A represa das Três Gargantas, na China, parte da maior usina hidrelétrica do mundo, mas construída também para controlar inundações, não será capaz de impedir todas as enchentes causadas pelo rio Yangtze, disse a imprensa estatal chinesa na sexta-feira.
A segurança da própria barragem estaria ameaçada sob uma enxurrada com um volume superior a 122 mil metros cúbicos por segundo, disse Zhao Yunfa, executivo da hidrelétrica, ao jornal China Daily. "A capacidade de controle de inundações na represa não é ilimitada", disse ele.
Mas raramente a represa terá de ser submetida a esse teste. Nesta semana, por exemplo, as torrenciais chuvas em toda a China fizeram com que o fluxo no reservatório chegasse a 70 mil metros cúbicos por segundo.
Durante as devastadoras inundações que mataram mais de 4.000 pessoas em 1998, antes da conclusão da represa, o volume foi ainda menor.
Desde o começo do ano, pelo menos 701 pessoas morreram devido às chuvas no sul e centro da China, e outras 347 estão desaparecidas, disse o governo na quarta-feira.
As mudanças climáticas - envolvendo a intensificação das chuvas no sudoeste e o degelo de glaciares do Himalaia - podem fazer com que futuras inundações sejam piores.
A imprensa chinesa começa a se perguntar então se a represa de Três Gargantas cumprirá um dos seus principais objetivos de longo prazo. As autoridades vêm relativizando a capacidade da barragem para conter inundações, segundo o China Daily.
Um relatório lançado em junho de 2003 dizia que, estatisticamente, só a cada 10 mil anos haveria uma inundação superior à capacidade do reservatório. Quatro anos depois, o cálculo foi revisto para uma inundação a cada mil anos. Em 2008, surgiu uma nova estimativa de que a cada século haveria uma inundação que superasse a capacidade da represa.
A construção da barragem custou cerca de 37,5 bilhões de dólares, e obrigou a realocação de 1,3 milhão de pessoas. Cidades, lavouras e sítios históricos e arqueológicos ficaram submersos.
As autoridades dizem que a represa estimula o desenvolvimento do interior chinês, oferecendo energia limpa e barata, além de acabar com séculos de inundações nas várzeas do Yangtze.
Ambientalistas há anos alertam que o reservatório pode virar um enorme esgoto a céu aberto, recebendo detritos domésticos e industriais, e que os sedimentos retidos na barragem podem causar erosão rio abaixo.
A China tem feito escassos progressos na implantação de projetos, preparados há quase uma década, para limitar a poluição no reservatório e no seu entorno.