Foi um "bromance", nas palavras do jornal The New York Times. Eram "a Bela e a Fera", para o comediante Trevor Noah. Entre abraços, afagos e toques, muitos toques, os presidentes Donald Trump e Emmanuel Macron demonstraram um novo nível de intimidade durante a primeira visita de Estado no governo do republicano, que recebeu o francês por três dias em Washington.
A dúvida é se essa proximidade indica, de fato, um alinhamento político ou se faz parte de um jogo de poder.
Trump cumprimentou Macron trocando dois beijos no rosto, uma tradição francesa. Carregou o colega de mãos dadas pelos corredores. Ajeitou o terno do francês na altura do ombro esquerdo, retirando o que disse ser um "pedacinho de caspa" para "deixá-lo perfeito".
"Ele é perfeito", afirmou o americano. E o puxou para numerosos apertos de mão que viravam abraços desajeitados.
Macron retribuiu com repetidos tapinhas nas costas, apertando de leve o braço ou os ombros do republicano. A certa altura, tocou o joelho direito do presidente, ao agradecer pela "maravilhosa relação pessoal" entre os dois.
Em discursos, os dois louvaram a "profunda e intensa" relação entre os EUA e a França, e brindaram à sua "inquebrável amizade".
Mas, para especialistas, mais do que proximidade, a luta corporal indica uma disputa política, numa relação que já foi marcada pela troca de farpas. Afinal, os dois líderes mantêm discordâncias centrais em relação ao pacto nuclear com o Irã, por exemplo, ou ao acordo do clima de Paris, do qual Trump anunciou a retirada.
"É mais uma dominância brincalhona. O romance está lá, e eles parecem estar brincando, mas isso [a disputa] é real", afirmou o diretor do Centro de Estudos Não-Verbais, David Givens, ao jornal Washington Post.
‘Encantador de Trump’
Macron, apelidado na Europa como o "encantador de Trump", quer se tornar o aliado mais próximo dos EUA na Europa. Sua estratégia parece ser dobrar o presidente pela adulação -e pela negociação.
"É um cálculo lógico, baseado no simples fato de que os EUA são o país mais poderoso no mundo", diz Benjamin Haddad, pesquisador do Hudson Institute. "Tapinhas nas costas e demorados apertos de mão não são um grande sacrifício a essa altura."
Segundo o governo francês, os dois líderes se encontraram pessoalmente em seis ocasiões e falaram ao telefone por volta de 20 vezes desde que assumiram seus cargos.
A França também participou do recente ataque à Síria, neste mês, em represália ao uso de armas químicas pelo governo de Bashar al-Assad, e informou que é uma aliada dos americanos na luta contra o terrorismo e pela liberdade.
Nesta terça (24), o francês declarou estar disposto a negociar um novo acordo para o Irã, ainda que continue a defender o atual pacto, duramente criticado por Trump. O americano pareceu gostar da concessão, e disse: "Eu gosto muito dele".
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"Eu pude conhecer você, você pode conhecer a mim. Nós dois sabemos que nenhum de nós muda facilmente de opinião, mas vamos trabalhar juntos, e temos essa habilidade de ouvir um ao outro", discursou Macron, durante o pomposo jantar de Estado na Casa Branca, na noite de terça.
"Que a nossa amizade cresça mais profundamente, que nosso relacionamento se torne ainda mais forte e que nossa sagrada liberdade nunca morra", respondeu Trump, ao brindar a aliança entre EUA.