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Quando uma equipe da Reuters pousou no Haiti na manhã seguinte ao catastrófico terremoto da semana passada, o presidente René Préval estava na pista do aeroporto, cumprimentando alguns recém-chegados com um aperto de mão e um sorriso amargo no rosto.

Impecavelmente vestido com camisa branca e calça escura de lã tropical, ele não parecia ter passado várias horas sobre uma moto, na noite anterior, vistoriando os estragos em Porto Príncipe.

Para muitos um enigma, e muitas vezes criticado por sua relação aparentemente minimalista em relação à administração do país mais pobre das Américas, Préval tem poucos feitos concretos para destacar desde que tomou posse, em maio de 2006.

Longe de adotar uma gestão no estilo "mão na massa," Préval não fez um único pronunciamento à nação em uma semana desde o terremoto de magnitude 7, que pode ter matado até 200 mil pessoas, num dos piores desastres naturais da história mundial. Mas concedeu várias entrevistas e viajou à vizinha República Dominicana para conversar com doadores.

Observadores internacionais dizem que esse agrônomo de modos brandos, quase calvo aos 67 anos, tem se empenhado em estabelecer uma democracia estável num país que praticamente só conhece turbulências e ditaduras desde que expulsou os colonialistas franceses, há mais de 200 anos.

"Ele está em choque agora, todo o país está em estado de choque, mas Préval não é um homem mau e tenho certeza de que ele fará o melhor que puder quando as coisas se assentarem um pouco e ele puder focar seus esforços na reconstrução do Haiti," disse Jean Baptiste, estudante de relações internacionais e filho de um médico que atua no centro da capital. "A questão é por onde começar."

O Haiti ainda pode enfrentar distúrbios e violência nos próximos dias e meses se os problemas de distribuição, gargalos e a corrupção impedirem que a ajuda internacional chegue às pessoas que ficaram desabrigadas e ainda mais pobres por causa do tremor.

Mas o apoio internacional pode ajudar Préval, cujo mandato vai até 2011, e poucos aqui consideram que ele será deposto, destino de tantos líderes eleitos antes dele no país.

Feito inédito

Préval é, na verdade, o primeiro líder haitiano a ser eleito democraticamente, cumprir seu mandato na íntegra e entregar o cargo pacificamente - isso aconteceu no primeiro período para o qual foi eleito, de 1996 a 2001.

O suntuoso palácio presidencial haitiano, relíquia de tempos melhores, no final do século 19, quando o açúcar e outros recursos permitiam que o país fosse conhecido como "Pérola das Antilhas", também desabou parcialmente devido ao terremoto.

Préval não estava no prédio na hora do desastre. Mas depois, em vários encontros com jornalistas e funcionários locais na delegacia de polícia que foi transformada em casa e gabinete para ele, o presidente contou das imagens assombrosas que viu de um dos inúmeros mototáxis de Porto Príncipe, durante o percurso noturno pelas ruas logo depois da tragédia.

"O dano que eu vi aqui pode ser comparado ao dano que você veria se o país fosse bombardeado por 15 dias. É como uma guerra", disse ele à Reuters.

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