A celebrada reaproximação entre Estados Unidos e Cuba, cujo ponto máximo até agora foi o anúncio da reabertura das embaixadas, na semana passada, poderá ser freada pela oposição republicana ao presidente Barack Obama no Congresso. Parlamentares republicanos já começam a dar mostras que Obama não terá tanta facilidade para levar adiante seu plano: eles podem dificultar a reabertura da embaixada americana em Havana e emperrar a retirada do embargo à ilha.
O embargo econômico e financeiro a Cuba começou em 1962 e foi transformado em lei na década de 1990. Em 1999, foi ampliado pelo então presidente democrata Bill Clinton. A suspensão do bloqueio é a principal condição colocada pelo presidente cubano, Raúl Castro, para reatar as relações diplomáticas com os EUA. Mas essa parece ser a parte mais complicada do plano de Obama, que já pediu ao Congresso que suspenda o bloqueio.
Na semana passada, líderes republicanos como o ex-governador da Flórida e pré-candidato à Presidência em 2016 Jeb Bush e o presidente da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados), John Boehner, criticaram duramente a reabertura das embaixadas. Para Boehner, Obama deu “legitimidade” à “brutal ditadura comunista” dos irmãos Raúl e Fidel Castro. “As relações com o regime dos Castro não deveriam ser revisadas, e muito menos normalizadas, até que os cubanos desfrutem da liberdade”, afirmou.
Como alguns efeitos do embargo, nenhum país pode exportar para os EUA produtos que contenham alguma matéria-prima cubana; empresas americanas não podem enviar alimentos à ilha; empresas não podem vender para Cuba bens ou serviços nos quais seja utilizada tecnologia americana, e podem ser punidas por manter relações com o país caribenho. Em 2009, Obama retirou algumas restrições para viagens a Cuba e aumentou o limite de envio de dinheiro para a ilha, mas o grosso do bloqueio está nas mãos do Legislativo.
Embaixadas
A reabertura das embaixadas em Washington e Havana não depende da aprovação do Congresso americano, mas questões práticas para viabilizar a retomada completa das relações diplomáticas estão sujeitas à boa vontade de deputados e senadores.
Entre elas está a aprovação do financiamento para a reforma do prédio no Malecón que abrigará a embaixada e do nome do novo embaixador em Havana. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, adiantou que a Casa não deve aprovar um novo embaixador.
Ted Cruz, senador pelo Texas e outro pré-candidato republicano à Casa Branca no ano que vem, disse em nota que vai trabalhar para bloquear qualquer financiamento para a embaixada e os nomes sugeridos pelo presidente para assumir a representação. A condição colocada por Cruz para baixar a guarda é Obama demonstrar “que fez algum progresso para aliviar a miséria” do povo cubano.
Jeffrey DeLaurentis, atual chefe da seção de negócios em Havana, é considerado o favorito para a nomeação. Foi ele que, na quarta-feira, entregou a carta de Obama endereçada a Raúl Castro, que anunciava a reabertura da embaixada.
Na Câmara, os republicanos também já mostram as garras. “O apoio para manter a pressão sobre o regime de Castro é mais forte do que nunca no Congresso”, disse o deputado pela Flórida Mario Diaz-Balart, cubano-americano crítico à aproximação.