Destruição na região ucraniana de Donetsk: mais de dois anos e meio após seu início, guerra ganha temperatura novamente| Foto: EFE/EPA/Serviço de Imprensa da 24ª Brigada Mecanizada
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Após meses em segundo plano no noticiário internacional, a guerra na Ucrânia voltou a ser destaque com a ofensiva que Kiev iniciou em agosto na região de Kursk, no sudoeste da Rússia.

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Essa ação, aliada às ações ucranianas com drones em Moscou e em regiões fronteiriças, aumentou as especulações sobre uma virada no conflito. Entretanto, a resposta forte dos russos vem intensificando a guerra e nublando essas esperanças.

Na terça-feira (3), um ataque a um instituto militar e um hospital em Poltava, na região central da Ucrânia, foi o mais fatal no conflito este ano, deixando 53 mortos e 298 feridos.

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Na semana passada, a Rússia atacou 15 das 24 regiões administrativas da Ucrânia com mais de 200 drones e mísseis, afetando fortemente a infraestrutura de energia do país vizinho, no maior ataque aéreo desde o início do conflito.

Antes da ofensiva ucraniana em Kursk, julho já havia sido o mês mais fatal para civis na guerra da Ucrânia desde outubro de 2022, segundo números do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, com 219 mortos e 1.018 feridos.

A Ucrânia vem pedindo que seus aliados levantem restrições que impedem que Kiev bombardeie a Rússia com armas de longo alcance, para atingir alvos mais distantes dentro do território russo.

Segundo fontes ouvidas pelo jornal inglês The Guardian, o entendimento de Kiev é que a Rússia só considerará negociar se acreditar que a Ucrânia tem a capacidade de “ameaçar Moscou e São Petersburgo”.

Em entrevista à reportagem, o coronel da reserva e analista militar Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, colunista da Gazeta do Povo, apontou que o recrudescimento das ações russas é em parte uma reação à conquista pela Ucrânia de território russo na região de Kursk, e em parte uma espécie de teste de até onde as forças do Kremlin podem ir sem que ocorra um envolvimento maior do Ocidente no conflito.

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“Que se daria, em um primeiro momento, pela autorização - até o momento negada - para que a Ucrânia utilize meios e sistemas militares de fabricação ocidental contra alvos em profundidade em território russo”, explicou Gomes Filho.

Ele considerou que é possível que os ataques recentes da Rússia levem o Ocidente a permitir o uso de suas armas contra alvos em profundidade no território russo, mas as forças do ditador Vladimir Putin provavelmente estarão atentas ao desenvolvimento desse tema e tentarão “esticar a corda” somente até o limite aceitável para os aliados de Kiev.

O analista ponderou que outros eventos geopolíticos importantes, como a guerra no Oriente Médio, a reação à fraude eleitoral na Venezuela e a corrida pela Casa Branca desviam a atenção da comunidade internacional sobre o conflito na Ucrânia e acabam ajudando a Rússia.

“Especialmente a eleição americana constrange uma atuação mais incisiva do governo dos Estados Unidos, uma vez que o nível de engajamento de Washington no apoio à Ucrânia é um assunto divisivo e polêmico para o eleitorado dos EUA”, disse Gomes Filho.

A respeito da ação ucraniana em Kursk, o analista explicou que Kiev busca alcançar objetivos em diferentes níveis.

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“No político, conseguiu, com sucesso, surpreender os russos, levando o conflito ao seu próprio território e enfraquecendo a narrativa de que a Rússia desenvolvia apenas uma ‘operação militar especial’ em outro país, que em nada afetava o dia a dia dos cidadãos russos”, afirmou Gomes Filho.

No nível operacional, acrescentou o especialista, a ação buscou abrir uma nova frente de combate que atraísse tropas russas de outras partes da frente de combate, especialmente da região de Donetsk, “onde os russos pressionam fortemente e onde têm alcançado vitórias e conquistado terreno”.

“Esse objetivo não foi atingido pelos ucranianos, que seguem muito pressionados em Donetsk, mesmo com os combates tendo chegado a Kursk”, destacou. Mais de dois anos e meio após o início da guerra, ela ganha temperatura novamente e segue sem perspectiva de desfecho.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]