Estimulados principalmente pela guerra na Ucrânia e pelas tensões no leste asiático, os gastos militares em todo o mundo atingiram um novo recorde na pesquisa anual realizada pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), uma instituição sueca independente dedicada a estudos sobre conflitos e indústria armamentista.
Os números de 2022, divulgados na segunda-feira (24), indicaram que o gasto militar global aumentou 3,7% em termos reais em 2022 e chegou a US$ 2,24 trilhões, o maior já apontado na pesquisa do Sipri.
Os Estados Unidos, a China e a Rússia foram os três países do mundo que mais efetuaram despesas nessa área no ano passado – a soma dos gastos representou 56% do total mundial.
Americanos e chineses se mantiverem como líderes em gastos militares, com respectivamente US$ 877 bilhões e US$ 292 bilhões. A Rússia, que havia sido a quinta colocada em 2021, passou no ano passado para a terceira posição, com US$ 86,4 bilhões (alta de 9,2% em um ano), em razão da invasão que promoveu à Ucrânia em fevereiro de 2022.
No caso da China, que tem aumentado sua presença militar no Indo-Pacífico e as ameaças a Taiwan (ilha que considera uma província rebelde, a ser reincorporada até 2049), a alta de 4,2% nos gastos militares foi o 28º incremento anual consecutivo em despesas do país nesse setor.
Quanto aos Estados Unidos, embora o crescimento de 0,7% entre 2021 e 2022 pareça pouco em termos percentuais, os pesquisadores destacaram que a importância do país no gasto militar global (39% do total) faz com que uma pequena variação já tenha grande peso nos números mundiais.
“O aumento nos gastos militares dos Estados Unidos em 2022 foi amplamente devido ao nível sem precedentes de ajuda militar financeira fornecida à Ucrânia”, declarou Nan Tian, pesquisador sênior do Sipri, em comunicado do instituto.
A Índia e a Arábia Saudita completaram o grupo dos cinco países com maiores gastos militares em 2022, segundo o instituto sueco, com US$ 81,4 bilhões e US$ 75 bilhões, respectivamente.
O Brasil ficou em 17º lugar em despesas militares, com US$ 20,2 bilhões, redução de 7,9% em relação a 2021.
Europa e Japão
O continente onde houve maior aumento proporcional foi na Europa, onde as despesas nessa área cresceram 13%, em grande parte em razão dos maiores gastos da Rússia e da Ucrânia.
Os ucranianos gastaram US$ 44 bilhões na área militar em 2022, uma variação de 640% sobre 2021, o maior aumento anual já registrado por qualquer país na pesquisa do Sipri.
A participação dos gastos militares no PIB ucraniano atingiu 34%, enquanto no ano anterior essa proporção havia sido de 3,2%. O país passou do 36º lugar mundial em despesas militares para o 11º entre 2021 e 2022.
A agressão russa à Ucrânia também motivou outros países europeus a gastar mais nessa área. A variação na Finlândia foi de 36% e na Suécia, de 12% - após o início da guerra na Ucrânia, os dois países nórdicos, historicamente neutros, solicitaram entrada na OTAN, a aliança militar ocidental.
Os finlandeses entraram no grupo no início deste mês, enquanto a Suécia ainda precisa do aval da Turquia, que apresenta resistência porque alega que Estocolmo se negou a extraditar terroristas curdos.
No leste asiático, além da China, o Japão se destacou. Preocupado com a expansão militar chinesa (com quem tem disputas territoriais, assim como com a Rússia) e as ameaças da Coreia do Norte, o país quer que seus gastos militares cheguem a 2% do PIB até o final da década e ficar atrás apenas de Estados Unidos e China.
Em 2022, o Japão foi o décimo colocado em despesas militares, com US$ 46 bilhões (1,1% do seu PIB), uma alta de 5,9%. O Sipri apontou que este foi o nível mais alto de gastos militares japoneses desde 1960.
“O Japão está passando por uma mudança profunda em sua política militar”, afirmou Xiao Liang, pesquisador do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do Sipri. “As restrições do pós-guerra que o Japão impôs aos seus gastos e capacidades militares parecem estar diminuindo.”
Para o pesquisador Nan Tian, o aumento contínuo dos gastos militares globais nos últimos anos “é um sinal de que estamos vivendo em um mundo cada vez mais inseguro”. “Os Estados estão reforçando a força militar em resposta a um ambiente de segurança em deterioração, para o qual não preveem uma melhora no futuro próximo”, ressaltou.