O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apresentou na semana passada um novo plano aos americanos em uma sessão conjunta do Congresso: mais gastos.
O recém-lançado plano de US$ 1,8 trilhão, apresentado apenas algumas semanas depois de Biden ter assinado a lei do pacote de US$ 1,9 trilhão em gastos com alívio da pandemia de Covid-19, inclui faculdade comunitária "gratuita", bem como pré-escola universal para todas as crianças de três e quatro anos de idade.
"O presidente Biden deve inaugurar uma nova era que expande substancialmente o tamanho e o papel do governo federal", relatou o New York Times.
Quanto de dívida é suportável?
O anúncio veio meses após o Escritório de Orçamento do Congresso ter divulgado um relatório que projeta um déficit de US$ 2,3 trilhões em 2021.
O plano de Biden quase certamente tornará o déficit pior. Embora o plano contenha vários aumentos de impostos para financiar seus programas, os impostos provavelmente ficarão bem aquém dos gastos do governo, dizem economistas.
"As leis da economia são mais rígidas do que as leis do governo federal, e esses aumentos de impostos não devem render os lucros que Biden espera", disse Joshua Jahani, diretor-gerente da Jahani and Associates, em artigo recente da NBC News.
Como resultado, a dívida nacional de US$ 28,2 trilhões irá inchar ainda mais rápido. Pior ainda, quando passivos não financiados são incluídos no balanço patrimonial, como as empresas privadas são legalmente obrigadas a fazer, a dívida ultrapassa US$ 120 trilhões.
Ainda não está claro qual é o risco representado por essas obrigações.
Há uma escola de pensamento que sugere que essas dívidas não representam um risco sério. Afinal, em teoria, um governo pode rolar sua dívida indefinidamente. No entanto, em um artigo recente para o Federal Reserve Bank de St. Louis, o economista David Andolfatto observou que, em última análise, não é o governo quem decide quanto de dívida é suportável. Mas sim, o mercado.
"Presume-se que haja um limite para o quanto o mercado está disposto ou é capaz de absorver na forma de títulos do Tesouro, para um determinado nível de preço (ou taxa de inflação) e uma determinada estrutura de taxas de juros", escreveu Andolfatto. "No entanto, ninguém sabe realmente o quão alto a relação dívida / PIB pode chegar. Só poderemos saber quando chegarmos lá."
Um nível de dívida perigoso?
Andolfatto tem razão ao dizer que ninguém sabe ao certo o ponto de inflexão da dívida. Mas é importante notar que a relação dívida / PIB dos EUA – essencialmente a dívida de um país em comparação com sua produção econômica anual – estava em 129% no final de 2020. Em outras palavras, a dívida oficial dos EUA era quase um terço maior do que toda a economia dos EUA.
Isso é consideravelmente maior do que a proporção da dívida em relação ao PIB da Grécia em 2010, quando o país recebeu um resgate do Fundo Monetário Internacional para evitar o inadimplemento de suas obrigações.
Os Estados Unidos não são a Grécia, é claro. O país norte-americano tem potencial econômico muito maior e está operando sob uma moeda que controla. Mas não há como negar que os EUA estão em território desconhecido. Hoje, a relação dívida / PIB do governo federal americano é maior do que era no final da Segunda Guerra Mundial, quando a nação reuniu um dos maiores exércitos que o mundo já viu. Um ponto que talvez seja ainda pior, o governo está acumulando dívidas mais rápido do que nunca.
No final, como observa Andolfatto, o mercado pode muito bem decidir que basta, e a demanda por títulos do Tesouro vai secar. De fato, essa é provavelmente uma das razões pelas quais as criptomoedas estão prosperando repentinamente.
Em um piscar de olhos, as criptomoedas deixaram de ser discutidas nos cantos dos fóruns do Reddit e nos salões das universidades para se tornarem um mercado de mais de US$ 2 trilhões. Não é exagero dizer que as criptomoedas agora são populares; elas estão sendo devoradas por fundos de hedge e atletas famosos que assinam contratos bilionários.
E não é difícil ver por quê. O mercado está fazendo hedge. Como ratos em um navio que afunda, muitos estão de olho em uma saída, sentindo que o dias de glória do dólar podem finalmente estar chegando ao fim, pois seu valor é corroído pela injeção em massa.
Ignorando a história?
Em um artigo popular de 2016, o autor Richard Ebeling explorou como os planejadores centrais na Roma antiga destruíram a economia.
Muito do que Ebeling descreve – dívida, gastos maciços, inflação e destruição por controles de preços – soam estranhamente familiares aos ouvidos modernos. E Ebeling explora naturalmente o antigo enigma: por que Roma caiu?
Por séculos, como qualquer fã de história sabe, pensadores, de Edward Gibbon a Peter Heather, fizeram essa pergunta. As respostas variam. Alguns culpam os bárbaros, outros a imigração. Alguns alegaram que a culpa foi do cristianismo, enquanto outros apontam para doenças ou enfraquecimento das legiões romanas.
Todas essas teorias são interessantes e dignas de análise, mas eu não encontrei nenhuma explicação melhor do que aquela oferecida pelo economista Ludwig von Mises, que concluiu que a decadência de Roma resultou de sua rejeição ao individualismo e ao livre mercado.
"A maravilhosa civilização da antiguidade pereceu porque não ajustou seu código moral e seu sistema legal aos requisitos da economia de mercado", escreveu Mises.
Ele continuou:
"Uma ordem social está condenada se as ações que seu funcionamento normal exige são rejeitadas pelos padrões de moralidade, são declaradas ilegais pelas leis do país e são processadas como criminosas pelos tribunais e pela polícia.
O Império Romano se desintegrou porque faltou o espírito do liberalismo [clássico] e da livre iniciativa. A política de intervencionismo e seu corolário político, o princípio do Fuhrer, fizeram decompor o poderoso império, pois eles necessariamente sempre desintegrarão e destruirão qualquer entidade social."
O presidente e estadista norte-americano John Adams supostamente disse certa vez que há duas maneiras de destruir as nações.
"Uma é pela espada e a outra é por dívidas", disse Adams. (Embora a citação seja amplamente atribuída a Adams, ela não é confirmada por documentação escrita.)
Não há dúvida de que a dívida é um problema sério. (Pergunte aos antigos romanos e aos gregos modernos.) Mas se Mises estiver correto, a explosão da dívida pode ser apenas um sintoma de um problema muito maior: o colapso do espírito de liberdade e o crescimento de um sistema hostil à livre iniciativa.
Devemos aprender com uma coisa que temos que os romanos não tinham: o seu exemplo fatídico.
©2021 FEE - Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês
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