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O último relatório apresentado pela ONU, por meio da Missão Internacional Independente de Determinação dos Fatos sobre a Venezuela, denunciou que o regime de Nicolás Maduro intensificou a tortura nas prisões e delegacias do país, principalmente após as eleições de julho, denunciadas por fraude.
De acordo com os investigadores, os métodos de tortura já era usados contra os prisioneiros, contudo houve um aumento dos casos no período pós-eleitoral, quando cerca de 2 mil pessoas foram presas por participação em protestos contra a ditadura, inclusive menores de idade, que estão entre os torturados.
Alguns dos métodos mencionados no relatório estão socos, choques elétricos, inclusive nos genitais, asfixia com sacos de plástico, imersão em água fria e privação do sono durante 24 horas.
De acordo com advogados que atuam em ongs de defesa dos direitos humanos no país, a principal prova de que a população civil está sofrendo mais repressão do regime chavista são as denúncias de detenção de adolescentes desde os protestos iniciados em julho.
O presidente do Foro Penal, Alfredo Romero, afirmou que a ong recebeu diversos relatos de torturas, "mas ainda não foram feitas denúncias, porque as pessoas têm medo".
Nesta etapa de violência sistemática do regime de Maduro, segundo Romero, ganha destaque o isolamento dos presos. “Isso torna ainda mais difícil saber o que está acontecendo dentro das prisões”.
As primeiras denúncias nesse sentido foram divulgadas por mães de adolescentes que tiveram algum contato com suas famílias ou que foram libertados. Uma delas é Theany Urbina, cujo filho, Miguel Urbina, foi detido em 2 de agosto e enfrenta uma acusação por "terrorismo".
Em entrevistas a jornais venezuelanos, ela afirmou que alguns rapazes detidos pelo regime relataram que sofreram choques elétricos nas prisões. Ela contou ainda que “tem uma coisa que chamam de ‘capuz de cebolinha’, que é quando colocam a cabeça de uma pessoa dentro de um saco plástico com gás lacrimogêneo”.
Segundo Urbina, as torturas contra seu filho foram aplicadas para obrigá-lo a gravar um vídeo admitindo as acusações feitas pela ditadura.
O relatório da missão da ONU expõe que os atos de violência são realizados por agentes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) e pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin). Os casos são denunciados tanto em prisões quanto em delegacias do país, em diferentes estados.
O documento cita o caso de um líder estudantil, identificado como John Álvarez, que foi preso em 30 de agosto. "[...] no mesmo dia de sua prisão, foi transferido para uma delegacia de polícia em Caracas, onde foi submetido a tortura física e sexual. Álvarez recebeu golpes e choques elétricos nos órgãos genitais e em outras partes do corpo para forçá-lo a admitir envolvimento de vários dirigentes sindicais, políticos e jornalistas em atos ilegais. Em consequência das torturas a que foi submetido, Álvarez sofre agora com consequências físicas", afirma o documento.
A investigação da Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre a Venezuela apresentou nesta sexta-feira ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas o seu mais recente relatório. Ao todo, foi denunciada a detenção de 158 menores de idade no âmbito dos protestos contra a fraude eleitoral de Nicolás Maduro.