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A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou nesta terça-feira (24) que está encerrando o projeto contra a Covid-19 que mantinha desde março no Hospital Ana Francisca Pérez de León II, em Petare, na região metropolitana de Caracas. De acordo com um comunicado, a decisão foi tomada pela "incapacidade de levar a cabo as atividades fundamentais para a atenção aos pacientes de Covid-19 com os padrões de qualidade" da organização, "devido a restrições de entrada" do pessoal humanitário especializado na Venezuela.
"Não foi possível continuarmos com a colaboração com o Hospital Pérez de León II, apesar de que há meses buscamos todas as alternativas possíveis que nos teriam permitido evitar este desfecho irreversível", disse o coordenador-geral do MSF na Venezuela, Isaac Alcalde.
O presidente interino da Venezuela e líder da oposição a Nicolás Maduro, Juan Guaidó, condenou o bloqueio por parte da ditadura de Nicolás Maduro. "A ditadura negou a emergência humanitária por anos, bloqueou a ajuda humanitária em 2019, impossibilitou o ingresso de ajuda alimentar porque perderia o controle social com o CLAP [Comitês Locais de Abastecimento e Produção, programa de alimentos subsidiados dos quais depende a maioria da população pobre], perseguiu o bônus de heróis da saúde [auxílio de US$ 300 pago pelo governo interino aos profissionais de saúde do país] e agora não deixa médicos voluntários trabalharem".
De acordo com o MSF, o projeto atendeu cerca de 3.500 pessoas, envolvendo uma equipe de 150 profissionais da saúde. A organização informou que deixará parte do material médico no hospital, fará uma dotação dos medicamentos e capacitará o pessoal que trabalha no centro médico.
A ONG continua oferecendo apoio a 39 estruturas de saúde em vários estados da Venezuela, tendo realizado quase 80 mil consultas no primeiro semestre de 2020.
"Apesar de, no momento, concentrarmos esforços no atendimento aos pacientes graves e críticos de Covid-19 do Hospital Vargas [em Caracas] e termos conseguido manter os demais programas médicos fora de Caracas, nos preocupamos que a situação ocorrida no Hospital Pérez de León II, devido às limitações de entrada de pessoal humanitário no país, possa acabar afetando os demais projetos do MSF nos próximos meses", alerta Alcalde.