No terceiro dia de isolamento em Machu Picchu, cresce entre os turistas a ansiedade em relação ao resgate com helicópteros. Usando duas a três aeronaves, as autoridades peruanas conseguiram remover até ontem 475 turistas estrangeiros. Restam 1,4 mil pessoas no local, incluindo cerca de 200 brasileiros. No domingo, um desmoronamento de terra provocado pelas chuvas bloqueou a ferrovia que leva a Águas Calientes, cidade-base para visitar o ponto turístico.
"O resgate está muito lento. Se continuar neste ritmo, vai levar no mínimo uma semana até todas as pessoas serem retiradas", avalia Lourivaldo Silva Júnior, advogado de Paranaguá que está entre os isolados e mantém contato com a Gazeta do Povo desde segunda-feira. Ele viajou com o pai e a madrasta, que já foi retirada.
A fila para embarcar nos helicópteros foi organizada dando preferência a idosos, mulheres e crianças. Ontem, um grupo de turistas se voluntariou para fiscalizar o cumprimento da lista. Desde terça, corria o boato de que alguns turistas teriam pago US$ 500 para conseguir um lugar nos escassos voos para Cuzco.
"Estamos fazendo o máximo esforço humanamente possível", disse o ministro de Comércio Exterior e Turismo do Peru, Martín Pérez. Segundo ele, os governos do Brasil, Chile e Colômbia ofereceram helicópteros para o governo peruano fazer os resgates, mas as aeronaves não serão utilizadas porque a geografia de Águas Calientes impede que mais de três ou quatro aeronaves trafeguem no local. "Podemos resgatar 120 turistas por hora, a única coisa que precisamos é que o clima ajude um pouco", disse.
Voluntários foram até o local do deslizamento e constataram que uma rocha caiu sobre os trilhos, impossibilitando o desbloqueio da ferrovia pelos próximos dias.
Acampamento em vagões
A funcionária pública Maria Inês Dalla Costa, que viajava com 38 pessoas do interior do Rio Grande do Sul, está acampada desde domingo em um dos vagões do trem parado na estação de Águas Calientes.
"Planejávamos ficar apenas um dia. Os idosos do nosso grupo foram removidos pouco tempo atrás, mas ainda há os jovens, que devem ser os últimos a embarcar. Ainda nem entramos na lista", conta.
Trilha perigosa
Alguns turistas estão percorrendo a pé a distância de 45 quilômetros entre Águas Calientes e Cuzco, de onde é possível voltar para casa. Nos últimos dias, uma turista argentina de 23 anos e um guia peruano de 33 morreram na trilha, atingidos pelos deslizamentos.
Aos que aguardam a retirada no local, a defesa civil local começou a fornecer alimentos. Com o isolamento, parte do comércio na comunidade passou a cobrar mais caro por produtos e serviços, e muitos turistas não haviam levado dinheiro para uma estadia prolongada.
Segundo o governo peruano, estas são as piores chuvas no país em 15 anos. Pelo menos sete pessoas morreram na região de Cuzco por causa de deslizamentos.