Nas eleições presidenciais de 2016, o candidato republicano Donald Trump ganhou apenas 8% dos votos dos negros. O partido do ex-presidente Abraham Lincoln passou a perder o apoio dos afro-americanos nas urnas após a depressão de 1929, uma mudança que foi consolidada após a década de 1960, quando o democrata Lyndon Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis.
As pesquisas de opinião desenham um cenário semelhante para a corrida eleitoral de 2020. Os republicanos sabem que estão bem longe de conseguir a maioria dos votos do eleitorado negro, mas em alguns estados onde a disputa é bastante apertada - como na Carolina do Norte, onde os republicanos estão realizando sua convenção nacional nesta semana - conseguir alguns votos a mais de eleitores negros conservadores pode fazer a diferença em favor de Trump.
Não é de agora que os republicanos estão cortejando este eleitorado. Trump alega - e é amplamente contestado por isso - que ele é o presidente que mais fez pelos afro-americanos desde Lincoln. Em seu discurso do Estado da União deste ano, disse que em seu governo a taxa de desemprego entre afro-americanos atingiu o menor nível histórico do país. Falou também sobre o financiamento recorde para universidades historicamente negras e dos incentivos fiscais para investimentos em comunidades pobres.
O primeiro dia da convenção republicana de 2020 salientou essas conquistas em um poderoso discurso de Tim Scott. O senador negro, republicano e conservador contou sua história pessoal, narrando como sua família saiu das fazendas de algodão da Carolina do Sul para conseguir chegar ao Congresso. Analistas políticos dos EUA consideraram sua participação a mais importante da noite.
"Em um distrito predominantemente branco, os eleitores não me julgaram pela cor da minha pele, mas pelo conteúdo do meu caráter", disse Scott. "Vivemos em um mundo que só quer que você acredite nas más notícias, polarizando as notícias racial, econômica e culturalmente. A verdade é que o arco de nossa nação sempre se inclina para a justiça", continuou, em um tom otimista que buscou responder às acusações dos democratas sobre a exploração das questões raciais por parte de Trump.
Ataques à chapa adversária também não faltaram. Scott lembrou comentários muito infelizes de Joe Biden ao longo desta campanha, como quando ele disse que se um homem negro não votasse nele, ele não era realmente negro, que crianças pobres podem ser tão inteligentes quanto crianças brancas e que negros são uma comunidade de pouca diversidade. Também lembrou do projeto de lei que Biden apoiou em 1994, que "colocou milhões de negros americanos atrás das grades".
Outras personalidades negras chamaram atenção na primeira noite de convenção democrata. Herschel Walker, jogador de futebol americano aposentado e amigo do presidente, e os políticos Kim Klacick e Vernon Jones disseram que os democratas consideram o eleitorado negro como voto certo a favor deles, mas que falharam com a comunidade afro-americana adotando políticas ruins. Também buscaram desfazer a imagem de um Trump racista, que não apoia o movimento Black Lives Matter.
"Considero um insulto pessoal que as pessoas pensem que eu teria uma amizade de 37 anos com um racista. Pessoas que pensam assim não sabem do que estão falando. Tendo crescido no extremo sul, vi o racismo de perto. Eu sei o que é isso. E não é Donald Trump", disse Walker.
Nessa toada, analistas americanos acreditam que, mesmo se não conseguir aumentar o seu percentual de voto entre a comunidade afro-americana, talvez Trump consiga reduzir a aversão à sua candidatura e fazer com que os eleitores brancos moderados se sintam mais confortáveis para votar nele.
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