As últimas pesquisas indicam que o Partido Trabalhista Australiano, liderado por Anthony Albanese, deve obter maioria nas eleições federais na Austrália, que serão realizadas no sábado (21), e voltar ao poder após uma ausência de quase nove anos. Estarão em disputa todos os 151 assentos na Câmara dos Representantes e 40 dos 76 assentos no Senado.
A coalizão de centro-direita Liberal-Nacional, chamada simplesmente de Coalizão, liderada pelo primeiro-ministro Scott Morrison, venceu as três últimas eleições federais australianas (em 2013, 2016 e 2019 – o atual premiê está no cargo desde 2018), mas dessa vez enfrenta, além do desgaste natural de tanto tempo no poder, as críticas por medidas adotadas (ou não adotadas) nos últimos três anos.
Morrison foi criticado pelo ritmo lento da vacinação contra a Covid-19 e ao mesmo tempo foi alvo de protestos pelas restrições rígidas adotadas para enfrentamento da pandemia no país: lockdowns severos, passaportes vacinais (impostos pelos estados e apoiados pelo primeiro-ministro, que depois passou a criticá-los) e proibir durante quase dois anos que cidadãos australianos viajassem ao exterior (com algumas exceções) e a chegada de estrangeiros não residentes ao país – esta rendeu o apelido “Fortaleza Austrália”.
Sua imagem também foi manchada pela resposta vacilante aos incêndios florestais do chamado “Verão Negro”, entre 2019 e 2020.
Para que a Coalizão reagisse nas pesquisas, Morrison prometeu de última hora criar um programa para permitir que compradores da primeira casa própria saquem suas reservas de aposentadoria para dar entrada no financiamento.
A ideia, entretanto, foi criticada por fundos de pensão e economistas ouvidos pelo Financial Times, que disseram que tal política geraria aumento nos preços em um mercado imobiliário já superaquecido.
A respeito das críticas que sofreu durante a pandemia, Morrison fez uma espécie de mea-culpa esta semana e disse que pretende que uma eventual nova gestão sua seja “mais inclusiva”.
“Durante uma crise e uma pandemia, você precisa agir rápido, ser determinado, e isso significa que às vezes nem todo mundo vai concordar com você e nem sempre você vai acertar”, afirmou, em declarações reproduzidas pela ABC News. “Mas, na próxima etapa, temos a oportunidade de levar as pessoas adiante conosco nesse plano.”
Além do desgaste de Morrison, o oposicionista Albanese pode ser beneficiado por uma retórica menos agressiva dos trabalhistas (que em eleições anteriores haviam falado em “guerra de classes”), com uma plataforma pró-mercado e que promete até mesmo não revogar cortes de impostos promovidos pela Coalizão para os australianos de maior renda.
Entretanto, o atual premiê alegou, em entrevista à versão australiana do jornal Daily Mail, que se os trabalhistas vencerem, o Estado estará “no centro de tudo”, “interferindo na economia e nas vidas dos cidadãos” a mando de “sindicatos militantes” e que a prevalência da “cultura do cancelamento” deixará os australianos “pisando em ovos para sempre”.
Relações com a China
Como tem ocorrido em quase todas as eleições pelo mundo, a relação com a China também está sendo discutida na campanha. Morrison acusou os trabalhistas de ficarem “do lado da China” ao criticarem o governo por não ter agido com mais ênfase contra um recente acordo de segurança do regime comunista com as Ilhas Salomão, parceiras da Austrália.
“É estranho que o Partido Trabalhista não diga que a China está interferindo [na região do Indo-Pacífico) - de alguma forma, eles estão dizendo que é culpa da Austrália [a assinatura do acordo]”, disse o primeiro-ministro.
Albanese respondeu que a declaração de Morrison era uma “injúria ultrajante” e afirmou que o governo errou ao enviar representantes do Ministério do Pacífico para debater o assunto com as Ilhas Salomão, ao invés do Ministério das Relações Exteriores. “[O acordo] foi um grande fracasso da política externa australiana”, criticou.
O líder trabalhista também atacou o atual premiê por não ter consultado a oposição a respeito do acordo de defesa Aukus, estabelecido no ano passado com os Estados Unidos e o Reino Unido.
Por meio da parceria, vista como uma resposta à crescente ameaça chinesa no Indo-Pacífico, os australianos terão submarinos de propulsão nuclear, o que levou ao cancelamento de um contrato bilionário para compra de submarinos franceses com propulsão a diesel e elétrica e desagradou Paris.