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Investigação

Relatório sobre Jean Charles é alterado

Produtor de filmes B busca recursos para novo filme, em "O Crocodilo" | Divulgação/Downtown Filmes
Produtor de filmes B busca recursos para novo filme, em "O Crocodilo" (Foto: Divulgação/Downtown Filmes)

Londres – O relatório sobre a morte de Jean Charles de Menezes, confundido pela polícia britânica com um terrorista, foi alterado por ameaças de ações legais feitas por policiais criticados no documento, confirmou nesta quarta-feira a comissão de investigação policial.

A Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC) informou que divulgará hoje o informe sobre a morte por engano do eletricista de 27 anos, ocorrida no dia 22 de julho de 2005, um dia depois de uma tentativa frustrada de ataque com bomba e poucas semanas depois dos ataques em Londres que deixaram 52 mortos e mais de 700 feridos.

Porém, oficiais da polícia que eram criticados no documento ameaçaram apresentar uma ação legal, o que levou a comissão a fazer alterações, confirmou a IPCC.

Reportagem do jornal The Guardian, publicada ontem, revela que os policiais criticados no informe haviam iniciado um pedido de revisão judicial sob a alegação de que a IPCC havia violado regras de procedimento ao tomar seus depoimentos.

A decisão da IPCC de alterar o documento intensificará as críticas à comissão a respeito da maneira como elaborou o relatório e sobre o tempo – 20 meses – que levou para divulgar suas conclusões.

Além disso, a Scotland Yard está ao que parece indignada, segundo fontes anônimas, com o informe, que voltará suas críticas para Andy Hayman, o diretor do departamento de antiterrorismo e de inteligência da Polícia britânica.

Segundo o The Guardian, Hayman será acusado de ter enganado deliberadamente a opinião pública, em suas revelações faitas no dia 22 de julho de 2006, dia em que a Polícia matou Jean Charles na estação de metrô de Stockwell, sul de Londres.

O jornal destaca que imediatamente depois da morte do brasileiro, na estação de metrô de Stockwell, fontes não identificadas disseram que havia rumores não confirmados de que o homem assassinado não era um dos quatro suspeitos de terrorismo investigados pela polícia, acrescentou o "Guardian".

O documento da IPCC criticará Hayman por não ter passado esta informação para o chefe de polícia, Ian Blair, em uma reunião que ambos tiveram às 18h do dia em que o brasileiro foi assassinado. Blair foi informado apenas no dia seguinte de que Jean Charles era totalmente inocente.

De acordo com "The Guardian", o informe não contém críticas severas a Ian Blair, o comissário da Polícia Metropolitana de Londres.

Integrantes da campanha "Justiça por Jean" divulgaram nota ontem em que afirmam esperar que o relatório da IPCC responda às interrogações sobre as circunstâncias em torno da morte de um inocente.

"Esperamos que a IPCC divulgue uma investigação séria sobre as mentiras e informações falsas que a Polícia forneceu após o assassinato de Jean Charles", diz a nota.

Em dezembro de 2006 os parentes de Jean Charles perderam na Alta Corte de Londres um recurso contra a decisão do Ministério Público britânico de não processar individualmente os 15 policiais envolvidos em sua morte por falta de provas.

Além disso, há um julgamento aberto contra a Scotland Yard, acusada de violar as normas de saúde e segurança por não ter conseguido garantir a proteção do jovem brasileiro.

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