Quase 29 milhões de argentinos tinham a missão de ir às urnas ontem para eleger 127 deputados federais e 24 senadores, além de 396 cargos do legislativo nas províncias e municípios do país. A cada dois anos, o país renova metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. O pleito define o cenário político dos próximos dois anos e meio, já que a presidente Cristina Kirchner não pode candidatar-se a um terceiro mandato consecutivo e tudo indica que os candidatos oficiais serão derrotados nos principais distritos eleitorais do país.
Sinalização neste sentido foi dada em agosto, quando os partidos realizaram as eleições primárias obrigatórias para a escolha oficial de seus candidatos. A Frente pela Vitória (FPV), sublegenda peronista do Partido Justicialista criada por Cristina e seu marido Néstor Kirchner, morto em outubro de 2010, obteve 26% dos votos nas primárias, enquanto os vários outros partidos opositores, juntos, obtiveram 74%. Os analistas não estimam mudanças substancias na intenção de voto. Porém, somente após o resultado final, poderão esclarecer algumas dúvidas sobre o novo mapa político do governo.
Diferentes pesquisas divulgadas nesta semana apontaram que o governo poderia conseguir, no máximo, 32% dos votos gerais. A oposição pulverizada em diferentes partidos somaria cerca de 74% Há expectativas de que a presidente consiga manter maioria na Câmara, mas não no Senado. Atualmente, o governo possui 129 dos 257 deputados, o que lhe garante quórum próprio para aprovar matérias de interesse oficial, mas insuficiente para mudar a Constituição e permitir uma nova candidatura de Cristina em 2015.
No Senado, dos 72 senadores, 38 são governistas e o governo corre o risco de perder um senador. "Se o resultado das primárias se confirmar nesta votação, o governo teria uma maioria muito justa", estimou o analista Carlos Fara, da consultoria Fara & Associados.
Futuro
A disputa mais importante foi no maior distrito eleitoral do país, a província de Buenos Aires, que concentra 38% dos votos e é o principal reduto do voto peronista. O duelo aconteceu entre Martín Insaurralde (FPV), quase 10 pontos abaixo do opositor Sergio Massa (Frente Renovadora, outra sublegenda peronista) nas pesquisas, que exibe a bandeira de ex-kirchnerista, disposto a mudar o atual "modelo" de governo.
O peso eleitoral e político neste distrito define o novo mapa do poder com vistas às eleições presidenciais de 2015. A diferença da possível vitória do opositor em relação ao candidato governista Insaurralde deverá posicionar Massa como um importante candidato à presidência, além de determinar a composição de uma Câmara hostil ao restante do mandato do pré-candidato presidencial governista ao pleito presidencial, Daniel Scioli, governador de Buenos Aires. "Se for confirmado seu triunfo, é mais provável que Massa comece a aparecer nas pesquisas como o candidato a presidente preferido pela opinião pública, disputando o lugar de Scioli", afirmou Fara.
Oposição vence em Buenos Aires, segundo pesquisa boca de urna
Das agências
O ex-chefe de Gabinete argentino Sergio Massa, líder da opositora Frente Renovadora, se impôs no maior distrito eleitoral do país no pleito legislativo nacional realizado ontem, segundo as pesquisas de boca de urna divulgadas pela imprensa local.
Massa, atual prefeito de Tigre, na região metropolitana da capital argentina, teria vencido na província de Buenos Aires por pelo menos dez pontos seu principal adversário político, o governista Martín Insaurralde, da coalizão Frente para a Vitória, da presidente Cristina Kirchner.
Nas primárias realizadas em agosto, Massa se impôs por 34,94% sobre Insaurralde, que ficou com 29,6%. "Estamos o dobro que do que estávamos nas primárias", comentou Claudio Ambrosini, porta-voz da Frente Renovadora, após conhecer as primeiras pesquisas.
Na capital, segundo as mesmas fontes, se consolidaria o triunfo dos candidatos da conservadora Proposta Republicana, que é liderada pelo prefeito da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri. "Hoje começa a mudança na Argentina que vai ser consolidada em 2015, com as eleições presidenciais", disse o chefe de Gabinete portenho, Horacio Rodríguez Larreta, em uma primeira reação depois do fechamento das urnas.
Embora os meios de comunicação não possam divulgar as porcentagens das projeções da eleição, alguns publicam tendências de votos, isto é, quais candidatos ficaram nos primeiros postos.
Como as leis eleitorais não regulam as redes sociais, no Twitter circulam algumas pesquisas de boca de urna desde antes do fechamento dos colégios eleitorais.
Cerca de 30,5 milhões de argentinos foram convocados para votar neste pleito, com os quais será renovada metade da bancada da Câmara dos Deputados e um terço da do Senado.
A atenção se centra na província de Buenos Aires, o maior distrito eleitoral, já que representa 38% dos eleitores totais do país.
Na capital federal, a disputa por vagas no Senado também daria vitória à candidata opositora Gabriela Michetti (Proposta Republicana/PRO) sobre o governista Daniel Filmus (FPV), que estaria disputando o segundo lugar, voto a voto, com outro opositor, Pino Solanas (Proyeto Sur/UNEM). A oposição também teria vitória em Córdoba, Mendoza e Santa Fé, segundo a boca de urna.