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Sapatada

Repórter diz que atirou sapatos após sorriso de Bush

Após sapatada em Bush, jornalista iraquiano pode pegar uma pena de 15 anos de prisão | SAUL LOEB/AFP
Após sapatada em Bush, jornalista iraquiano pode pegar uma pena de 15 anos de prisão (Foto: SAUL LOEB/AFP)

O jornalista iraquiano que atirou seus sapatos no ex-presidente dos EUA George W. Bush disse que filmou a si próprio treinando para executar o ato e que "o sorriso frio" de Bush o deixou com uma raiva incontrolável.

Muntazer al-Zaid foi a julgamento na quinta-feira e pode pegar uma pena de 15 anos de prisão. Ele chamou Bush de "cachorro" ao atirar nele seus sapatos - ambos grandes insultos no Oriente Médio -, é acusado de agredir um chefe de Estado em visita ao país.

Zaidi disse na quinta-feira, no começo de seu julgamento, que filmou a si mesmo treinando o lançamento dos sapatos e que planejou atirá-los contra Bush há dois anos, na Jordânia, mas não fez isso.

O jornalista disse à corte que reconheceu ter feito um vídeo do treinamento em seu interrogatório, depois que foi preso na coletiva de imprensa.

"Eu disse isso aos guardas do primeiro-ministro, depois que apanhei e meu corpo foi devorado pela eletricidade", disse Zaidi, que disse que seu plano inicial era atirar os sapatos contra Bush em uma coletiva em Amman.

Mas Zaidi, que acabou chamando mais atenção que Bush naquele dia, insistiu que não era sua intenção atacar o presidente norte-americano daquela vez.

No entanto, segundo ele, o sorriso de Bush ao falar sobre suas conquistas no Iraque o fizeram pensar na "morte de mais de um milhão de iraquianos, o desrespeito pela santidade de mesquitas e casas, os estupros" e isso o enfureceu.

"Enquanto falava, ele sorria de friamente para o premiê iraquiano. Ele disse ao premiê que iria jantar com ele", disse Zaidi ao painel com três juízes, com um grupo de 25 advogados atrás dele.

"Então, não vi mais ninguém ali a não ser Bush. Eu senti que ele tinha sangue de inocentes sob seus sapatos, enquanto sorria friamente, como se tivesse vindo para um jantar de despedida."

E acrescentou: "Depois que mais de um milhão de iraquianos morreram, depois da destruição econômica e social... Eu senti que aquela pessoa era a assassina do nosso povo, a principal assassina. Eu fiquei enraivecido e atirei meus sapatos contra ele".

Nessa hora, Zaidi gritou para Bush que seus sapatos atirados eram "um beijo de adeus do povo iraquiano, cachorro".

O julgamento havia apenas começado quando juízes adiaram os procedimentos até 12 de março, para que se possa determinar se Bush fazia verdadeiramente uma visita "oficial" ao Iraque como chefe de Estado.

Zaid está na prisão há mais de dois meses, e sua família reclama que ele foi espancado após ter sido levado por guardas na entrevista coletiva de Bush.

O repórter de uma TV iraquiana tornou-se herói em boa parte do Oriente Médio. Bush, odiado em boa parte da região por seu apoio a Israel e pela invasão que derrubou Saddam Hussein no Iraque, desviou-se agilmente do primeiro sapato e fez graça com o incidente depois. O segundo sapato também não atingiu o alvo.

A invasão promovida pelos EUA levou o Iraque a uma guerra sectária de seis anos, que matou dezenas de milhares de iraquianos.

Os advogados de defesa de Zaid tiveram negada uma apelação para que as acusações fossem reduzidas a insulto a Bush, uma ofensa menor. Eles argumentaram que o jornalista não poderia de fato machucar o então presidente com um sapato.

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