A expectativa do governo do Chile é que os 33 mineiros presos na mina de San José, situada no norte do país, comecem a ser retirados, um a um, nesta quarta-feira. O ministro da Mineração do país, Laurence Golborne, afirmou ontem que o resgate deve durar dois dias. "Esperamos que na sexta-feira eles estejam fora da mina", declarou Golborne nas proximidades do local, onde no último sábado os técnicos, ajudados pelos próprios mineradores soterrados, realizaram uma explosão controlada para alargar o túnel por onde eles serão resgatados. Ontem, os especialistas iniciaram a operação para reforçar com uma camada de metal os primeiros 96 metros do túnel pelo qual os 33 mineiros presos desde 5 de agosto devem ser finalmente começar a ser resgatados na quarta-feira (13). A operação, que visa a garantir que as paredes não desmoronem durante o resgate dos mineiros, deve durar um dia. Nas 48 horas seguintes, os especialistas devem instalar a estrutura pela qual descerá a cápsula de Phoenix, criada especialmente pela Marinha chilena para o resgate dos mineiros.
Revolta
Um grupo de cinco mineiros se rebelou contra seu líder e decidiu que cavaria com os próprios meios uma saída da mina San José, no norte do Chile. A briga ocorreu há semanas, afirma o jornal espanhol El País. O grupo de mineiros decidiu que não mais obedeceria ao chefe do turno, Luis Urzúa, responsável por manter a ordem e disciplina dos 33 mineiros presos a 700 metros da superfície durante os 17 dias em que não tiveram contato com a superfície.
A pequena revolução causou alerta entre as autoridades chilenas, afirma o jornal, já que a Nasa, a agência espacial norte-americana, já alertara que em situações de isolamento é crucial manter a liderança de uma pessoa. Prova da divisão foi que, no primeiro vídeo dos mineiros distribuído à imprensa pelo governo, os cinco não apareciam.
Segundo o jornal de Madri, eles estavam em outra área do refúgio, buscando uma forma alternativa de sair da mina. O psicólogo responsável pelos mineiros, Alberto Iturra, disse que a situação foi resolvida quando o chefe do grupo, ordenou da superfície que eles obedecessem a Urzúa.
Houve resistência à ordem em um primeiro momento, porém, os mineiros acabaram chegando a um consenso e os ânimos se acalmaram.
Médicos e operários decidirão quem serão os primeiros a subir
O clima festivo no acampamento Esperanza, agora vivendo a contagem regressiva para a libertação dos mineiros presos há 67 dias, não consegue esconder a ansiedade e a tensão em relação ao sucesso da operação de resgate, que pode começar na madrugada de terça-feira. Segundo o ministro da Saúde do Chile, Jaime Mañalich, a subida dos mineiro será feita sob condições de vibração constante, que incluirão choques com as paredes de rocha viva e a decorrente produção de faíscas.
Se os operadores do guindaste conseguirem manter a velocidade média em 1 metro por segundo (3,6 quilômetros por hora), a "viagem deve demorar apenas 12 minutos o que parece fácil. Mas as coisas se complicam porque o poço não foi escavado exatamente na vertical, como acontece em um elevador comum, mas em um ângulo de 10º (para evitar pontos de possível desabamento). Assim, será como se alguém subisse em um elevador com o poço "torto. Para piorar, a ascensão ocorrerá em um ambiente absolutamente claustrofóbico: a cápsula de transporte tem apenas 53 cm de diâmetro e o ombro do mineiro mais largo mede 51 cm. Some-se a isso o fato de que será esta a primeira vez em que um mineiro estará absolutamente só.
Desde que foram localizados no meio da montanha de cobre, foi-lhes pedido que se comportassem todos como se fossem um. "Lá, apesar de tudo, eles estão sumamente protegidos, monitorados. Será a primeira vez que estarão sozinhos. No içamento, podem sofrer baixas de pressão arterial, ter embolia pulmonar, náuseas, podem desmaiar, disse Mañalich.
A chance de um mineiro dentro da Fênix desmaiar com a cápsula enganchada em alguma saliência da rocha é o terror da operação. Se desmaiar com a cápsula livre, não haverá problemas maiores. Se, entretanto, acontecer com a cápsula enganchada, aí as coisas podem ficar bem difíceis. É que a Fênix compõe-se de dois módulos acoplados. O primeiro tem formato de proa, para ir abrindo caminho, e é hermeticamente fechada.
Segundo Mañalich, é impossível alcançar o mineiro por cima da cápsula quando ela estiver no poço. O segundo módulo, o de baixo, é onde irá o passageiro. É nela que ficam as manoplas que comandam a desacoplagem dos dois módulos e a lenta descida do módulo habitado de volta à mina. Para isso, é essencial que o passageiro esteja lúcido.
As autoridades já estão com uma lista de oito nomes de mineiros que se encaixam nessas condições. Mas não querem impô-la, porque isso poderia agravar o estresse natural que eles já enfrentam. Assim, estão à espera de que quatro desses oito se ofereçam para abrir o caminho. A decisão final sobre o primeiro a entrar na cápsula caberá aos paramédicos que descerão até onde estão os mineiros, para fazer a avaliação final do quadro psicológico e médico.