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Reino Unido

Crise econômica, caos dentro do partido: como os conservadores britânicos perderam o poder após 14 anos

O agora ex-primeiro-ministro britânico Rishi Sunak e sua esposa, Akshata Murty, deixam Downing Street nesta sexta-feira (5) (Foto: EFE/EPA/TOLGA AKMEN)

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Como as pesquisas já projetavam, os tories, o partido conservador do Reino Unido, perderam as eleições gerais no Reino Unido, realizadas na quinta-feira (4), e deixaram Downing Street, a residência do primeiro-ministro britânico, após 14 anos.

A legenda conquistou apenas 121 cadeiras na Câmara dos Comuns, 244 a menos na comparação com as obtidas na eleição anterior no Reino Unido, em 2019, e viu os rivais trabalhistas, liderados por Keir Starmer, atingir 411, bem acima das 326 necessárias para ter maioria.

Com uma postura mais ao centro na comparação com lideranças trabalhistas anteriores, o novo premiê britânico também foi beneficiado por uma ascensão menor do que o esperado do partido de direita nacionalista Reforma Reino Unido.

Pesquisas em junho haviam indicado que a legenda, liderada por Nigel Farage (que finalmente conquistou uma cadeira na Câmara dos Comuns, após sete tentativas frustradas), poderia até obter mais cadeiras que os conservadores, mas somou apenas cinco.

Talvez o principal motivo para a derrota melancólica dos tories tenha sido a economia. Rishi Sunak, que havia assumido o posto de primeiro-ministro em 2022, após as renúncias de Boris Johnson e Liz Truss, chegou às eleições acuado pela recessão técnica no segundo semestre de 2023, embora a economia britânica tenha apresentado leve melhora no primeiro trimestre deste ano.

A inflação, embora tenha caído para 2% no patamar interanual em maio deste ano, havia ultrapassado os 10% no segundo semestre de 2022, criando um ressentimento entre o eleitorado britânico que se refletiu nas urnas.

Uma crise interna do partido também atrapalhou os tories. No ano retrasado, o então primeiro-ministro Boris Johnson renunciou devido ao escândalo do Partygate: membros do governo britânico, incluindo o premiê, realizaram festas durante a pandemia de Covid-19, enquanto lockdowns vigoravam no país.

Da saída de Johnson à posse de Sunak, o partido amargou o constrangimento de ter três premiês em menos de dois meses – Liz Truss, eleita na votação interna dos conservadores, renunciou após a reação negativa ao seu plano econômico.

Um termômetro da insatisfação do eleitorado britânico é que Truss perdeu sua cadeira no Parlamento na eleição desta quinta-feira.

O ex-secretário da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, também perdeu seu assento, e resumiu o caos dentro do partido no discurso em que reconheceu sua derrota.

“Testamos a paciência dos eleitores conservadores tradicionais com uma propensão para criar uma novela política interminável a partir de rivalidades e divisões internas, que se tornaram cada vez mais indulgentes e arraigadas”, disparou.

O consolo dos conservadores é que, apesar de Starmer viver a euforia da vitória arrasadora de quinta-feira, ele terá um grande desafio pela frente e seu triunfo está longe de representar uma tendência política duradoura no Reino Unido.

Ben Wellings, professor associado de política e relações internacionais da universidade australiana de Monash, escreveu em artigo para o site The Conversation que a vitória trabalhista “pode ser um castelo feito de areia, embora protegido pelo tamanho da sua maioria”.

“O eleitorado ainda é volátil, como foi em 2015, 2016, 2017 e 2019. Isto levanta a questão de saber se esta vitória é uma mudança radical na política britânica a favor do Partido Trabalhista – e em contraste com a direção da política na Europa – ou outro exemplo de volatilidade eleitoral”, afirmou Wellings.

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