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Um ano depois

República das ONGs

Um funcionário da organização Handicap International ajuda vítima do terremoto que perdeu uma das pernas: ajuda das ONGs é problemática, mas seria bem pior sem ela | Eduardo Muñoz/Reuters
Um funcionário da organização Handicap International ajuda vítima do terremoto que perdeu uma das pernas: ajuda das ONGs é problemática, mas seria bem pior sem ela (Foto: Eduardo Muñoz/Reuters)
Veja a história do Haiti |

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Veja a história do Haiti

Porto Príncipe - No momento em que o país mais pobre do Ocidente se viu vítima de uma tragédia desoladora, um exército de 10 mil voluntários e funcionários de organizações não governamentais (ONGs) veio em seu socorro. Hoje, aqui, ao completar um ano do terremoto que matou cerca de 230 mil pessoas, os haitianos contam com a ajuda das ONGs para ter acesso a serviços básicos – ajuda que, para muitos, ainda é altamente ineficiente. Quanto ao Estado, é como se não existisse. Nunca foi devidamente reestruturado após o evento e agora vive sob uma indefinição política.

É quase sem surpresa, portanto, que o aniversário da tragédia seja recheado de números desanimadores. A Unicef divulgou na última semana que 4 mi­­lhões de crianças continuam sem acesso a água limpa, educação e proteção contra doenças.

A Anis­­tia Inter­­nacional contabilizou 250 casos de estupro em campos de refugiados só nos primeiros cinco meses após a tragédia. A Ox­­fam escancarou a falência dos esforços de reconstrução: apenas 5% dos destroços foram removidos e só 15% das habitações, reconstruídas.

"É difícil encontrar outro contexto pós-catástrofe em que haja presença internacional tão maciça e, ao mesmo tempo, tanta autonomia sem prestação de contas", disse à Gazeta do Povo o sociólogo da Universidade Alemã de Flens­­burg, na Alemanha, Sebastião Nas­­cimento, que morou no Haiti e realizou estudos sobre o país.

Em relatório publicado na se­­mana passada, o Disaster Accoun­­tability Project concluiu que as ONGs oferecem muito pouca in­­formação sobre a utilização do dinheiro coletado. De 196 organizações pesquisadas, só 38 responderam à pesquisa da entidade. Apenas 8 foram consideradas boas prestadoras de contas.

As 38 ONGs que responderam ao questionário declararam haver arrecadado US$ 1,4 bilhão para o Haiti, mas, no fim de 2010, apenas a metade do dinheiro havia sido destinado a projetos.

Além da falta de transparência, especialistas apontam a falta de integração do trabalho. "As or­­ganizações não dividem o di­­nhei­­ro", criticou, à Gazeta do Povo, o diretor da Fundação Canadense para as Américas, Carlo Dade.

Falta Estado

A esperança de que um mínimo de direção fosse dada ao país com a eleição do novo presidente do Haiti, que deveria tomar posse no próximo dia 7 de fevereiro, se desfaz na medida que o resultado do primeiro-turno é contestado e a realização do segundo, adiado. Os haitianos votariam no próximo domingo, mas a ONU, que mantém uma missão de pacificação no país (Minus­­tah), considera difícil que a ida às urnas ocorra antes do fim de fevereiro.

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