À medida que a repressão do governo sírio se torna mais sangrenta, um de seus aliados mais importantes torna-se uma vítima colateral: o grupo militante libanês Hezbollah (Partido de Deus).
Durante manifestações recentes, os sírios que protestam contra o presidente Bashar Assad também têm demonstrado raiva contra o grupo xiita por conta de seu cego apoio ao regime. Alguns manifestantes atearam fogo à bandeira amarela do Hezbollah e a fotografias do líder do grupo, o xeque Hassan Nasrallah.
Esse tipo de manifestação surpreende num país que se orgulha de ser um bastião de resistência aos Estados Unidos e a Israel e trata o Hezbollah como celebridade.
Sírios e árabes da região elevaram Nasrallah ao status de herói nos últimos anos, depois de sua guerrilha ter lutado bravamente contra Israel em 2006. Pôsteres do xeque são um dos itens mais vendidos em lojas de suvenires sírias.
A ira contra o Hezbollah ilustra a posição delicada e contraditória do movimento xiita. Por um lado, a fonte de sua popularidade, até mesmo entre muitos sunitas da região, vem de sua imagem de força patriótica para defender o Líbano de Israel e de sua imagem altamente protetora; de outro, sua aliança com a Síria, e mais ainda, com o Irã, torna o grupo vulnerável a acusações de que seria apenas uma força bem armada a serviço desses regimes.
Acusações recentemente divulgadas pelo tribunal especial da Organização da Nações Unidas (ONU) para o Líbano responsabilizam quatro integrantes do Hezbollah pelo atentado que matou, em 2005, o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, o mais poderoso líder sunita do Líbano, e mais 21 pessoas, lançando mais uma sombra sobre a reputação do grupo.
O Hezbollah apoiou os levantes populares contrários aos regimes no Egito, no Iêmen, no Bahrein e na Tunísia. Mas é publicamente aliado do Irã e da Síria em suas brutais repressões contra manifestantes.
Num sinal de preocupação com os danos à sua reputação, o Hezbollah tem evitado falar sobre o levante na Síria. O movimento tenta negar as repetidas acusações não confirmadas de ativistas sírios de que combatentes do Hezbollah assim como iranianos estão envolvidos na repressão aos protestos e na morte de manifestantes.