Os centro-americanos que chegam às fronteiras dos EUA que buscam asilo nos Estados Unidos terão de esperar no México enquanto seus pedidos são processados, de acordo com novas medidas que o governo Trump está preparando para implementar, segundo revelam documentos de planejamento interno e três funcionários do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) familiarizados com a iniciativa.
De acordo com os memorandos do DHS obtidos pelo Washington Post na quarta-feira (21), os solicitantes de asilo da América Central que não puderem comprovar que correm risco de perseguição no México, não poderão entrar nos Estados Unidos e terão que voltar ao país vizinho por onde entraram.
O plano, chamado "Permanecer no México", equivale a uma grande ruptura com os procedimentos de triagem atuais. Atualmente eles permitem aos imigrantes que afirmam ter medo de retornar aos seus países de origem evitar a deportação imediata e permanecer nos Estados Unidos até conseguirem uma audiência com um juiz de imigração. Trump despreza esse sistema, que ele chama de "pegar e soltar", e prometeu acabar com isso.
Entre os milhares de migrantes da América Central que viajam de caravana pelo México, muitos esperam pedir asilo devido a ameaças de violência de gangues ou outras perseguições em seus países de origem. Eles esperavam poder permanecer nos Estados Unidos enquanto suas reivindicações são processadas pelo tribunal de imigração. As novas regras atrapalhariam esses planos e as esperanças de outros centro-americanos que buscam asilo nos Estados Unidos a cada ano.
Trump continua tentando implementar políticas que barrem a imigração na fronteira sul do país, mas elas frequentemente esbarram em contratempos legais, como a decisão de um juiz federal que bloqueou uma medida que proibiria os imigrantes ilegais a solicitarem asilo no país. O assessor sênior Stephen Miller pressionou para implementar o plano “Permanecer no México” imediatamente, embora outros altos funcionários tenham expressado preocupação com a implementação em meio a negociações delicadas com o governo mexicano, segundo dois funcionários do DHS e um consultor da Casa Branca com conhecimento do plano, discutido na Casa Branca na terça-feira.
A Casa Branca ainda não comentou o assunto.
O que prevê o plano?
De acordo com o novo plano do governo, se um imigrante não temer perseguição no México, é lá ele que ficará. Os Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA estão enviando equipes de escritórios em São Francisco, Washington e Los Angeles para os portos de entrada na área de San Diego para implementar os novos procedimentos de triagem, segundo um funcionário do Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos.
Para atravessar para os Estados Unidos, os requerentes de asilo teriam que enfrentar uma barreira relativamente mais alta no processo de seleção para estabelecer que seus temores de estar no México bastam para exigir a admissão imediata, dizem os documentos.
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"Se você está determinado a estabelecer que tem um medo razoável de permanecer no México, terá permissão de ficar nos Estados Unidos enquanto aguarda sua audiência perante um juiz de imigração", dizem os oficiais de refúgio aos que chegam em busca de refúgio humanitário. aos memorandos do DHS. "Se você não está determinado a estabelecer que tem medo razoável de permanecer no México, você permanecerá no México".
As cidades fronteiriças mexicanas estão entre as mais violentas do país, enquanto os cartéis de drogas disputam o acesso a rotas de contrabando para os Estados Unidos. No estado de Baja California, que inclui Tijuana, o Departamento de Estado adverte que "atividades criminosas e violência, incluindo homicídios, continuam sendo uma preocupação primordial em todo o estado".
Departamento de Segurança Interna nega
As novas regras entrarão em vigor na sexta-feira, de acordo com dois funcionários do DHS familiarizados com os planos. Mas Katie Waldman, porta-voz do DHS, emitiu um comunicado na noite de quarta-feira dizendo que não há planos imediatos para implementar essas novas medidas.
"O presidente deixou claro – cada opção legal está na mesa para proteger nossa nação e lidar com a enxurrada de imigrantes ilegais em nossas fronteiras", diz o comunicado.
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"O DHS não está implementando esse novo programa de fiscalização nesta semana. Relatórios sobre políticas que não existem criam incerteza e confusão ao longo de nossas fronteiras e têm um impacto negativo no mundo real. Garantiremos, como sempre, que qualquer novo programa ou política cumprirá com obrigações humanitárias, defenderá nossa segurança e soberania nacional, e será implementado com aviso ao público e bem coordenado com os parceiros".
Situação no México
Um funcionário mexicano, falando sob condição de anonimato, disse que a atual lei mexicana de imigração não permite que os requerentes de asilo em outro país permaneçam no México.
Em 1º de dezembro, um novo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, será empossado, e também não está claro se sua equipe de transição foi consultada sobre os novos procedimentos de triagem de asilo.
A possibilidade de que milhares de solicitantes de asilo tenham que esperar no México por meses, até anos, poderia representar um ônus financeiro significativo para o governo, especialmente se os migrantes permanecerem em acampamentos e abrigos em longo prazo.
Existem atualmente 6.000 imigrantes na área de Tijuana, muitos deles acampados em um campo de beisebol perto da fronteira, buscando entrar nos Estados Unidos. Vários outros milhares estão a caminho da cidade como parte de grupos de caravanas, de acordo com estimativas do Departamento de Segurança Interna dos EUA.
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Funcionários americanos da fronteira permitem que cerca de 60 a 100 solicitantes de refúgio se aproximassem do porto de entrada de San Ysidro todos os dias para processamento.
Na semana passada, o BuzzFeed informou que as autoridades americanas e mexicanas estavam discutindo esse plano.
O México também parece estar adotando uma atitude menos permissiva em relação às novas caravanas de migrantes que agora entram no país.
As autoridades detiveram mais de 200 pessoas, ou quase toda a última caravana que recentemente cruzou a fronteira sul do México a caminho dos Estados Unidos. Este é pelo menos o quarto grande grupo de migrantes a atravessar para o México e tentar caminhar até a fronteira dos EUA. Eles foram detidos pouco depois de cruzar a fronteira mexicana. A grande maioria dos imigrantes era de El Salvador, segundo o Instituto Nacional de Imigração do México.
Depois que a primeira caravana deste outono entrou no México, a administração do presidente Enrique Peña Nieto ofereceu aos migrantes a chance de viver e trabalhar no México, desde que permanecessem nos estados do sul de Chiapas e Oaxaca. A maioria optou por não aceitar este acordo, pois queria viajar para os Estados Unidos.
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