O ex-premier italiano Silvio Berlusconi pode não ser o mais exemplar dos católicos, mas pode ser um dos mais afetados pela decisão do papa Bento XVI de deixar o cargo.
Com uma campanha agressiva, baseada na promessa de menos impostos, Berlusconi vinha se aproximando nas pesquisas de Pier Luigi Bersnani, de centro-esquerda, visto como favorito nos últimos meses. Mas com o anúncio do papa, boa parte do espaço na mídia para as eleições dos dias 24 e 25 na Itália se voltou para a sucessão no Vaticano.
"Isso vai congelar a campanha por um tempo, e essa é uma má notícia para Berlusconi, que ainda precisa ganhar terreno", avaliou Renato Mannheimer, diretor do instituto de pesquisas Ispo.
As últimas pesquisas publicadas na sexta-feira, prazo limite para a divulgação de sondagens antes da votação, davam uma vantagem média de 5,7 pontos percentuais para Bersani, abaixo dos 10 pontos registrados no início da campanha.
Pelo complicado sistema eleitoral italiano, essa vantagem poderia dar ao Partido Democrático, de Bersani, uma expressiva vantagem na Câmara dos Deputados, mas sem que ele consiga formar maioria no Senado, onde as vagas são distribuídas por critérios regionais.
A ofensiva midiática de Berlusconi nas últimas semanas incluiu vários "anúncios de choque", como a promessa de reembolso de um detestado imposto imobiliário, a extinção de um imposto sobre folhas de pagamentos no caso de novas contratações, e uma anistia para sonegadores.
Com a renúncia de Bento XVI, a campanha eleitoral deixou a primeira página dos jornais e foi parar lá pela página 15. Nesse cenário, promessas eleitorais bombásticas tendem a ficar diluídas, ao menos nos próximos dias, dizem especialistas.
O Papa anunciou que ficará no cargo até 28 de fevereiro, o que significa que as especulações sobre sua sucessão continuarão ocupando grande espaço no noticiário até a eleição geral da Itália.
"Isso vai tirar visibilidade de Berlusconi, e deve beneficiar o favorito, que é o PD", acredita Roberto d'Alimonte, principal especialista italiano em questões eleitorais. "Berlusconi precisa de espaço na mídia para tirar essa diferença".
Outro aspecto citado por alguns comentaristas foi a possível associação a ser feita por eleitores entre a decisão do Papa de renunciar devido à sua idade avançada e a recusa de Berlusconi em fazer o mesmo, apesar dos 76 anos e de já ter ocupado o posto de primeiro-ministro em quatro ocasiões.
"Após o anúncio do Papa, Berlusconi parece 20 anos mais velho", disse o comentarista político Antonio Polito em uma mensagem pelo Twitter, refletindo vários posts semelhantes nas redes sociais.