• Carregando...
Cartazes em Buenos Aires fazem referência à presidente argentina, Cristina Fernández Kirchner (CFK), e à nacionalização da principal petroleira do país, a YPF | Daniel Garcia/AFP
Cartazes em Buenos Aires fazem referência à presidente argentina, Cristina Fernández Kirchner (CFK), e à nacionalização da principal petroleira do país, a YPF| Foto: Daniel Garcia/AFP

Brasil

Petrobras afirma que vai questionar governo vizinho na sexta-feira

Folhapress

A presidente da Petrobras, Graça Foster, afirmou ontem que a estatal está cumprindo plenamente o plano exploratório estabelecido pela Argentina. Ela disse que questionará, em reunião com o governo argentino na próxima sexta-feira, o cancelamento da concessão da Petrobras na província de Neuquén, ocorrido em abril.

"Fomos surpreendidos [pelo cancelamento]. A reunião de sexta é importante para esclarecer as coisas", disse ela, durante evento no Rio promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).

A executiva, junto com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, irá se reunir em Brasília com o ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido – designado pela presidente Cristina Kirchner como interventor na YPF.

Lobão disse não ter nenhum temor em relação à atuação da Petrobras na Argentina, onde possui 79 postos de combustível e explora petróleo. "Nós prosseguiremos dentro da normalidade."

Para ele, a decisão de Cristina de expropriar a petroleira YPF do grupo espanhol Repsol é uma questão de soberania nacional.

"Não vejo nenhuma motivação especial para isso [para haver atritos com a Petrobras Argentina]", disse.

Atritos

Nacionalização na Bolívia abriu crise com o governo brasileiro

O governo de Evo Morales na Bolívia foi em 2006 o primeiro na história recente da região a aprovar lei de "nacionalização" do gás e petróleo. O presidente boliviano assinou a nova legislação em uma instalação da Petrobras no país, invadida momentos antes por ele, ladeado por soldados.

A lei determinou a renegociação de contratos de exploração de gás (com aumento dos impostos), a compra compulsória de refinarias – duas delas da Petrobras –, e a renegociação do preço de exportação do gás ao Brasil.

O ato abriu grave crise diplomática entre Brasília e La Paz e iniciou uma novela de negociações.

Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, decretou a nacionalização do setor em 2007, forçando as companhias a se tornarem sócias minoritárias da PDVSA, a estatal, nos negócios. Depois, a Petrobras declinaria da opção de explorar a faixa do Orinoco, local das maiores reservas de petróleo mundiais.

Em 2010, o Equador modificou sua lei, obrigando as sócias privadas a serem prestadoras de serviços, e não exploradoras. A Petrobras deixou o país.

A estatal brasileira mantém operação na Argentina e outros países sul-americanos. No Uruguai, a Petrobras é a principal distribuidora de gasolina.

A petroleira espanhola Rep­­sol exigiu ontem que o governo argentino pague US$ 10,5 bilhões (R$ 19,3 bilhões) por suas ações da YPF, que teve sua reestatização anunciada segunda-feira pela presidente Cristina Kirchner.

O presidente da Repsol, Antonio Brufau, acusou o governo Cristina de tentar "esconder a crise social e econômica no país" ao expropriar 51% das ações da YPF. Sugeriu ainda interesse argentino na exploração no campo de petróleo de Vaca Muerta – descoberta recente da Repsol.

O valor estabelecido corresponde ao total de 57,43% dos papéis da petroleira nas mãos do grupo espanhol. A Repsol exige o cumprimento do acordo feito durante a privatização, nos anos 90, pelo qual o governo deve lançar uma oferta sobre a totalidade das ações da empresa se quiser o controle de mais de 15% das ações.

Rompimento

Em viagem ao México, país que expressou apoio à Espanha, o premiê Mariano Rajoy falou pela primeira vez sobre o caso, que "rompe com as boas relações entre os países".

Em tom ameaçador, Ra­­joy disse que a decisão argentina pode prejudicar a América Latina.

"O que aconteceu a uma empresa espanhola pode acontecer amanhã com qualquer outro investimento", declarou.

O chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo, afirmou que a Argentina "deu um tiro no próprio pé", enquanto o ministro de Indústria, José Manoel Soria, avisou que estuda embargos também nas áreas energética e industrial.

O vice-ministro de Eco­­nomia argentino, Axel Ki­­cillof, adiantou ontem que não vai pagar o valor exigido pela Repsol. "Bobo é quem pensa que o Estado deve ser estúpido e cumprir o que diz a empresa", disse, acrescentando que a Repsol tem uma dívida de cerca de US$ 9 bilhões.

Kicillof garantiu que "revisará" todos os números da Repsol na Argentina. Ele e o ministro do Planejamento, Julio De Vido – designados por Cristina interventores da YPF – foram ao Senado defender o projeto de lei.

Ouviram críticas de oposicionistas, que lembraram que o casal Kirchner apoiou a privatização da YPF nos anos 1990. O Senado, dominado por governistas, po­­rém, deve aprovar o texto em sete dias.

Hoje, o assunto também vai ser debatido pelo Parlamento Europeu, que vota na quinta-feira resolução para proteger de maneira comum interesses de empresas europeias no exterior, proposta pelo conservador Partido Popular Europeu.

A chanceler da União Eu­­ropeia, Catherine Ashton, avisou que o bloco estuda todas as vias possíveis para uma resposta à decisão de Buenos Aires, que cria um "sinal muito negativo aos investidores internacionais".

A Repsol diz que recorrerá ao tribunal de arbitragem do Banco Mundial e a todas as cortes internacionais a que tenha acesso.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]