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Estados Unidos

Religiosos, mas desinformados

Veja infográfico sobre nível de informação dos norte-americanos |
Veja infográfico sobre nível de informação dos norte-americanos (Foto: )
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Entre os 15 livros de religião mais vendidos em uma das maiores li­­vrarias de Curitiba, quatro são norte-americanos. Muitas músicas, mé­­todos de ensino e missionários que servem ao público cristão brasileiro também vêm dos EUA. Mas se há algo que os líderes eclesiásticos do país não querem copiar dos "gringos" é o nível de conhecimento dos fiéis.

Pesquisa do Pew Research Cen­­ter divulgada nesta semana mostra que, apesar de os vizinhos do norte serem um dos povos desenvolvidos mais religiosos – 58% dos norte-americanos dizem que a religião é muito importante, contra 19% dos ingleses – muitos são desinformados sobre princípios, práticas, história e nomes de líderes da sua fé.

Uma das descobertas mais im­­pressionantes foi a de que 41% dos católicos entrevistados acreditam que a eucaristia é apenas um símbolo do corpo de Cristo, enquanto a doutrina da Igreja diz que a hóstia consagrada se transforma nele.

Entre entrevistados de todos os credos perguntados no primeiro se­­mes­­tre deste ano pelo Pew Center, apenas 16% apontaram o protestantismo como o ramo cristão que pre­ga a salvação apenas pela fé. E nem a metade dos próprios protestantes (47%) identifica Martinho Lutero como o religioso que mais influenciou a Reforma – e isso nu­­ma pergunta de múltipla escolha.

Qual a finalidade de saber o tamanho do desconhecimento dos fiéis? "A religião é um dos fatores que moldam não só a cultura, mas também a política e as relações internacionais americanas, e por isso queríamos saber o que as pessoas realmente sabem sobre o te­­ma", disse à Gazeta do Povo Greg Smith, um dos responsáveis pela pesquisa.

Ele diz não ter conversado com líderes religiosos após a divulgação do estudo, mas acredita que devam estar preocupados.

Para analistas norte-americanas de religião ouvidos pela reportagem, um conhecimento mais sólido poderia evitar conflitos no país, como a oposição dos nova-iorquinos à instalação de uma mesquita islâmica a duas quadras do marco zero, onde as Torres Gêmeas fo­­ram derrubadas por militantes da Al-Qaeda em 2001.

"Muitas discordâncias estão ba­­seadas em erro", diz a professora de Estudos Religiosos da Uni­ver­si­­dade de Boston Kecia Ali. "Às vezes as pessoas creem na mesma coisa e não sabem", diz, citando como exemplo o fato de muitos cristãos americanos pensarem que os mu­­çulmanos adoram um deus estranho, quando, pela teologia islâmica, seria o mesmo deus de Abraão e portanto de judeus e cristãos.

Entre os motivos para o desconhecimento norte-americano, Ke­­cia aponta a falta de curiosidade. "Se nos consideramos melhores, não há necessidade de descobrir muito mais sobre outras nações e outras religiões", critica.

A cultura de considerar a religião um tema sigiloso também é vista como um empecilho para o aprofundamento de conhecimentos religiosos. "A religião é um tabu nos EUA, algo de que as pessoas não falam. A não ser que seja para convencer alguém", diz a professora de Estudos Religiosos na Universidade de Vermont Erica Andrus.

Ela acredita que esse padrão esteja aos poucos mudando, já que, em uma década de ensino universitário, a professora viu crescer o número de alunos que optam por classes sobre as religiões do mundo. Entre os jovens, Erica considera que a in­­ternet está servindo como divulgadora de novas realidades. Mas ela vê com cautela essa influência.

"Se você tem interesse em saber sobre uma determinada religião, acaba pesquisando só sobre o que já sabe", pondera. Sem falar nas inexatidões e preconceitos espalhados pela web.

Para piorar, a pesquisa do Pew Center mostrou que quase a metade dos entrevistados comprometidos com um credo quase nunca lê um livro ou entra num site sobre sua religião, enquanto 70% quase nunca lê sobre outra religião.

Outros assuntos

Para os analistas, é preocupante que os entrevistados tenham ido mal também em perguntas sobre conhecimentos gerais de história, política, ciência e literatura. Por exemplo, quatro em cada dez não souberam dizer o nome do vice-presidente do Estados Unidos (Joe Biden).

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