Em meio a denúncias de irregularidades e comemorações de vitória por apoiadores do governo, o resultado do referendo sobre a nova Constituição do Egito foi adiado para amanhã, segundo informou nesta segunda-feira (24) o chefe do comitê eleitoral.
"O Comitê Supremo Eleitoral anunciará amanhã às sete horas da noite (15h, no horário de Brasília) os resultados do referendo", afirmou o juiz Samir Abu el-Matti.
A expectativa era de que as autoridades do país divulgassem hoje o resultado do pleito que foi alvo de protestos da oposição e provocou enfrentamentos com apoiadores do governo nos últimos meses.O referendo foi feito em duas etapas: a primeira no dia 15 deste mês e a segunda, no último sábado, em que votaram as 17 províncias restantes do país.
O projeto da nova Constituição é alvo de protestos por ser baseado na sharia, a lei islâmica. Opositores a consideram um risco à liberdade individual. Entre os pontos mais polêmicos estão a manutenção dos poderes de militares e a falta de garantias explícitas aos direitos das mulheres.
As tensões entre partidários e opositores de Mohamed Murs culminaram na noite de 5 de dezembro em confrontos nos arredores do palácio presidencial, no Cairo, que causaram oito mortos e centenas de feridos.
Diante das denúncias de fraudes feitas pela oposição, magistrados egípcios decidiram investigar o processo de votação do referendo antes de declarar seu resultado.
"A Comissão Eleitoral está compilando os resultados da primeira e segunda fases e os votos de egípcios no exterior, e investigando as reclamações", disse o juiz Mahmoud Abu Shousha.
Segundo dados extraoficiais e contestados pela oposição, a Constituição teria sido aprovado por dois terços dos eleitores.A Irmandade Muçulmana, do presidente Mohamed Mursi, e os meios de comunicação do governo informaram que 64% dos eleitores aprovaram a Constituição, ao fim das duas fases do referendo. De acordo com os islâmicos, a taxa de participação foi de 32%.
No entanto, a FSN (Frente de Salvação Nacional ), principal coalizão de oposição, anunciou que contesta estes resultados, conquistados graças "à fraudes, violações e irregularidades".A FSN acrescentou que este referendo "não é o fim do caminho", mas "apenas uma batalha" na luta contra o presidente Mursi.
Para os partidários do "sim", a aprovação da Constituição trará estabilidade ao país. Um argumento utilizado para tranquilizar os egípcios, muito preocupados depois de dois anos de uma transição turbulenta.
Internacional
No plano internacional, a Alemanha solicitou uma investigação sobre as supostas fraudes.
Os Estados Unidos, que fornecem uma ajuda militar anual de US$ 1,3 bilhão ao Egito, foi cauteloso. Mas a republicana Ileana Ros-Lehtinen, presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, considerou a votação uma "derrota para o povo egípcio".
"Nós não podemos comemorar a mudança de um regime autoritário por uma ditadura islâmica", declarou.
Em um contexto de instabilidade política e econômica, acompanhada por um aumento da dívida e uma queda do turismo, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou este mês uma ordem de congelamento de um pedido do Cairo para um empréstimo de US$4,8 bilhões, enquanto a Alemanha suspendeu a anulação parcial da dívida egípcia, devido às suas preocupações sobre o que está acontece no país.
Prevê-se que, em troca do empréstimo do FMI, o Egito aplique medidas de ajuste orçamental.
O embaixador da União Europeia no Cairo, James Moran, considerou ser "importante (aplicar essas medidas) para criar confiança. A situação atual é frágil e quanto mais cedo se concretize o empréstimo do FMI, melhor".
Antes da primeira fase do referendo, em 15 de dezembro, Mursi congelou uma série de aumentos de impostos impopulares sobre produtos de consumo, tais como cigarros e refrigerantes, com o objetivo de trazer mais renda para o Estado.
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