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Crise

Repressão e mortes em Mianmar

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Yangun – O Exército de Mianmar reprimiu violentamente e matou alguns manifestantes birmaneses que desafiaram os alertas e mantiveram os protestos contra o governo ontem em Yangun (sul). Há relatos conflitantes sobre o número de mortos, que vria de três a oito, de acordo com diversas agências internais. Ao menos dois dos mortos eram monges budistas.

A repressão só resultou em derramamento de sangue ontem, no dia das maiores manifestações contra a junta militar que governa o país há 45 anos. O governo confirmou uma morte e disse que a polícia usou "força mínima’’ depois que alguns manifestantes tentaram arrancar as armas das mãos dos soldados.

Além dos mortos a tiros, ao menos 300 monges e civis foram presos e vários ficaram feridos em confrontos com os soldados, que lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes. A maioria dos feridos foi baleada. A violência de ontem despertou lembranças dos episódios de 1988, quando estimadas 3 mil pessoas foram mortas a tiros por soldados durante uma manifestação contra a junta.

Testemunhas estimaram que mais de 10 mil pessoas marcharam ontem em Yangun, além de outras 10 mil em Mandalay. Desde 19 de agosto, a população protesta contra um aumento de 500% no preço dos combustíveis, mas o movimento já assumiu caráter pró-democracia.

O maior ato, na última segunda-feira, atraiu 100 mil em Yangun – onde a violência já era esperada. "Seria impossível evitar as mortes. Depois que alguns monges apanharam dos militares em uma marcha na cidade de Pakkoku em 5 de setembro, não dava mais para voltar atrás’’, afirmou ontem Maureen Aung-Thwin, diretora da organização Projeto Birmânia (o antigo nome do país), com sede em Nova Iorque. "Abusar de uma figura religiosa reverenciada é um crime indescritível em Mianmar.’’

Na terça-feira, a junta militar anunciou um toque de recolher das 21h às 5h locais, a proibição de reuniões de mais de cinco pessoas e colocou as forças de segurança nas ruas das maiores cidades do país, Rangum e Mandalay, para tentar acabar com os maiores protestos em quase 20 anos.

O toque de recolher e a proibição de reuniões foram anunciados por meio de alto-falantes em veículos que circularam tarde da noite de ontem pelas ruas das duas cidades.

Os monges, que assumiram nos últimos dias a liderança dos protestos contra a junta, exigem que o governo peça desculpas por ter maltratado monges em uma manifestação ocorrida recentemente no norte do país.

Nas semanas que antecederam a adesão dos monges, a população local vinha protestando em menor escala por causa do aumento do preço dos combustíveis em um dos países mais pobres de Ásia.

O governo de Mianmar vinha sendo cauteloso ao lidar com a atual onda de protestos, aparentemente por considerar que atitudes vistas como abusivas ou desrespeitosas com relação aos monges provocariam revolta entre cidadãos comuns numa sociedade predominantemente budista e devota.

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