eles votaram.

Longas filas

Nas redes sociais, internautas relatam longas filas nos locais de votação, algo que, segundo eles, não é comum no Reino Unido pois o ato do voto costuma ser rápido. O cenário pode indicar que um número de eleitores acima do esperado tenha comparecido. Em vários pontos do país havia uma demora de mais de 30 minutos de espera, de acordo com o jornal The Guardian.

Contudo, com as particularidades do sistema eleitoral britânico, será necessário esperar até a madrugada de sexta-feira (13) para conhecer um resultado oficial claro, especialmente se a disputa for muito acirrada.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, depositou seu voto às 8h15 (5h15 em Brasília) no distrito de Westminster, centro de Londres. Ele levou seu cachorro Dilyn ao local de votação. O candidato trabalhista Jeremy Corbyn votou no fim da manhã em Islington, norte da capital britânica, onde tirou fotos e conversou com eleitores.

  • Policiais ao lado de ativista Bobby Smith e uma pessoa fantasiada de "Elmo", em frente ao local de votação de Jeremy corbyn, Londres
  • O primeiro-ministro Boris Johnson e seu cão Dilyn deixam local de votação, em Londres
  • Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, e sua esposa deixam local de votação, em Londres
  • Cachorro espera seu dono votar no norte de Londres
  • Freiras saem de local de votação em Londres
  • Policiais ao lado de manifestante fantasiado como "Elmo", em frente a local de votação enquanto Jeremy corbyn votava, em Londres
  • Caroline Lucas, membro do Parlamento pelo Partido Verde, chega a local de votação em Brighton
  • Eleitor entra em local de votação em Brighton and Hove, sudeste da Inglaterra
  • Vice-presidente do Sinn Fein, da Irlanda do Norte, Michelle O'Neill vota em Belfast

Incerteza

Durante as cinco semanas de campanha, as pesquisas apontaram a liderança do Partido Conservador, do premiê Johnson. Mas a última sondagem do instituto YouGov, considerada a mais confiável, mostrou que todas as possibilidades continuam abertas. Os conservadores podem obter seu melhor resultado desde 1987 com Margaret Thatcher ou o país pode voltar a um cenário de Parlamento fragmentado e um eventual governo de coalizão pró-Europa.

"Há muita volatilidade entre o eleitorado e isto deixa as coisas mais incertas do que nunca", disse Chris Curtis, diretor do YouGov.

Decisão arriscada

No poder desde julho, mas sem maioria absoluta, Johnson arriscou convocar eleições antecipadas em dezembro - mês considerado pouco propício para atrair os britânicos às urnas em razão do frio - com a esperança de obter uma hegemonia que permita cumprir a promessa de retirar o país da União Europeia (UE) no dia 31 de janeiro.

"Quero concretizar o Brexit. Quero me concentrar em suas prioridades. Quero abrir o caminho para o potencial deste país", disse aos eleitores o ex-chanceler e ex-prefeito de Londres, de 55 anos. "Hoje é a oportunidade de nos unirmos como país e deixar a incerteza de lado para que as pessoas possam seguir com suas vidas."

Brexit adiado três vezes

Decidido por plebiscito com 52% de votos em 2016, o Brexit, inicialmente previsto para março de 2019, foi adiado em três oportunidades pela rejeição do Parlamento ao acordo de divórcio negociado com Bruxelas.

O tema monopoliza a política britânica há mais de três anos, provoca angústia em muitos britânicos e divide a sociedade.

Se chegar ao poder, Corbyn promete negociar um novo acordo para manter relações comerciais estreitas entre o Reino Unido e a UE. Além disso, ele afirma que submeterá o texto a um novo plebiscito, com a possibilidade de simplesmente anular o Brexit.

Johnson afirmou em novembro e todos repetem desde então: estas são as eleições "mais importantes em uma geração".

Quem são os principais candidatos

A escolha está entre dois líderes impopulares que ocupam os extremos do espectro político: o atual primeiro-ministro conservador, Boris Johnson, e o trabalhista Jeremy Corbyn. O vencedor terá pela frente o desafio de conter a onda separatista na Escócia e evitar que a Irlanda do Norte se renda ao projeto de unificação irlandês.

Corbyn é um ex-sindicalista septuagenário que culpa a União Europeia pelas desigualdades sociais e promete combater medidas de austeridade com políticas distributivas radicais. Defensor da causa palestina, não consegue se livrar da aura antissemita criada dentro do Partido Trabalhista. De acordo com pesquisa do instituto YouGov, publicada na semana passada, apenas 22% dos britânicos aprovam sua atuação como líder da oposição - 69% desaprovam.

Já o atual premiê é um falastrão. Conhecido por contar mentiras de vários calibres, ele foi demitido do jornal The Times por ter inventado uma citação em um artigo sobre o rei Eduardo II. Durante a campanha pelo Brexit, em 2016, ele circulou pelo país com um ônibus que trazia pintada a afirmação de que o Reino Unido enviava à UE 350 milhões de libras (quase R$ 2 bilhões) por semana - mesmo após o governo britânico ter negado a cifra.

Mesmo assim, Johnson é favorito na eleição de hoje, ainda que não seja um político admirado. Segundo a mesma sondagem do YouGov, 38% dos britânicos aprovam o premiê, enquanto 51% desaprovam. Mas, diante do confronto direto, o conservador leva vantagem sobre Corbyn, que ganha a competição de impopularidade.

Segundo a média de pesquisas compiladas pela BBC, o Partido Conservador, de Johnson, terá cerca de 43% dos votos. Os trabalhistas, chefiados por Corbyn, ficariam com aproximadamente 33%. Os liberal-democratas aparecem em um distante terceiro lugar, com 13%.

Apesar da variação dos números, Johnson esteve à frente em todas as pesquisas, desde o início da campanha. Da mesma forma, as últimas sondagens mostram que a vantagem do premiê vem diminuindo. O maior problema, no entanto, é traduzir a vantagem de votos em número de deputados, já que a eleição britânica é indireta, decidida no Parlamento.

Na prática, são 650 pequenas eleições em cada um dos distritos eleitorais, de onde saem os deputados eleitos para a Câmara dos Comuns. Isso explica a estimativa de que Johnson obtenha entre 311 e 367 cadeiras, o que poderia dar ao Partido Conservador a maioria - mesmo conquistando menos da metade dos votos.

Desafios

Além de conduzir o país pela turbulência do Brexit, o próximo premiê enfrentará ainda o desafio de manter o Reino Unido intacto. O Brexit foi aprovado em plebiscito por 52% a 48%, em 2016. Na Escócia, porém, o resultado foi outro: 62% votaram para permanecer na UE e apenas 38% optaram por sair. Os escoceses, portanto, teriam de deixar o bloco contra sua vontade, o que aumentou as chances de um novo referendo sobre a independência.

Em 2014, os escoceses realizaram um plebiscito sobre o assunto. Os políticos ingleses e o governo de Londres mergulharam na campanha contra a independência, argumentando que, com a separação, a Escócia deixaria também a UE e não seria economicamente viável.

No fim, a maioria dos escoceses aceitou a alegação e preferiu manter a união britânica - 55% a 45%. Por isso, dois anos depois quando os ingleses votaram em favor do Brexit, muitos na Escócia se sentiram enganados e passaram a defender um novo plebiscito.

Nicola Sturgeon, primeira-ministra e líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), que deve eleger hoje mais de 50 deputados, vem insistindo que uma nova votação seja marcada em 2020 - uma catástrofe econômica, causada pelo Brexit, poderia mudar facilmente o resultado. "A independência é a única forma de evitar que Londres imponha uma política aos escoceses", disse.

Outro problema é a Irlanda do Norte. Após 30 anos de violência entre católicos e protestantes, que deixou mais de 3 mil mortos, o território foi finalmente pacificado pelo Acordo de Sexta-Feira Santa, de 1998, pelo qual os britânicos concordaram em desmontar os postos de checagem na fronteira.

Sob as regras do mercado comum europeu, as economias das duas Irlandas se tornaram dependentes e integradas. Hoje, ninguém mais aceita a volta da fronteira física entre os dois territórios, o que significa, na prática, uma Irlanda unificada.

Para a nova geração, que não viveu o período turbulento entre 1968 e 1998, a divisão já não faz tanto sentido. Em setembro, uma pesquisa do instituto Deltapoll apontou que 52% dos norte-irlandeses - a maioria jovens - apoiam a unificação, enquanto 39% ainda querem ser parte do Reino Unido.

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