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Igreja Católica

Relatório que acusa Bento XVI de omissão em casos de abuso foi tratado com sensacionalismo, diz colunista

O papa Bento XVI em foto de 2011: imprensa fez sensacionalismo sobre casos que já tinham sido esclarecidos anos atrás. (Foto: Claudio Peri/EPA)

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O papa emérito Bento XVI negou, por meio de seu secretário, o arcebispo Georg Gänswein, que tivesse conhecimento de casos de abuso cometidos no Chile por padres membros dos Legionários de Cristo quando ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que Joseph Ratzinger ocupou entre 1982 e 2013. Gänswein fez as declarações ao jornal alemão Die Zeit, o mesmo que havia divulgado as acusações, feitas pelo cineasta Christoph Röhl, e que também publicou trechos de um relatório sobre abusos sexuais cometidos na arquidiocese de Munique-Freising, antes que ele fosse oficialmente divulgado.

Escrevendo para a agência católica de notícias Zenit, o colunista e filósofo Jorge Enrique Mújica criticou algumas inconsistências e o sensacionalismo feito em torno do relatório (leia aqui a versão integral, em alemão), elaborado pelo escritório de advogados Westphal Spilker Wastl. A investigação cobre um período que vai de 1945 a 2019, no qual a arquidiocese de Munique-Freising teve seis arcebispos diferentes – Ratzinger ocupou o posto entre 1977 e 1982. Mújica lembra que, no total, o relatório menciona abusos cometidos contra 497 vítimas por 235 abusadores (dos quais 173 eram padres e nove eram diáconos). No período em que Ratzinger foi arcebispo, a investigação encontrou quatro casos de abuso; Mújica critica o fato de o relatório atribuir a Ratzinger “alguma responsabilidade” na condução dos casos, mas sem explicar ao certo que responsabilidade era essa.

Além disso, o colunista da Zenit ainda apontou o fato de o relatório alemão incluir também a atuação de Ratzinger enquanto era cardeal-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e não apenas durante sua passagem pela arquidiocese. Ainda que se argumente que nenhum outro arcebispo de Munique tenha chegado a esse posto, Mújica afirma que o procedimento extrapolou claramente a requisição da arquidiocese, que encomendou o documento ao escritório Westphal Spilker Wastl com o objetivo de investigar como os sucessivos arcebispos haviam lidado com as denúncias de abuso. “Não está claro como o escritório tomou essa decisão: se simplesmente resolveu extrapolar suas competências ou se alguém – e quem – pediu que o fizesse intencionalmente”, diz.

Mújica ainda criticou o sensacionalismo de setores da imprensa que não apenas omitiram o fato de Bento XVI ter enviado uma resposta às acusações, incluída no relatório e que ocupa 85 páginas do documento, mas também requentaram acusações que já haviam sido esclarecidas há muitos anos. O colunista menciona especialmente o caso de um padre acusado de abusos, transferido da diocese de Essen para a arquidiocese de Munique em 1980, quando Ratzinger era arcebispo. No entanto, o padre Peter Hullermann só recebeu autorização para viver no território da arquidiocese para receber tratamento, e seria obrigado a viver em uma residência para sacerdotes. Quando Hullermann foi liberado para atuar em uma paróquia, a decisão veio do vigário-geral da arquidiocese, quando Ratzinger já havia deixado Munique para assumir seu posto em Roma. Todas essas informações já eram conhecidas desde 2010, afirma o colunista.

A realidade, afirma Mújica, é que Bento XVI agiu com dureza em relação aos abusos. Ainda cardeal, foi o responsável pelo início da investigação sobre os Legionários de Cristo e os abusos cometidos por seu fundador, Marcial Maciel; em 2006, Maciel foi proibido de exercer publicamente o ministério sacerdotal e obrigado a viver uma vida de “oração e penitência”. O colunista conclui: “o relatório foi possível porque a própria Igreja o solicitou e financiou. Este aspecto não é superficial: é a mesma Igreja que, desde o papado de Bento XVI, colocou em andamento um trabalho de tolerância zero contra padres abusadores, com o endurecimento de medidas, processos e punições, trabalho que reforçou o de João Paulo II e que Francisco continuou”.

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