O governador da ONU em Kosovo considera que a província obteve avanços reais rumo às metas estabelecidas pela comunidade internacional, numa declaração que deixa a maioria albanesa mais perto da independência em relação a Sérvia e Montenegro, que pode ocorrer ainda neste ano.
A avaliação positiva aparece em um relatório do diplomata dinamarquês Soren Jessen-Petersen a ser apresentado no final de junho ao Conselho de Segurança da ONU. A Reuters teve acesso ao texto nesta quinta-feira.
A ONU governa a província do sul da Sérvia desde 1999, quando a Otan bombardeou Belgrado para conter uma campanha de limpeza étnica da então Iugoslávia na província.
O relatório diz que a liderança albanesa revitalizou os esforços para melhorar a vida dos sérvios e de outras minorias da província e criar uma democracia que funcione.
Graças a isso, segundo o texto, "é possível discernir progressos" no cumprimento das orientações internacionais.
Se as instituições provisórias "mantiverem seu atual nível de compromisso, devemos testemunhar novos fatos substanciais nos próximos meses", diz o diplomata.
Num sinal de que os albaneses de Kosovo se sentem cada vez mais perto da independência, líderes regionais pediram a uma delegação da Otan que possam formar sua própria força de defesa. Não houve resposta imediata da Otan, que, assim como a ONU, evita tratar da questão do futuro Exército kosovar.
As negociações diretas entre a Sérvia e os albaneses de Kosovo começaram em fevereiro em Viena. O mediador da ONU, Martti Ahtisaari, espera concluir a discussão preliminar de questões técnicas, como direitos das minorias, até julho.
Entretanto, Belgrado não dá sinais de que vai aceitar a independência de Kosovo. Há especulações de que o governo sérvio declararia Kosovo "território ocupado" caso a autonomia seja imposta pelas potências mundiais, algo que pode criar nos Bálcãs uma divisão semelhante à verificada na ilha de Chipre entre gregos e turcos.
Diplomatas dizem que o Ocidente pressionará por alguma forma de independência, sob supervisão da União Européia e da Otan, dentro de um ano.
Eles temem, porém, pelo futuro dos sérvios de Kosovo, que agora vivem em guetos e esporadicamente são vítimas da violência. Cerca de metade da população sérvia fugiu da província desde a guerra.
Dados policiais citados no relatório sugerem que os crimes com motivação étnica diminuíram desde 2005.
"A melhora no quadro foi ofuscada por um pequeno número de casos célebres, e (...) membros das comunidades minoritárias continuam manifestando temores sobre sua liberdade de movimentos", diz o relatório.
O ex-primeiro-ministro kosovar Bajram Kosumi renunciou em março, devido a críticas internacionais sobre o desempenho do seu governo no cumprimento dos objetivos exigidos pelas potências mundiais.
Ceku, seu sucessor, pressiona pela criação de uma força militar local - idéia considerada ultrajante pela Sérvia.
- Contamos com apoio das forças da Otan para a criação de uma força de defesa de Kosovo que contribua para a estabilidade interna e regional - disse ele, em nota, após reunião com o secretário-geral da aliança ocidental, Jaap de Hoop Scheffer.
O máximo que Kosovo tem em termos de força de defesa é o Corpo de Proteção, uma força civil formada por ex-integrantes da guerrilha Exército de Libertação de Kosovo.