A Itália terceira maior economia da zona do euro, em recessão caminhava ontem para um cenário de ingovernabilidade, isto é, uma situação em que nenhum dos partidos consegue força suficiente para compor um governo de coalizão. Surge o fantasma de uma nova eleição, num contexto particularmente difícil para o país e para a Europa em crise.
Os resultados apontavam para uma vitória por um fio do Partido Democrático, de Luigi Bersani, na Câmara, onde a legislação eleitoral dá ao primeiro colocado 54% das cadeiras. A coalizão de centro-esquerda havia conseguido 29,5% dos votos, contra 29,1% para o grupo de centro-direita de Silvio Berlusconi, que já foi três vezes premier e domina a cena política italiana há duas décadas. O secretário da legenda do ex-premier, Angelino Alfano, reivindica que os resultados sejam revistos, numa tentativa de impedir que o partido de Bersani seja declarado vencedor.
No Senado, onde não há esse bônus para o primeiro colocado, a votação foi muito apertada. Bersani despontava com 31,6% dos votos contra 30,7% para o ex-premier, o que está longe de garantir maioria à centro-esquerda.
Descrentes da classe política, os italianos ergueram como terceira maior força política um movimento inteiramente fabricado na internet, único na Itália e na Europa: o Movimento 5 Estrelas, liderado por um comediante que percorreu as praças pregando ética política e fim da corrupção, Beppe Grillo. Ele obteve 25,5% dos votos na Câmara e 23,8% no Senado.
O eleitorado ressuscitou quem era dado como morto o polêmico magnata da mídia e líder da direita italiana, Silvio Berlusconi, do partido O Povo da Liberdade. E enterrou Mario Monti, o tecnocrata, ex-comissário europeu, que governou o país durante a crise.
Para governar a Itália, um partido ou uma coalização precisa de maioria na Câmara e no Senado. Nesta eleição turbulenta, ninguém conseguiu isso.
"Os resultados são incertos. Só amanhã (hoje) poderemos fazer uma avaliação aprofundada", disse Monti, o maior derrotado.
Com o Parlamento bloqueado e dividido entre duas correntes irreconciliáveis, a Itália corre o risco de mergulhar na paralisia política. "Se os partidos falharem em formar uma coalizão comprometida em reformar economicamente o país e mudar as regras eleitorais, a Itália ficará ingovernável", alertou Stefano Folli, colunista político do jornal Il Sole 24 Ore.