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Um "furacão" passou pela política argentina, como descreveram analistas na imprensa local. O governo do presidente Alberto Fernández e de sua vice, Cristina Kirchner, sofreu uma derrota nas eleições primárias de domingo (12), que são prévias das eleições de legislativas de novembro, que ocorrem no meio do mandato presidencial.
No chamado PASO, eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias, foram definidos os candidatos que concorrerão as eleições de 14 de novembro, para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. A votação é vista como uma espécie de plebiscito sobre o governo de Fernández - que tem enfrentado críticas sobre suas ações de combate à pandemia e a gestão da crise que o país enfrenta há anos - e um termômetro para as eleições presidenciais de 2023.
Os candidatos da coligação governista Frente de Todos, de esquerda, perderam popularidade, e a oposição do Juntos por el Cambio, a aliança do ex-presidente Mauricion Macri, ficou a frente com 40% dos votos na contagem nacional.
As listas de pré-candidatos a deputados apresentadas pela chapa governista foram derrotadas em 18 das 24 províncias argentinas, incluindo em redutos eleitorais de Fernández e Kirchner, como a província de Buenos Aires. As de senadores somente foram as mais votadas em duas das oito províncias que elegerão representantes no Senado.
Os resultados indicam a possibilidade de o governo perder a maioria no Senado e a posição de maior minoria na Câmara de Deputados.
Fernández teve sua imagem arranhada com a divulgação de imagens que o mostram comemorando o aniversário da primeira-dama na residência oficial, com convidados, enquanto os argentinos eram obrigados a ficar em casa, no auge da quarentena imposta para conter a Covid-19.
Esse foi apenas o capítulo mais recente de uma série de crises que inclui recessão, inflação em alta e o aumento da pobreza.
"O partido governista perdeu 1,2 milhão de votos em comparação [à eleição presidencial de] 2019; isso os traz a um nível que, se for repetido em novembro, deixa Alberto Fernández muito enfraquecido", disse à Reuters Mariel Fornoni, diretora de uma empresa de consultoria argentina.
Após fiasco, Fernández promete corrigir erros
Após a divulgação provisória dos resultados das primárias, Fernández prometeu que seu partido aprenderá com os erros. "Obviamente não fizemos bem algumas coisas porque as pessoas não nos acompanharam como gostaríamos", disse. "A campanha apenas começou e, em novembro, teremos que vencê-la, porque temos um compromisso com a Argentina".
Nesta terça-feira, o presidente argentino pediu àqueles que não votaram em seu partido no último domingo que não condenem a Argentina "à regressão" - fazendo assim uma crítica ao governo de seu antecessor, Mauricio Macri - e prometeu que fará o que foi adiado e "corrigirá" o que deu errado em sua gestão.
Ele pediu a esses eleitores que não interrompam "a marcha" que começou com seu mandato em dezembro de 2019, quando derrotou Macri.
"Sabemos que temos coisas a corrigir. O que fizemos de errado, vamos corrigir. O que não fizemos, vamos fazer. Os erros que cometemos, não voltaremos a cometer. Mas, por favor, não condenemos o país à regressão", afirmou.
Em 14 de novembro, 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados e 24 das 72 do Senado estarão em disputa.
Mercado reage positivamente
O mercado reagiu positivamente, na segunda-feira, à derrota do governo argentino nas eleições primárias de domingo, com altas de até 18% nas ações argentinas cotadas em Wall Street antes da abertura da Bolsa de Comércio de Buenos Aires, cujo principal índice abriu em alta de 10,51%, enquanto o risco-país caía 6%.
"A reação do mercado é favorável", informou um relato da administradora de fundos SBS, com os ADRs de ações argentinas subindo quase 18% na pré-abertura. O risco-país, medido pelo banco americano JP Morgan, caía mais de 6%, perfurando os 1.500 pontos, até 1.448.
O índice de referência S&P Merval das principais ações da bolsa de Buenos Aires subia 10,51% na abertura, até 83.878,62 pontos. Esse é o efeito oposto ao que ocorreu após as primárias dos candidatos presidenciais de 2019, quando o mercado antecipou uma vitória do então presidente Mauricio Macri (2015-2019), que acabou sendo derrotado pelo atual mandatário, Alberto Fernández.
"O resultado foi surpreendentemente satisfatório para o mercado. Esta vitória nas eleições primárias está longe de resolver os problemas nos quais o país está imerso, mas dada a magnitude, oferecerá um bálsamo para as expectativas futuras porque não apenas limitará a força da coalizão governista, mas também abrirá a possibilidade de uma troca de gestão em 2023", diz um relatório da Portfolio Personal Inversiones.