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Rússia

Repórter dos EUA é preso na Rússia por acusação de espionagem

Vista da Praça Lubianka, em Moscou, onde está localizada a sede da FSB (à direita) (Foto: EFE/Ignacio Ortega)

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O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) informou nesta quinta-feira (30) que deteve o jornalista americano Evan Gershkovich, correspondente do The Wall Street Journal no país, por suposta espionagem, em Ecaterimburgo, capital dos Urais.

"O FSB abortou as atividades ilegais do correspondente da sucursal de Moscou do jornal americano The Wall Street Journal e cidadão americano Evan Gershkovich, suspeito de espionagem em interesse do governo dos Estados Unidos", disse o serviço de segurança russo à agência Interfax.

De acordo com as autoridades russas, Gershkovich "coletou por encomenda do lado dos EUA informações secretas sobre as atividades de uma das empresas do complexo militar-industrial russo".

"Durante a tentativa de receber informações secretas, o americano foi preso em Ecaterimburgo", disse o FSB, que abriu um processo criminal contra o jornalista por espionagem, o que pode acarretar a ele uma pena de até 20 anos de prisão.

"Até onde sabemos, eles o pegaram em flagrante", declarou o secretário de imprensa da presidência russa, Dmitry Peskov, em sua entrevista coletiva diária por telefone, acrescentando que esta detenção "é uma prerrogativa do FSB, que combate assim os espiões". Peskov se recusou a dar mais informações, dizendo que não conhece os detalhes.

Segundo o portal independente russo Meduza, Gershkovich foi preso nesta quarta-feira (29), em frente a um restaurante na capital dos Urais. O portal destacou que o repórter esteve em Ecaterimburgo coletando informações sobre a atitude da população russa em relação ao grupo de mercenários Wagner, atualmente a ponta de lança da ofensiva russa no leste da Ucrânia.

De acordo com o jornal local Vechernie Novosti, um leitor presenciou a prisão de um homem no centro da cidade. Ele afirmou que "quando levaram o detido, cobriram sua cabeça com uma camiseta para que os transeuntes não pudessem ver seu rosto”.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, escreveu em seu canal no Telegram que "o que o funcionário do Wall Street Journal estava fazendo em Ecaterimburgo não tem nada a ver com jornalismo".

Segundo Zakharova, "infelizmente não é a primeira vez que o status de 'jornalista estrangeiro', o visto de jornalista e a credencial são utilizados por estrangeiros no nosso país para encobrir atividades não jornalísticas”. De acordo com ela, "não é o primeiro ocidental conhecido pego com as mãos na massa".

Questionado sobre a possibilidade de a Rússia tomar medidas contra outros profissionais do jornal americano, incluindo a possível expulsão do país, Peskov garantiu que “jornalistas credenciados que trabalham normalmente poderão continuar trabalhando”.

O The Wall Street Journal negou nesta quinta-feira as acusações do governo da Rússia contra seu correspondente no país e exigiu sua libertação imediata.

"The Wall Street Journal nega veementemente as acusações [...] e exige a libertação imediata de nosso [...] correspondente Evan Gershkovich", disse o jornal em comunicado publicado em seu site, acrescentando que envia toda a sua "solidariedade a Evan e sua família".

O repórter americano de 31 anos trabalhava para o jornal desde janeiro de 2022 e, na Rússia, desde 2017, “primeiro para o Moscow Times e depois para a Agence France-Presse”, afirmou o The Wall Street Journal. Anteriormente, ele foi assistente de notícias para o The New York Times, em Nova York.

Segundo o The Wall Street Journal, Gershkovich – que recentemente escreveu sobre o impacto das sanções ocidentais na economia da Rússia — perdeu o contato com seus editores na quarta-feira à tarde. Mais tarde, no Telegram, “um post apareceu descrevendo um homem com o rosto escondido sendo levado de um restaurante e colocado em uma van que o esperava. Não foi possível determinar se a pessoa era Gershkovich”, afirmou o jornal, cujo advogado tentou encontrar Gershkovich no prédio do FSB em Ecaterimburgo, “mas foi informado de que as autoridades não tinham informações sobre ele”.

Detido até 29 de maio

O The Wall Street Journal acrescentou que Gershkovich foi levado a Moscou, “onde ele compareceu ao tribunal com um advogado de defesa nomeado pelo Estado e ficará detido até 29 de maio, disse o serviço de imprensa do tribunal, segundo a agência de notícias estatal TASS”. Ainda de acordo com o jornal, citando a agência TASS, “o Sr. Gershkovich se declarou inocente na audiência fechada” no tribunal de Lefortovo. A agência citou fontes não identificadas, segundo o jornal americano. "De acordo com a TASS, o caso [de Gershkovich] é considerado ultrassecreto", complementa.

Segundo reportagem do WSJ, “a detenção de Gershkovich e a acusação de espionagem significam que o caso provavelmente se tornará uma questão diplomática de alto nível".

Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Russia Eurasia Center, disse que o caso é particularmente significativo porque repórteres americanos não são presos na Rússia desde a Guerra Fria. ‘É um novo ponto baixo na relação EUA-Rússia”, disse ele. A prisão de um repórter americano credenciado “está realmente abrindo um precedente”, acrescentou.

Washington condenou a prisão do jornalista. "O fato de o governo russo ter como alvo cidadãos americanos é inaceitável. Condenamos a prisão do senhor Gershkovich nos termos mais enérgicos", disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em um comunicado, nesta quinta-feira.

Jean-Pierre explicou que o governo dos EUA está "profundamente preocupado" com os "relatos inquietantes" e especificou que funcionários da Casa Branca e do Departamento de Estado falaram com o Wall Street Journal e também com a família de Gershkovich.

"O Departamento de Estado tem estado em contato direto com o governo russo sobre este assunto, inclusive trabalhando ativamente para garantir o acesso consular ao senhor Gershkovich", declarou Jean-Pierre no comunicado, no qual também condenou "os contínuos ataques e a repressão do Executivo russo contra jornalistas e a liberdade de imprensa".

Em outro comunicado, o secretário de Estado, Antony Blinken, condenou as "tentativas repetidas do Kremlin de intimidar, reprimir e punir jornalistas e vozes da sociedade civil".

De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, “desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, as autoridades têm impostos duras restrições à imprensa independente”. Em reportagem do WSJ, a entidade condenou a prisão.

“O CPJ está profundamente preocupado com a prisão do repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich. Esta é a última de uma longa linha de tentativas da Rússia de usar as leis de segurança nacional para silenciar as reportagens. Pedimos sua libertação imediata”, disse a presidente do comitê Jodie Ginsberg, ao WSJ.

Já Moscou considera prematuro falar em uma possível troca de prisioneiros: "Eu não faria essa pergunta agora, porque qualquer troca, como as que ocorreram no passado, envolve pessoas que já foram condenadas", afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, de acordo com a agência TASS.

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