Renata Bueno, na Câmara Municipal de Curitiba, em 2012. Ela não conseguiu se reeleger vereadora, mas venceu pleito italiano| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

Mais votado, Bersani proporá reformas

Folhapress

O líder da centro-esquerda da Itália, Pier Luigi Bersani, disse ontem que assume a responsabilidade como líder da coalizão mais votada nas eleições gerais do país e anunciou que irá propor ao novo Parlamento um plano de governo com uma série de reformas.

Em seu primeiro comparecimento público após ser divulgado os resultados da votação, Bersani reconheceu que as eleições representaram uma rejeição à atual política. O líder disse que era consciente do "dramatismo""e dos "riscos" que existem para a Itália com o temor da ingovernabilidade.

"Para nós se trata de perceber com simplicidade e consciência o que sai destas eleições, insistindo na vontade de sermos úteis ao nosso país. Nós, de todas as maneiras, recebemos destas eleições um grande senso de responsabilidade", afirmou Bersani.

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Análise

País está ameaçado de paralisia política, diz consultoria

Agência Estado

Além da ausência de uma maioria no novo Legislativo italiano e a improvável costura de uma coalizão, a Itália pode ter outra preocupação: o "semestre branco" e o "congestionamento institucional". Pela legislação em vigor, o presidente italiano não pode dissolver o Congresso nos últimos seis meses do mandato. O problema é que o atual ocupante do cargo, Giorgio Napolitano, deixará o posto em maio. Portanto, uma eventual nova eleição para primeiro-ministro só aconteceria após isso – uma espera mínima de três a quatro meses.

"Há outro problema para complicar ainda mais as coisas. Antes de eventuais novas eleições, o presidente italiano precisa dissolver o novo parlamento. No entanto, ele não está autorizado a fazer isso durante os últimos seis meses do mandato, o chamado ‘semestre branco’. E o mandato do presidente Giogio Napolitano termina em maio. Isto (a sobreposição do semestre branco com novas eleições) é conhecido como ‘istituzionale ingorgo’ ou, literalmente, congestionamento institucional", explica a consultoria Open Europe.

Diante dessa regra, a consultoria fala em potencial período de "três a quatro meses" de paralisia política na Itália, o que interromperia todas as reformas econômicas. "Mesmo se as negociações para uma coalizão entrarem em colapso e novas eleições forem necessárias, o novo Parlamento teria primeiro de eleger o novo presidente, o que significa que, potencialmente, estamos diante de três a quatro meses de paralisia política", diz a Open Europe. "No entanto, o processo poderia ser acelerado se Napolitano decidir deixar o cargo antes."

A partir de agora, a consultoria trabalha com três cenários para a Itália e dois deles preveem novas eleições. A primeira opção é a que contempla a criação de uma coalizão nacional com a união de Pier Luigi Bersani, Silvio Berlusconi e Mario Monti. "É possível, mas pode não ser suficiente para evitar eleições antecipadas. Nesse caso, talvez no próximo ano."

No segundo cenário o candidato Beppe Grillo concorda em fazer parte de uma coalizão de centro-esquerda liderada por Bersani. Apesar de possível, a opção teria algum preço, já que o comediante foi forte crítico das reformas e da austeridade defendida por Bruxelas e Berlim. Há, ainda, a terceira opção: ir direto para novas eleições em período de três a quatro meses.

Independentemente dos cenários, a consultoria diz que as urnas deram um "duro golpe" contra a União Europeia. "Cinco dos sete principais partidos fizeram uma campanha baseada na antiausteridade. Esses partidos obtiveram quase 57% dos votos", diz o relatório.

O líder de centro-esquerda Pier Luigi Bersani enfrenta dificuldade para formar o governo

A partir do dia 12 de março, quando a Itália formar o seu novo Parlamento, a ex-vereadora de Curitiba Renata Bueno (PPS) será a primeira brasileira a ocupar um cargo de deputada em Roma.

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Renata tem cidadania italiana – sua família é de Treviso, na região do Vêneto – e ela representará os italianos (ou brasileiros com dupla cidadania) que vivem na América do Sul. Durante a campanha, ela viajou para várias cidades do Brasil, passando por aquelas com uma forte influência italiana, como Criciúma (SC) e a região da Serra Gaúcha (RS).

Quando começar o trabalho como deputada, Renata virá ao Brasil para continuar em contato com os eleitores, mas terá de fixar residência na Itália. "O Brasil nunca teve tantos representantes como agora", disse a deputada eleita, por telefone desde Roma, para onde viajou a fim de acompanhar as eleições que começaram no último domingo.

Todos os anos, de acordo com a deputada, o Brasil conseguia eleger ao menos um deputado. Neste ano, com as apurações encerradas ontem, foram quatro brasileiros com dupla cidadania eleitos deputados e um, senador.

No processo eleitoral da Itália, os eleitores votam nas chapas concorrentes. Renata faz parte da chapa Unione Sudamericana Emigrati Italiani (USEI). Na cédula, depois de escolher a chapa, é possível escrever o nome do candidato. Porém, até ontem, o resultado por candidato não havia sido divulgado pelo Ministero Dell’Interno. No fim das contas, o que interessa aos italianos é a votação nas chapas.

De acordo com a página na internet do jornal La Repubblica, o USEI conquistou 44.024 votos, elegendo um deputado (a Renata). Desses, a assessoria da deputada eleita afirma que 21 mil vieram do Brasil e calcula que 90% tenham sido para Renata.

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Em Curitiba, a brasiliense foi vereadora, mas não conseguiu se reeleger na última eleição – teve 4.791 votos. Se a projeção feita pela assessoria de Renata estiver certa, ela terá conseguido uma votação quase quatro vezes maior no pleito italiano.

Para representar as pessoas que a elegeram, Renata explica que deverá atender a "demandas clássicas" dos italianos que moram na América do Sul, sobretudo no Brasil, em questões que passam por cultura, intercâmbio e educação.

De acordo com informações do PPS, Renata concorreu às eleições na Itália a partir de um convite do senador Edoardo Pollastri.

Crescem incertezas após resultado que complica formação de governo

Agência O Globo

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Começou ontem, como definiu o jornal La Reppublica, o pós-eleitoral "mais complexo da História da Itália". Um dia depois de conturbadas eleições para o Parlamento, o país amanheceu de ressaca num quadro particularmente perigoso: sem comando, debilitado por uma recessão, diante da pior crise econômica europeia do pós-guerra. Luigi Bersani, líder da coalizão de centro-esquerda — que, tecnicamente, ganhou as eleições por um fio — reconheceu que não venceu.

"Não vencemos, mesmo que tenhamos chegado na frente. Esta é a nossa desilusão", disse Bersani, secretário do Partido Democrático, admitindo que a situação é dramática para o país.

Para formar um governo na Itália, um partido ou coalizão precisa de maioria nas duas Casas. Ninguém conseguiu isso. A centro-esquerda obteve maioria na Câmara, garantindo 345 cadeiras (55%), mas não no Senado, onde Berlusconi mostrou seu peso, vencendo nas regiões que contam mais na distribuição de cadeiras, como Lombardia ou Sicília.

"Provavelmente teremos um novo Papa antes de um presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro)", ironizou o jornal Il Messaggero.

Berlusconi é contra a convocação imediata de eleições e defendeu um período de reflexão.

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O verdadeiro vencedor foi um partido inteiramente criado na internet, um caso único na Europa: o Movimento 5 Estrelas, liderado pelo comediante Beppe Grillo. Erguendo a bandeira da ética e da luta contra a corrupção, em três anos, o movimento captou a revolta dos italianos com o status quo e se transformou na maior legenda da Câmara. Grillo virou peça-chave na busca de uma saída para a crise. Bersani já descartou a hipótese de acordo com Berlusconi e tentou atrair o movimento, com um apelo aos chamados Grilinhos, os eleitos do grupo.

"Eles têm dito: ‘Vão embora’. Mas agora estão aqui também. Ou vão para casa ou dizem o que querem fazer por seu país e por seus filhos", desafiou.

Resta saber se o comediante vai querer. E se quiser, quais serão suas condições.