Washington - Integrantes do alto escalão do governo de George W. Bush aprovaram o uso de tortura em interrogatórios de suspeitos de terrorismo conduzidos por militares. A informação está em relatório do Senado dos EUA publicado na noite da última terça-feira e alimenta a pressão sobre o presidente Barack Obama para ordenar a investigação dos abusos cometidos por norte-americanos na chamada guerra ao terror.
O documento de 232 páginas é fruto de uma investigação de dois anos de práticas abusivas de detenção e interrogatório e foca só a conduta dos militares em prisões como Abu Ghraib (Iraque), Guantánamo (Cuba) e instalações no Afeganistão.
Interrogatórios conduzidos pela CIA que se tornou alvo de nova polêmica com a ordem de Obama, na semana passada, para quebrar o sigilo de memorandos da agência com detalhes das técnicas usadas contra os detentos não são abordados.
O relatório da Comissão de Serviços Armados do Senado conclui que os dirigentes deveriam ser responsabilizados pelos abusos e contraria expressamente a posição do ex-secretário da Defesa Donald Rumsfeld, para quem as infrações cometidas em Abu Ghraib eram casos isolados, protagonizados "por poucas maçãs podres".
"O relatório representa a condenação tanto da política de interrogatório do governo Bush quanto de quadros do primeiro escalão que tentaram culpar soldados de baixa patente", disse o democrata Carl Levin, presidente da comissão.
"Foram os líderes civis de primeiro escalão que deram o tom", afirmou ele, em alusão a Rumsfeld, o ex-vice-presidente Dick Cheney e o ex-secretário da Justiça Alberto Gonzales, entre outros.
O relatório apontou ainda que aquilo que o governo Bush chamava eufemisticamente de "técnicas duras de interrogatório" foi concebido a partir de um programa das Forças Armadas para capacitar militares para interrogatórios inimigos.
Criado na Guerra da Coreia (1950 53), o programa visava aplicar nos americanos métodos de interrogatório usados à época pelos comunistas a fim de torná-los mais resistentes.
O New York Times publicou que a adoção das práticas foi aprovada por dirigentes da CIA, assessores de Bush e por líderes dos dois partidos das comissões do Senado e Câmara sem muito debate.
Segundo esse relato, informações como o uso da simulação de afogamento ("waterboading") pela Inquisição e pelo regime de Pol Pot no Camboja (197579) não foram relatados. Memorandos de treinadores do programa militar que refutavam a eficiência do uso de tortura em interrogatórios tampouco foram abordados.
A despeito das acusações, o atual secretário da Justiça, Eric Holder, reiterou ontem que não processará funcionários da CIA que "de boa-fé" cumpriram ordens superiores nos interrogatórios. Mas, ressaltando que "ninguém está acima da lei", ele afirmou que "seguiremos as provas e a lei até onde elas nos levarem", em alusão aos mentores dessa política.
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