É hora de descartar uma teoria da conspiração. É hora de desmascarar uma fraude. A teoria da conspiração é mais ou menos assim: a investigação sobre Trump e Rússia desde o início representou uma tentativa dos aliados de Hillary Clinton no governo federal de intervir nas eleições para ajudar Clinton. Tudo o que se seguiu é, portanto, fruto de uma árvore venenosa de esforços para aprisionar ou enredar inocentes, desavisados aliados ou oficiais da campanha de Trump, com um promotor empenhado em "fabricar" crimes processuais através de várias "armações de perjúrias" e outros meios nefastos.
Como muitas teorias da conspiração, ela ganha credibilidade referenciando exemplos de comportamento problemático real (por exemplo, as circunstâncias que cercam o mandado de investigação do americano Carter Page pelo FISA [Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira] e a criação do dossiê de Steele requerem um exame mais detalhado), mas desde o início sofre de falhas fatais. E agora, à medida que a extensão dos contatos da equipe Trump com a Rússia começa a surgir, é hora de relegar a teoria da "farsa da Rússia" à lixeira da história política.
A ideia de que o FBI usou a investigação da Rússia para intervir nas eleições para prejudicar Trump e ajudar Clinton sempre forçou a credulidade. Afinal, a investigação russa permaneceu secreta durante a eleição, enquanto o FBI não apenas reabriu publicamente a investigação sobre os e-mails de Hillary, como também confirmou a existência de uma investigação do FBI sobre a Fundação Clinton e expôs divisões com o Departamento de Justiça de Obama – o que colocou o FBI como um órgão que resistia heroicamente à pressão da administração Obama para evitar quaisquer “manipulação” na investigação da Fundação Clinton durante a campanha.
Em público, o FBI torpedeou Clinton. Privadamente, investigou a campanha Trump.
E agora, a cada nova revelação da investigação de Mueller, entendemos que as alegações de “envolvimento” são cada vez mais bizarras. Quanto mais aprendemos sobre os contatos do mundo Trump com russos ou agentes russos, mais surpreendente isso se torna. Preste atenção neste resumo parcial:
- O ex-advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, mentiu ao Congresso sobre seus contatos com um funcionário do governo russo enquanto tentava negociar um acordo para a Trump Tower Moscou em plena campanha presidencial de 2016.
- O ex-presidente da campanha de Trump, Paul Manafort, mentiu sobre seus contatos com Konstantin Kilimnik, um suposto ativo da inteligência russa.
- O velho amigo e assessor de Trump, Roger Stone (e o ajudante de Stone, o teórico da conspiração Jerome Corsi), supostamente tentou se comunicar com o WikiLeaks, um "serviço de inteligência hostil", para obter informações antecipadas sobre os vazamentos de documentos planejados por Julian Assange.
- O filho, o presidente de campanha e o genro de Donald Trump encontraram-se com um representante russo com a intenção de receber "documentos oficiais" como parte de um "apoio da Rússia e de seu governo a Trump".
- O ex-assessor de Trump George Papadopoulos mentiu ao FBI sobre os seus contatos com um professor que "alegou ter conexões substanciais com oficiais do governo russo" e que alegou ter acesso a "sujeiras" sobre Hillary na forma de "milhares de e-mails".
De fato, a lista de contatos conhecidos entre russos e altos funcionários de Trump (e membros da família Trump) continua crescendo. Em tempos menos partidários, eles gerariam uma preocupação muito mais bipartidária. Mesmo agora, eles deveriam no mínimo demolir o pior das teorias de conspiração pró-Trump.
Esta coluna não é um argumento de que esses contatos influenciaram a eleição. Eles nem sequer, até onde sabemos, envolvem diretamente o hacking russo. Continuo acreditando que muitos outros fatores foram muito mais influentes na derrota de Clinton do que a tentativa russa de colocar o dedo na balança. Nem a evidência disponível ainda indica qualquer envolvimento pessoal de Donald Trump. Mas esses contatos refutam repetidas negações iniciais de Trump e sua equipe.
Lembre-se, em 2017, Trump disse: “Eu não tenho nada a ver com a Rússia. Pelo que sei, nenhuma pessoa com quem eu lido tem”. [A ex-diretora de comunicação da Casa Branca] Hope Hicks disse: “Não houve comunicação entre a campanha e qualquer entidade estrangeira durante a campanha”.
Estamos entrando em um momento estranho em que os partidários de Trump – pessoas que se orgulham do patriotismo “América Primeiro” – olham para a lista de mentiras ilegais sobre contatos com nosso principal inimigo geopolítico e culpam os investigadores americanos por examinarem esses contatos.
Estamos entrando em um momento estranho em que muitos republicanos observam os esforços de um candidato para chegar a um lucrativo negócio imobiliário com esse inimigo durante sua campanha presidencial e chamam isso de "negócios de sempre". É especialmente estranho quando esses mesmos republicanos partidários estavam corretamente intensamente interessados nos lucrativos contatos da Fundação Clinton com a Rússia.
Sob que raciocínio a investigação anterior do FBI sobre a Fundação Clinton é legítima, mas a investigação de contatos abundantes entre os russos e a equipe de Trump é ilegítima?
Como em todas as investigações, o FBI e todos os outros ramos relevantes do governo federal devem ser responsabilizados quando se afastam da lei ou das políticas. Se elementos da investigação de Trump foram maculados por parcialidade partidária, precisamos saber. Mas, neste momento, as alegações de que a investigação em si é inerentemente ilegítima devem ser rejeitadas.
Uma investigação inteiramente necessária e adequada pode estar chegando à sua fase mais crucial. Quando isso acontece, é hora de os partidários abandonarem as teorias da conspiração e chegarem a um acordo mútuo para seguir as evidências e aplicar a lei aos fatos, sem levar em conta o afeto pessoal ou a preferência política. Qualquer outra abordagem – seja por comentaristas ou políticos – falha com sua audiência ou com seus constituintes.
A equipe Trump cercou a verdade de suas transações com a Rússia com um guarda-costas de mentiras. Nenhum americano deve achar isso aceitável ou desculpável. Vamos encontrar a verdade e confrontá-la sem medo. Nenhuma outra abordagem fornecerá a justiça e a transparência que a América precisa.
David French é redator sênior da National Review, membro sênior do National Review Institute e veterano da Operação Iraqi Freedom.
©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês