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Com milhares de cruzes pintadas na principal praça de Praga, a República Tcheca lembrou nesta segunda-feira (22) as mais de 25 mil pessoas que morreram de Covid-19 no país. Exatamente um ano depois do primeiro óbito pela doença, esta nação do leste europeu passa por um dos momentos mais críticos da pandemia.
De acordo com o site Our World In Data, em um ano morreram cerca de 2.316 pessoas a cada milhão de habitantes devido à Covid-19, o que rendeu à República Tcheca o pior índice de mortes per capita do mundo nesta pandemia, considerando os países com mais de um milhão de habitantes.
A República Tcheca aparece ainda como o segundo país com maior índice de mortes diárias nesta pandemia (19 por milhão), atrás apenas da Hungria. O número de óbitos no país mais do que dobrou desde o começo do ano, quando o país contava 12 mil falecimentos pela doença. Em 12 de março, foi registrado o recorde de mortes em um único dia: 220.
Embora o número de casos registrados diariamente esteja diminuindo, proporcionalmente, a situação epidemiológica da República Tcheca é mais grave do que no restante da Europa. Houve dois picos de infecções em 2021, no começo de janeiro e no começo de março, quando uma nova variante do coronavírus foi detectada no país – a mesma identificada no Reino Unido –, hospitais de algumas regiões ficaram sobrecarregados e um pequeno número de pacientes com Covid-19 teve que ser enviado a nações parceiras da União Europeia para tratamento.
Isso levou o governo tcheco a adotar estritas medidas de confinamento em 1º de março, que devem ficar em vigor até 5 de abril, após a Páscoa. As pessoas estão proibidas de viajar dentro do país, entre os distritos, e não podem se visitar. Todo o comércio, exceto supermercados, farmácias e outras lojas essenciais, estão fechados. As indústrias, porém, seguem funcionando.
“Somente graças (às medidas), somos capazes de manter o sistema de saúde funcionando”, disse o ministro da Saúde, Jan Blatny, em 18 de março, ao anunciar a extensão do confinamento até o começo de abril. “É óbvio que essas restrições fazem sentido e é por isso que temos que continuar com elas”.
Como o país chegou a esta situação? Segundo o próprio primeiro-ministro, Andrej Babiš, o seu governo cometeu "erros demais". Especialistas apontam para alguns desses erros que impactaram no aumento de casos desde o início de 2021: a reabertura de lojas antes do Natal devido à pressão popular, já que os casos estavam em queda na época; e a falha do governo em lidar com a nova cepa do vírus que surgiu no país no começo do ano, ao não sequenciar amostras suficientes para descobrir o alcance da nova cepa e como impedir que ela se espalhasse pelo país.
Outros problemas são comuns aos demais países, como a propagação de boatos, notícias falsas e teorias da conspiração, ou ainda o cansaço da população com as medidas restritivas impostas por causa da pandemia.
Vacinação
Quanto à vacinação, o país começou lento mesmo se comparado com outros países do leste europeu. Em 31 de janeiro deste ano, a Rep. Tcheca vacinava cerca 10 mil pessoas por dia, enquanto Hungria chegava a 20 mil; Polônia, 67 mil e Alemanha, 96 mil doses diárias.
Todos os países fizeram um esforço grande para acelerar a vacinação à medida que os imunizantes começavam a ser distribuídos pelo continente europeu. Com isso, a Rep. Tcheca conseguiu alcançar a marca de 35,906 doses neste domingo (21). Apesar do avanço, o país aplica menos doses diárias que seus vizinhos.
Com isso, em números absolutos, a República Tcheca está muito atrás, tendo administrado o total de 1,35 milhões de doses até o último domingo. Na mesma data Hungria chegou a 2,07 milhões; Polônia, 5,03 milhões e Alemanha, 10,86 milhões. O país europeu que mais administrou vacinas, o Reino Unido, já vacinou 30,28 milhões de habitantes, de acordo com o Our World In Data.
Leste europeu
Apesar de a República Tcheca ser o país que mais sofre atualmente, com infecções aumentando mais de 10 vezes mais rápido do que na Alemanha, Eslováquia, Hungria e Polônia estão enfrentando os surtos mais graves em meses. Além disso, vários países do leste europeu estão apresentando uma taxa de mortes maiores que a média europeia.
Para evitar as altas taxas de contágio, vários países estão voltando a introduzir lockdown parciais. A Polônia, por exemplo, reintroduziu medidas de bloqueio desde sábado (20), fechando a maioria de seus locais públicos e negócios não essenciais e cancelando todas as aulas presenciais por três semanas. No dia do anúncio, a Polônia registrou 26.405 novos casos de coronavírus e 349 mortes relacionadas à Covid-19.
O atual estado sanitário do leste europeu é um exemplo da importância de governo e sociedade estarem vigilantes enquanto durar a pandemia.