As eleições presidenciais da Venezuela e do Paraguai representaram a continuidade das incertezas, com impactos para o Brasil, o Mercosul e a Unasul. Embora ambas as eleições tenham sido definidas como justas, o tema é sensível.
Na Venezuela, seguiram-se à morte de Hugo Chávez e controvérsias constitucionais. Nicolás Maduro enfrenta o dilema de substituir um personagem carismático, cujo legado positivo em políticas sociais pode ser prejudicado por disputas internas e por uma economia vulnerável, dependente da venda de petróleo aos Estados Unidos e à China. A instabilidade andina afeta a fronteira norte do Brasil, com efeitos negativos no Equador e na Bolívia, não se esquecendo da presença militar norte-americana na Colômbia para combate ao narcotráfico.
No Paraguai, o pleito sucedeu o quase golpe e a deposição do presidente Fernando Lugo que levou à suspensão do paísdos blocos de integração. A volta do Partido Colorado com Horacio Cartes representa o conservadorismo. Para o Brasil, pode significar a retomada dos ciclos de pressão para a revisão dos preços pagos ao Paraguai pela energia de Itaipu, a posse de terras pelos "brasiguaios" e as questões de segurança na tríplice fronteira.
Porém, nenhum destes países é a nação líder da América do Sul, papel exercido pelo Brasil. O futuro da região, e dos interesses brasileiros, depende de nossa reação aos problemas dos vizinhos, em forma preventiva, e não só reativa. A reafirmação dos blocos é necessária, pois a integração regional sustenta-se na regra democrática prevista nos tratados do Mercosul e da Unasul, de investimentos em projetos de cooperação energética e produtiva.
Apesar da capacidade do Brasil ser limitada por dificuldades (incluindo já na pauta a eleição presidencial de 2014), um cenário sul-americano organizado depende desta presença estabilizadora. Hoje, de todos os retrocessos, o mais perigoso para a América do Sul é o do vácuo de poder.