Defensores e oponentes da separação da Escócia do Reino Unido apresentaram seus últimos argumentos ontem, enquanto as pesquisas de opinião continuavam a mostrar a dificuldade de prever o resultado do referendo de hoje.
A votação começa hoje, às 7h (horário local, 3h em Brasília). Os resultados finais são esperados para amanhã, por volta das 6h (na Escócia, 2h em Brasília).
Levantamento do instituto Ipsos-Mori para a STV News indicou que a proporção de eleitores a favor do "não" é de 49% e que os partidários da independência são 47%. Os demais 4% estavam indecisos. Foram ouvidas 1.405 pessoas por telefone.
Outra pesquisa divulgada ontem pelo Panelbase também indicou que a preferência por continuar a integrar o Reino Unido é maior, mas por uma margem apertada. O levantamento mostrou que 50% dos eleitores querem manter a união intacta e 45% disseram que votarão pela separação, sendo que 5% ainda não haviam decidido. A pesquisa envolveu 929 eleitores que participaram do levantamento pela internet.
Há uma série de dúvidas caso os escoceses escolham se separar do Reino Unido, dentre elas se o novo Estado faria parte da União Europeia.
Os defensores do "não" advertem que encerrar a união de 300 anos com o restante do país vai prejudicar a economia escocesa.
Os nacionalistas dizem que a independência dará aos escoceses o controle total das fontes econômicas do país e permitirá a eles priorizar os gastos em saúde e bem-estar, além de buscar outras políticas valorizadas pelos escoceses, que geralmente têm tendências esquerdistas.
Quem poderá fazer diferença no referendo
EFE
Embora os políticos não tenham procurado esses votos, os residentes não escoceses da Escócia podem ter a chave da vitória em um ajustado referendo em que uma só cédula poderia mudar a balança.
De um censo eleitoral de quase 4,3 milhões de pessoas, calcula-se que até 14% poderiam ser cidadãos de outras partes das Ilhas Britânicas, da União Europeia (UE) e da Commonwealth (comunidade de ex-colônias britânicas), com direito a sufrágio em virtude do acordo de Edimburgo assinado em 2012 e que sentou as bases da consulta.
Paralelamente, 800 mil escoceses que vivem fora da Escócia não poderão se pronunciar hoje sobre o futuro do território onde nasceram. Embora as enquetes indiquem que os não escoceses principalmente o meio milhão de ingleses, galeses e norte-irlandeses defendem a união, são muitas as incógnitas que rodeiam as intenções de voto dos estrangeiros, parte dos quais pertencem ao grupo dos indecisos.
Agniescka Shaikh é uma polonesa de 35 anos, casada com um indiano e mãe de duas crianças, que leva dez anos residindo na Escócia, onde os cidadãos da Polônia formam o maior grupo de imigrantes. "Tenho claro que votarei pela independência", diz. O alemão Daniel Buettner, um consultor no campo da energia, também deseja que a Escócia, onde mora há oito anos, se torne independente do Reino Unido, pois desconfia da política migratória do governo de Londres.
Depois dos poloneses e dos alemães, os grupos de imigrantes mais significativos são os da Índia, Paquistão e Irlanda. Com campanhas como "Alemães pela independência da Escócia", "Sim Escócia Hong Kong" ou "Italianos pelo sim", está claro que o debate chegou às minorias, sendo os independentistas os que mais buscaram defender sua causa.
Edimburgo
Controvérsias cercam as reservas de petróleo que financiariam o país
Estadão Conteúdo
O Mar do Norte é o grande pano de fundo do movimento separatista na Escócia. As grandes reservas de petróleo e gás são a garantia de um futuro próspero para o país, dizem os líderes independentistas.
O movimento pelo "sim" defende que a Escócia teria até 24 bilhões de barris de petróleo e gás sob as águas escocesas. O tema, porém, é controverso e um estudo independente divulgado ontem diz que o potencial poderia ser a metade do prometido na campanha.
"O setor de óleo e o gás tem uma importância para a Escócia desde as primeiras descobertas há mais de 40 anos. Empresas planejam investir pelo menos 100 bilhões de libras esterlinas nos próximos anos em uma clara indicação do potencial das receitas fiscais que caberiam a uma Escócia", diz um estudo do governo escocês usado como argumento econômico do movimento independentista.
Segundo essa projeção, 98,8% da produção de petróleo e 60% do gás do Reino Unido nas próximas três décadas terão origem na Escócia, especialmente nos campos de exploração marítima.
O movimento pela independência defende que as reservas de petróleo e gás somariam cerca de 24 bilhões de barris equivalentes de petróleo. O montante somaria riqueza de 1,5 trilhão de libras esterlinas quase R$ 6 trilhões. Para efeito de comparação: a Petrobras anunciou no início do ano que o Brasil tem reservas provadas de 16,565 bilhões de barris de óleo equivalente pelo critério da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ou seja, o movimento pelo "sim" diz que o país tem um pré-sal e meio sob o Mar do Norte. Os números, porém, são controversos.