A morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi foi uma assassinato extrajudicial pelo qual o Reino da Arábia Saudita é responsável, afirma Agnes Callamard, relatora do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em um relatório de 101 páginas publicado nesta quarta-feira (19).
Segundo sua investigação, embora não haja uma prova conclusiva que possa incriminá-lo, o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman (MBS) teria desempenhado um papel essencial em uma campanha de repressão a dissidentes e provavelmente sabia que uma missão criminosa visando Khashoggi estava sendo planejada, já que a operação exigiu uma coordenação governamental significativa, recursos e finanças.
Ahmed Asiri, ex-vice-chefe de inteligência da Arábia Saudita, é o único oficial de alto escalão que está sendo julgado pela morte do jornalista.
Até agora, os Estados Unidos evitaram atribuir culpas, dizendo que ainda estão avaliando os detalhes do caso.
Vídeo: entenda o caso Khashoggi
O áudio da morte de Kashoggi
O relatório de Callamard forneceu novos e terríveis detalhes sobre a morte de Khashoggi, contidos em uma fita de áudio de seu assassinato, fornecida pelas autoridades turcas.
Em 2 de outubro, 13 minutos antes de Khashoggi entrar no consulado, dois dos agentes sauditas, Maher Mutreb e Dr. Salah Tubaigy, um perito forense, discutiram a desmembração do corpo.
"As juntas serão separadas", disse Tubaigy ao Mutreb. “Se pegarmos sacolas plásticas e cortá-las em pedaços, estará pronto”. O nome de Khashoggi não foi mencionado. Mutreb falava em “animal sacrificial".
Depois que Khashoggi chegou ao consulado saudita, ele foi convidado para o escritório do cônsul geral. O áudio sugere que os agentes tentaram fazer o jornalista acreditar que ele seria sequestrado, não morto. Usando o pretexto de um mandado da Interpol, disseram que estavam lá para levá-lo de volta ao reino.
Khashoggi insistiu que pessoas estavam esperando por ele do lado de fora, enquanto um dos agentes tentava convencê-lo a enviar uma mensagem para seu filho. "O que devo dizer?", perguntou Khashoggi. "Te vejo em breve? Eu não posso dizer sequestro".
"Digite sr. Jamal", respondeu um dos agentes. "Se apresse. Ajude-nos para que possamos ajudá-lo, porque no final nós o levaremos de volta à Arábia Saudita e, se você não nos ajudar, saberá o que acontecerá no final”.
Neste momento, o jornalista notaria que havia uma toalha no local. "Vocês me darão drogas?", perguntou. "Vamos te anestesiar", responderam.
O que se segue, segundo o relatório, é o som de uma luta.
Callamard conclui então que Khashoggi foi "vítima de um assassinato brutal e premeditado, planejado e perpetrado por funcionários do Estado da Arábia Saudita". Ela também afirmou que a Arábia Saudita havia "seriamente reduzido e minado" as tentativas da Turquia para investigar o caso.
Khashoggi foi morto no dia 2 de outubro por uma equipe de agentes sauditas que o esperavam no consulado saudita em Istambul quando ele foi buscar alguns documentos para seu iminente segundo casamento.