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Estados Unidos

Relatório mostra que investigadores lutaram contra tentativas de Trump para barrar processo

A conselheira do presidente Donald Trump fala com jornalistas em frente à Casa Branca após a divulgação do relatório do procurador especial Robert Mueller, 18 de abril, Washington (EUA). Foto: Brendan Smialowski / AFP (Foto: )

Relatório do procurador especial Robert Mueller sobre a influência da Rússia nas eleições americanas de 2016 indica que não houve conspiração da campanha de Donald Trump com o Kremlin, mas afirma que os investigadores lutaram contra investidas do presidente para tentar obstruir a Justiça e barrar as apurações.

Segundo versão editada do relatório entregue ao Congresso nesta quinta-feira (18) pelo secretário de Justiça dos EUA, William Barr, Trump tentou demitir Mueller ao longo do processo.

Antes disso, ao saber da nomeação do procurador para cuidar do caso, disse: "Meu Deus, isso é terrível. Esse é o fim da minha Presidência. Estou f***" – a reação é transcrita em nota pela equipe do antecessor de Barr, Jeff Sessions, demitido por Trump.

Esse é um dos dez episódios analisados por Mueller para tentar provar uma possível obstrução de Justiça por parte do presidente. Segundo o relatório, porém, não há evidências suficientes para acusar Trump de ter cometido o crime, apesar de não ser possível isentá-lo de tal prática.

"Não podemos chegar a esse julgamento [de obstrução de Justiça]. Por conseguinte, embora este relatório não conclua que o presidente tenha cometido um crime, também não o isenta", afirma o documento.

Outro ponto levantado por Mueller é a demissão do então diretor do FBI James Comey, que relutava em declarar publicamente que o presidente não estava pessoalmente sob investigação.

Obstrução de Justiça

O secretário de Justiça dos EUA, William Barr, afirmou nesta quinta-feira (18) que discorda de teorias jurídicas usadas pelo procurador especial Robert Mueller ao analisar se o presidente Donald Trump obstruiu a Justiça durante investigações sobre a influência da Rússia na eleição americana de 2016.

Segundo Barr, Mueller listou em seu relatório dez episódios que mostram autoridades policiais do país lutando para fazer avançar as investigações contra Trump e seus aliados. O secretário de Justiça, porém, diz que, na sua avaliação, esses fatos não constituíram obstrução "por uma questão de lei".

A declaração foi feita em entrevista coletiva pouco antes de Barr entregar ao Congresso uma versão editada do relatório de Mueller.

O conhecimento de detalhes da apuração deve inaugurar mais uma etapa da batalha política travada por Trump, já que integrantes do Partido Democrata e da equipe de Mueller acusam Barr de moderar as descobertas para proteger o presidente —por quem o secretário foi indicado ao cargo em fevereiro.

Barr usou pouco mais de 20 minutos com a imprensa para enfatizar que as apurações provaram que não houve conspiração da campanha de Trump com o governo russo na disputa de 2016.

"O relatório de Mueller não encontrou evidência de que americanos conspiraram junto a esse esquema ilegal", disse o secretário de Justiça.

Sem evidências de conspiração, mas sem isenção

Em março, Barr enviou carta ao Congresso com as principais conclusões da apuração de Mueller. Segundo ele, o procurador especial não encontrou evidências de que a campanha de Trump ou qualquer um de seus aliados tenha conspirado com a Rússia para interferir na eleição em que o republicano venceu Hillary Clinton.

Ao analisar a possível obstrução de Justiça, porém, Mueller indicou que a investigação não concluiu que o presidente cometeu crime, mas também não o isentou. Ele delegou a Barr a decisão final sobre o tema e o secretário afirmou que realmente não era possível afirmar que o presidente havia obstruído a Justiça —tese reforçada por ele na coletiva desta quinta.

A partir de agora, com o acesso aos detalhes, é justamente sobre esse aspecto que a oposição a Trump quer se debruçar.

Segundo pessoas familiarizadas com as investigações, o relatório de quase 400 páginas foi levemente editado —deixando de fora apenas informações consideradas sensíveis— e deve dar explicações mais detalhadas sobre o comportamento de Trump que levantou suspeitas sobre uma possível obstrução de Justiça.

As informações que Barr vai manter em sigilo nesta edição do relatório se enquadram em quatro categorias: material do júri; detalhes que podem prejudicar apurações em andamento — procuradores em Nova York ainda investigam as finanças de Trump e pagamentos que ele teria feito para esconder casos amorosos na época da eleição; dados que potencialmente comprometem fontes e métodos dos investigadores, incluindo informantes do FBI; e o que indevidamente viole a privacidade e a reputação dos envolvidos.

A expectativa em Washington é de que o relatório contenha material mais completo, por exemplo, sobre episódios como aqueles em que o presidente americano atacou Mueller e o FBI e demitiu o então secretário de Justiça Jeff Sessions para colocar em seu lugar uma pessoa considerada leal à Casa Branca.

Apesar disso, quem conhece as apurações não espera que haja qualquer fato novo que ameace a presidência de Trump.

Segundo o jornal The New York Times, as informações que vão chegar ao público a partir de agora não serão necessariamente novidade para Trump. Isso porque oficiais do Departamento de Justiça dos EUA tiveram várias conversas com integrantes da Casa Branca nos últimos dias para debater as conclusões do relatório.

As reuniões, afirmam fontes do governo, ajudaram a equipe jurídica do presidente a preparar respostas e a criar uma estratégia diante do relatório.

Na manhã desta quinta, Trump se manifestou via Twitter afirmando ser perseguido pela oposição e reproduzindo um meme com fonte inspirada no seriado "Game of Thrones":

No saldo final da investigação de Mueller, seis assessores do presidente foram indiciados ou condenados por crimes, a maioria por conspiração ou por mentir aos investigadores — mas o inquérito termina sem acusar nenhum americano de conspirar com a Rússia.

Aliados de Trump estavam bastante preocupados nas últimas semanas porque a versão redigida do relatório de Mueller iria deixar claro quais auxiliares colaboraram com as investigações, o quanto eles disseram e o quanto prejudicaram, com as informações que passaram, a imagem do presidente.

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