Cartazes do presidente Assad e do líder do Hezbollah, Nasrallah, aparecem em manifestação| Foto: Sharif Karim/Reuters

Julgamento

Queda de Assad é pior cenário

Os indiciamentos pelo assassinato de Hariri, no qual o Hezbollah nega participação, prejudicou o apelo abrangente em meio às divisões sectárias do Oriente Médio. "Os sunitas vão entender isso num contexto puramente sectário, de que os xiitas mataram o líder da comunidade sunita, ponto final", acredita Schenker.

O pior cenário para o Hezbollah seria a queda de Assad, embora no momento isso pareça improvável. Um governo liderado por sunitas seria muito menos amistoso com o grupo, de forma que uma mudança de regime em Damasco cortaria a principal rota de armas para o Hezbollah, prejudicaria sua influência política no Líbano e eliminar o eixo "Irã-Síria-Hezbollah" de resistência a Israel.

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Grupo detém influência política

"Na medida em que a repressão na Síria se intensifica, o Hez­­bollah vai descobrir que está gastando mais sua reputação e capital político ao apoiar um regime que está de saída", disse Randa Slim, pesquisador da New America Foundation, em Wa­­shington.

Os problemas para o Hez­­bollah surgem num período em que o grupo vem de grandes conquistas. O Hezbollah tem hoje um papel dominante no governo de Beirute e o primeiro-ministro é um aliado, o que dá ao grupo uma influência sem precedentes no Líbano depois que seus oponentes – os Estados Unidos e as facções apoiadas pelo Ocidente liderada pelo filho de Hariri, Saad – ficaram de lado.

Seu grande arsenal de armas e foguetes está virtualmente intocável, apesar de anos de pedidos para que se desarmasse. "Militarmente, a organização é mais forte do que nunca, mas sua credibilidade e legitimidade, regionalmente, sofreu um grande golpe", avalia David Schenker, diretor do Programa sobre Políticas Árabes do Instituto Washington para Políticas do Oriente Próximo.

Confronto

No início dos anos 2000, o Hezbollah gozava de uma popularidade sem precedentes, após o longo confronto com Israel ter forçado a retirada das forças israelenses depois de quase 20 anos de ocupação. Em 2006, o grupo travou uma guerra feroz de um mês contra Israel Sua popularidade no mundo árabe era tão grande que houve relatos de sunitas na Síria e na Jordânia que se converteram ao xiismo.

À medida que a repressão do governo sírio se torna mais sangrenta, um de seus aliados mais importantes torna-se uma vítima colateral: o grupo militante libanês Hezbollah (Partido de Deus).

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Durante manifestações recentes, os sírios que protestam contra o presidente Bashar Assad também têm demonstrado raiva contra o grupo xiita por conta de seu cego apoio ao regime. Alguns manifestantes atearam fogo à bandeira amarela do Hezbollah e a fotografias do líder do grupo, o xeque Hassan Nasrallah.

Esse tipo de manifestação surpreende num país que se orgulha de ser um bastião de resistência aos Estados Unidos e a Israel e trata o Hezbollah como celebridade.

Sírios e árabes da região elevaram Nasrallah ao status de herói nos últimos anos, depois de sua guerrilha ter lutado bravamente contra Israel em 2006. Pôsteres do xeque são um dos itens mais vendidos em lojas de suvenires sírias.

A ira contra o Hezbollah ilustra a posição delicada e contraditória do movimento xiita. Por um lado, a fonte de sua popularidade, até mesmo entre muitos sunitas da região, vem de sua imagem de força patriótica para defender o Líbano de Israel e de sua imagem altamente protetora; de outro, sua aliança com a Síria, e mais ainda, com o Irã, torna o grupo vulnerável a acusações de que seria apenas uma força bem armada a serviço desses regimes.

Acusações recentemente divulgadas pelo tribunal especial da Organização da Nações Unidas (ONU) para o Líbano responsabilizam quatro integrantes do Hezbollah pelo atentado que matou, em 2005, o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, o mais poderoso líder sunita do Líbano, e mais 21 pessoas, lançando mais uma sombra sobre a reputação do grupo.

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O Hezbollah apoiou os levantes populares contrários aos regimes no Egito, no Iêmen, no Bahrein e na Tunísia. Mas é publicamente aliado do Irã e da Síria em suas brutais repressões contra manifestantes.

Num sinal de preocupação com os danos à sua reputação, o Hezbollah tem evitado falar sobre o levante na Síria. O movimento tenta negar as repetidas acusações não confirmadas de ativistas sírios de que combatentes do Hezbollah – assim como iranianos – estão envolvidos na repressão aos protestos e na morte de manifestantes.