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O príncipe Mohammed bin Salman, herdeiro da Coroa saudita, em foto de outubro de 2018
O príncipe Mohammed bin Salman, herdeiro da Coroa saudita, em foto de outubro de 2018| Foto: Fayez Nureldine / AFP

O príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, aprovou o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, segundo um relatório dos serviços de inteligência dos Estados Unidos vazado à imprensa.

Jornais americanos noticiaram que o governo dos EUA deve publicar nesta quinta-feira, 25, o relatório que se baseia principalmente nas investigações da Agência Central de Inteligência (CIA).

"A divulgação pública (do relatório) marcará um novo capítulo nas relações de EUA e Arábia Saudita, e uma clara diferença entre a política do presidente Joe Biden e a do ex-presidente Donald Trump", informou a emissora NBC, que disse ter obtido acesso ao relatório.

Biden, um democrata que sucedeu ao republicano Donald Trump cinco semanas atrás, disse a repórteres na quarta-feira, 24, que leu o relatório e esperava falar em breve por telefone com o rei da Arábia Saudita Salman bin Abdulaziz, de 85 anos, pai do príncipe herdeiro. A porta-voz da Casa Branca, Jane Psaki, afirmou que o governo de Biden comunicará as conclusões ao rei e não ao filho.

A divulgação do relatório faz parte da política de Biden para realinhar os laços com Riad, depois de anos em que o aliado árabe e grande produtor de petróleo recebeu dos EUA um passe livre sobre seu histórico de direitos humanos e sua intervenção na guerra civil do Iêmen.

Biden tem trabalhado para restaurar o relacionamento com Riad às linhas tradicionais, após quatro anos de laços mais próximos com o governo Trump.

Mas enquanto Biden restringe seus contatos ao rei, outros na administração do democrata estão conversando com autoridades sauditas em vários níveis. "Mantivemos contato com autoridades sauditas em diversos níveis nas primeiras semanas deste governo" disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

Assassinato na embaixada

Khashoggi, de 59 anos, trabalhava como colunista do jornal americano The Washington Post quando foi assassinado por agentes sauditas no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 2 de outubro de 2018. O corpo do jornalista foi esquartejado e nunca encontrado.

O governo saudita inicialmente negou qualquer responsabilidade no assassinato de Khashoggi, mas depois afirmou que o jornalista foi morto acidentalmente por agentes que buscavam extraditá-lo.

A versão oficial da Arábia Saudita é que esses agentes, vinculados ao príncipe, agiram por conta própria e que o governante não se envolveu.

Na Arábia Saudita, oito indivíduos foram condenados pelo caso e cinco deles foram sentenciados à pena de morte. Posteriormente, essas sentenças foram comutadas por penas de 20 anos de prisão.

Em 2019, uma investigadora de direitos humanos da ONU, Agnes Callamard, acusou a Arábia Saudita de uma "execução deliberada e premeditada" de Khashoggi e pediu mais investigação. "Há evidências confiáveis suficientes sobre a responsabilidade do príncipe herdeiro que exige mais investigações", disse Callamard após a investigação de seis meses.

Uma versão secreta do relatório foi compartilhada com membros do Congresso no fim de 2018. Mas a administração Trump rejeitou as exigências de legisladores e grupos de direitos humanos para divulgar uma versão não sigilosa, buscando preservar a cooperação em meio a tensões crescentes com o rival regional de Riad, o Irã, e promover a venda de armas dos EUA para o reino.

A nova diretora de Inteligência Nacional de Biden, Avril Haines, comprometeu-se em sua audiência de confirmação a cumprir uma cláusula em um projeto de defesa de 2019 que exigia que o Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional divulgasse dentro de 30 dias um relatório não sigiloso sobre o assassinato de Khashoggi.

Biden se comprometeu durante a campanha presidencial de 2020 a reavaliar os laços EUA-Arábia Saudita. Desde que assumiu o cargo ele encerrou as vendas de armas ofensivas que Riad poderia usar no Iêmen e nomeou um enviado especial para impulsionar os esforços diplomáticos para encerrar a árdua guerra civil naquele país.

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