Os republicanos estão tendo que lidar com algumas complicações causadas pelo fato de o presidente Donald Trump ter contraído Covid-19. O primeiro desafio será garantir, no Senado, a confirmação da conservadora Amy Barrett como juíza da Suprema Corte enquanto há uma onda de infecções por coronavírus entre as lideranças do partido. Além de assessores da Casa Branca, três senadores foram diagnosticados com a doença e outros três estão em isolamento preventivo.
O processo de confirmação da juíza está marcado para começar na próxima segunda-feira (12), com uma audiência no Comitê de Justiça – e o presidente da comissão, o republicano Lindsey Graham, disse que vai mantê-la. Dos três senadores que estão com Covid-19, dois fazem parte do comitê. Os outros dois que estão em isolamento preventivo também. Os quatro disseram que devem voltar a Washington a tempo para a audiência, embora Graham tenha oferecido a eles a oportunidade de participar remotamente. Barrett, segundo informou um assessor republicano ao Washington Post, também vai participar pessoalmente da audiência de confirmação.
“A única coisa que quero que as pessoas saibam é que o vírus é sério, mas temos que seguir em frente como nação”, disse Graham durante um debate no sábado (3). “Teremos uma audiência para Amy Barrett, a nomeada para a Suprema Corte. Isso será feito com segurança – mas tenho um trabalho a fazer e estou avançando”.
A situação, contudo, deu aos democratas argumentos para tentar atrasar o cronograma dos republicanos, que querem aprovar a nova juíza da Suprema Corte antes das eleições de 3 de novembro. O líder da minoria no Senado, Charles E. Schumer, disse que levar adiante o processo de confirmação da indicada de Trump quando três senadores foram diagnosticados com Covid-19 é “irresponsável e perigoso”.
Em nota ao Washington Post, ele pediu que todos os membros da comissão sejam testados antes da audiência e concluiu: “Se Graham não exigir testes, pode ser que alguém se pergunte se ele simplesmente não quer saber os resultados”. Os democratas também afirmam que, devido à importância da audiência, seria inadequado que ela acontecesse remotamente, porém, eles nada podem fazer para impedir que o processo de confirmação siga seu curso.
Um impeditivo real seria se o vírus se espalhasse para outros senadores, impossibilitando a participação deles na votação de Barrett na comissão ou no plenário do Senado. Na comissão – composta por 22 senadores, 12 deles republicanos – o pleito deve ocorrer em 22 de outubro se houver uma maioria – os 10 membros democratas não vão ajudar a formar o quórum necessário, informou o Post. No plenário, os republicanos contam com 53 assentos na Casa, mas pelo menos uma senadora do partido já afirmou que votará contra a aprovação da indicada de Trump e outra deu a entender que não votará a favor dela, deixando os republicanos ainda em vantagem, mas em uma situação mais vulnerável a possíveis ausências decorrentes da Covid-19.
Os republicanos estão estudando o que é possível fazer para que, doentes ou não, os senadores do partido consigam participar dessa votação, que já é uma das mais importantes da história recente dos EUA na medida em que promete solidificar uma maioria conservadora na Suprema Corte americana.
Impacto nas eleições de novembro
O outro desafio que os republicanos enfrentam é mais difícil de gerenciar: o impacto negativo que a notícia de que Trump foi infectado pelo Sars-CoV-2 pode ter nas eleições.
A avalanche de críticas sobre como a administração Trump conduziu a resposta à pandemia, até agora, parece ter sido mais relevante do que o apoio ao presidente. A primeira pesquisa de opinião realizada após a divulgação do teste positivo de Covid-19 do presidente indica que a maioria dos americanos acredita que Trump poderia ter evitado a contaminação se tivesse levado mais a sério os riscos e as medidas de prevenção. A pesquisa da Reuters/Ipsos, realizada em 2 e 3 de outubro, mostrou uma vantagem nacional de 10 pontos percentuais do candidato democrata Joe Biden sobre Trump, um aumento de até dois pontos percentuais em relação às semanas anteriores, mas dentro da margem de erro da pesquisa, segundo a Reuters.
Um estrategista republicano veterano disse ao site Politico, em condição de anonimato, que as chances de Trump caíram em vários lugares na semana passada e que ele não sabe o que é possível fazer para mudar isso. "Parece que o fim está próximo", afirmou.
A falta de transparência da Casa Branca e da equipe médica sobre o estado de saúde de Trump e as informações desencontradas no fim de semana sobre a gravidade dos sintomas que o presidente estava apresentando, se não prejudicaram, também não contribuíram para melhorar a situação política do republicano que, apesar de ter recebido alta do hospital nesta segunda-feira (5), ainda ficará isolado por mais alguns dias na Casa Branca enquanto seu adversário percorre estados-chave para as eleições de 3 de novembro.
Ao mesmo tempo, alguns membros do Partido Republicano ainda estão otimistas e veem uma recuperação rápida de Trump como algo que possa ajudar sua campanha. O próprio Graham disse, no fim de semana, que o presidente agora terá uma chance de falar sobre o lado humano da doença. "Se ele sair dessa situação um pouco humilde e focado em acelerar [o desenvolvimento das] as vacinas e tentar reabrir o país com segurança, então acho que provavelmente ele ficará bem". Também há quem acredite que a recuperação contribuirá para compor a imagem de um presidente forte e, assim, beneficiar Trump.
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Cid confirma que Bolsonaro sabia do plano de golpe de Estado, diz advogado
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; assista ao Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Deixe sua opinião