O dia a dia em Havana: país com a economia isolada após embargo.| Foto: Ernesto Mastrascusa/Efe

A celebrada reaproximação entre Estados Unidos e Cuba, cujo ponto máximo até agora foi o anúncio da reabertura das embaixadas, na semana passada, poderá ser freada pela oposição republicana ao presidente Barack Obama no Congresso. Parlamentares republicanos já começam a dar mostras que Obama não terá tanta facilidade para levar adiante seu plano: eles podem dificultar a reabertura da embaixada americana em Havana e emperrar a retirada do embargo à ilha.

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O embargo econômico e financeiro a Cuba começou em 1962 e foi transformado em lei na década de 1990. Em 1999, foi ampliado pelo então presidente democrata Bill Clinton. A suspensão do bloqueio é a principal condição colocada pelo presidente cubano, Raúl Castro, para reatar as relações diplomáticas com os EUA. Mas essa parece ser a parte mais complicada do plano de Obama, que já pediu ao Congresso que suspenda o bloqueio.

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Casa Branca tenta retomar diálogo sobre direitos humanos

  • washington

Após anunciar que abrirá sua embaixada em Havana no próximo dia 20, os Estados Unidos voltam as atenções para os diálogos pendentes no processo de normalização das relações com Cuba, entre eles o que diz respeito a direitos humanos, tema sobre o qual os dois países têm acentuadas diferenças e já realizaram uma reunião em março.

Especialistas não esperam que o diálogo resulte em grandes acordos, mas que possa ser um foco de tensão significativo no processo de normalização iniciado em dezembro pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro. “O diálogo será um fórum para arejar as diferenças entre a ênfase de Cuba nos direitos econômicos e sociais e o enfoque dos Estados Unidos nos direitos políticos e civis”, disse Ted Piccone, do centro de estudos Brookings.

Na primeira sessão do diálogo, em março, a delegação de Cuba denunciou a “brutalidade e o abuso policial” nos EUA, as “limitações” aos direitos trabalhistas, as “execuções extrajudiciais com o uso de drones” e o “limbo jurídico dos prisioneiros em Guantánamo”, prisão militar americana em território cubano.

Por sua vez, os Estados Unidos não esconderam suas diferenças com Cuba no que diz respeito ao tratamento aos dissidentes na ilha e à restrição da liberdade de expressão.

Na semana passada, líderes republicanos como o ex-governador da Flórida e pré-candidato à Presidência em 2016 Jeb Bush e o presidente da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados), John Boehner, criticaram duramente a reabertura das embaixadas. Para Boehner, Obama deu “legitimidade” à “brutal ditadura comunista” dos irmãos Raúl e Fidel Castro. “As relações com o regime dos Castro não deveriam ser revisadas, e muito menos normalizadas, até que os cubanos desfrutem da liberdade”, afirmou.

Como alguns efeitos do embargo, nenhum país pode exportar para os EUA produtos que contenham alguma matéria-prima cubana; empresas americanas não podem enviar alimentos à ilha; empresas não podem vender para Cuba bens ou serviços nos quais seja utilizada tecnologia americana, e podem ser punidas por manter relações com o país caribenho. Em 2009, Obama retirou algumas restrições para viagens a Cuba e aumentou o limite de envio de dinheiro para a ilha, mas o grosso do bloqueio está nas mãos do Legislativo.

Embaixadas

A reabertura das embaixadas em Washington e Havana não depende da aprovação do Congresso americano, mas questões práticas para viabilizar a retomada completa das relações diplomáticas estão sujeitas à boa vontade de deputados e senadores.

Entre elas está a aprovação do financiamento para a reforma do prédio no Malecón que abrigará a embaixada e do nome do novo embaixador em Havana. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, adiantou que a Casa não deve aprovar um novo embaixador.

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Ted Cruz, senador pelo Texas e outro pré-candidato republicano à Casa Branca no ano que vem, disse em nota que vai trabalhar para bloquear qualquer financiamento para a embaixada e os nomes sugeridos pelo presidente para assumir a representação. A condição colocada por Cruz para baixar a guarda é Obama demonstrar “que fez algum progresso para aliviar a miséria” do povo cubano.

Jeffrey DeLaurentis, atual chefe da seção de negócios em Havana, é considerado o favorito para a nomeação. Foi ele que, na quarta-feira, entregou a carta de Obama endereçada a Raúl Castro, que anunciava a reabertura da embaixada.

Na Câmara, os republicanos também já mostram as garras. “O apoio para manter a pressão sobre o regime de Castro é mais forte do que nunca no Congresso”, disse o deputado pela Flórida Mario Diaz-Balart, cubano-americano crítico à aproximação.