O grupo francês Repórteres sem Fronteiras disse na segunda-feira estar preocupado com a decisão de um jornal de não publicar uma reportagem dizendo que a mulher do presidente eleito Nicolas Sarkozy não votou nas eleições presidenciais.
Trata-se de mais um caso numa série de incidentes que, segundo os adversários de Sarkozy, mostram como suas ligações com o mundo dos negócios lhe garantem o controle sobre a imprensa francesa.
O RSF pediu um debate público sobre a questão. "Considerando os laços de amizade entre Nicolas Sarkozy e vários proprietários de grupos de mídia, a Repórteres sem Fronteiras ficará extremamente atento no início de seu mandato e denunciará qualquer coisa que possa parecer pressão por parte das autoridades", afirmou a organização numa nota.
A imprensa francesa afirmou que o jornal semanal Le Journal du Dimanche havia preparado uma reportagem dizendo que a mulher de Sarkozy, Cecilia, não compareceu às urnas no segundo turno da eleição presidencial, no dia 6 de maio, entre Sarkozy e a socialista Ségolène Royal. Mas o jornal, que pertence a Arnaud Lagardère, amigo de Sarkozy, não publicou a reportagem no domingo.
- Não sabemos se houve pressão direta ou indireta sobre o Journal du Dimanche - disse o RSF.
Jacques Esperandieu, editor do jornal, disse ao Le Parisien que assumia a responsabilidade pela decisão de não publicar a matéria, afirmando que se tratava de um assunto da "esfera privada".
- O respeito à vida privada é um princípio essencial, mas não pode ser usado para esconder informações que sem dúvida são de interesse geral - afirmou o RSF.
Assessores de Sarkozy não fizeram comentários sobre a reportagem, e Cecilia não deu nenhuma declaração. O casal separou-se em 2005, e enquanto eles estavam separados ela namorou um executivo da área da propaganda, e ele, uma jornalista. Os dois reataram no ano passado.
Durante a campanha, Sarkozy foi pintado pela oposição como o candidato dos empresários, e um dia depois de ser eleito ele foi de jatinho particular para Malta, para uma temporada num iate de luxo, tudo pago pelo bilionário Vincent Bollore. Sarkozy já havia sido criticado no ano passado pela demissão de Alain Genestar do cargo de editor da revista Paris Match, que também faz parte do império de mídia de Lagardère. Genestar acusou Sarkozy de ser o responsável pela demissão, que aconteceu depois de ele ter publicado fotos de Cecilia em Nova York com o namorado na capa da revista.
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