Finalmente aconteceu. O Reino Unido deixará a União Europeia nesta sexta-feira (31) à meia-noite (20 horas de Brasília). Londres encerrará quase 47 anos de participação no bloco, que, pela primeira vez em sua história, perderá um membro e conquistará um poderoso concorrente comercial e financeiro à sua porta.
A partir de 1º de fevereiro, a relação de ambos entrará em um período de transição que deve durar até 31 de dezembro. Até lá, pouca coisa deve mudar. Pessoas, bens e serviços continuarão circulando livremente entre o Reino Unido e a União Europeia, já que os britânicos seguirão a maioria das regras da União Europeia enquanto negociam acordos comerciais com o bloco para definir os termos do relacionamento de longo prazo. Depois desse período, o futuro é incerto.
As negociações devem ter início no fim de fevereiro ou começo de março, com base em uma declaração política publicada em outubro de 2019 que define - sem dar detalhes - as aspirações para as relações futuras no comércio, segurança e fronteiras. O acordo do Brexit permite que o período de transição seja prorrogado até o fim de 2022, mas o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, prometeu evitar que isso aconteça.
Um dos principais argumentos dos defensores do Brexit tem sido - desde a campanha do referendo de 2016 em que ele foi decidido por 52% dos votos - recuperar o controle de sua política comercial para negociar livremente acordos com outros países. Mas os europeus devem adotar uma postura firme ao exigir que o Reino Unido siga as principais regulações do bloco se quiser continuar tendo acesso ao mercado da União Europeia.
Até agora, os 27 países-membros temem que o Reino Unido se torne um concorrente injusto, exigindo um “campo de jogo nivelado”, no qual os britânicos respeitem um certo número de normas de direitos trabalhistas, ou ecológicas, para acessar o mercado europeu. Isso promete tornar as negociações entre as partes bastante delicada.
Vale lembrar que atualmente a União Europeia é o principal parceiro comercial do Reino Unido, com 45% das exportações do país sendo destinadas aos países do bloco.
Parceria com os EUA
Três anos e meio após a decisão britânica de deixar a União Europeia, o Reino Unido vive uma situação econômica paradoxal: os investimentos caíram e o crescimento é lento, mas o desemprego está em um mínimo histórico. A aproximação com os EUA é uma aposta de Johnson para compensar as perdas do Brexit.
Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, recebeu o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que enfatizou os "enormes benefícios" para os dois países do acordo comercial pós-Brexit que eles estão prestes a negociar.
É difícil saber quanto a saída da UE custou ao Reino Unido até agora, mas é certo que o crescimento da economia tem patinado: de 1,8% em 2017 para 1,4% em 2018, de acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais (NSO).
A reunião de Johnson e Pompeo, em Londres, durou meia hora. Ao sair, o chefe da diplomacia americana disse que tinha sido um encontro "fantástico". "Estou otimista, porque havia coisas que o Reino Unido tinha de fazer como membro da UE e agora eles podem fazê-lo de maneira diferente", disse Pompeo.
"Tudo isso será visto no acordo de livre-comércio que queremos começar a negociar imediatamente. Quando você olha pelo espelho retrovisor, verá os enormes benefícios para nossas duas nações".
O presidente americano, Donald Trump, considera "uma prioridade absoluta" alcançar um ambicioso acordo de livre-comércio com o Reino Unido, e seu secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que espera concluí-lo ainda neste ano.
Mas Washington e Londres terão percalços. A decisão britânica de permitir que a fabricante chinesa de telecomunicações Huawei participe, mesmo que limitadamente, de sua rede 5G é uma das principais, já que Washington acusa a gigante tecnológica chinesa de ser espiã do governo de Pequim, o que a empresa nega.
Com esse argumento e em um contexto de rivalidade comercial, ele pediu a seus aliados que excluíssem a Huawei do desenvolvimento da próxima geração de sua rede de internet móvel de alta velocidade. Nesta semana, o governo de Boris Johnson anunciou que não vai banir a participação da Huawei na construção das redes 5G do Reino Unido, mas limitou o uso a partes não sensíveis da estrutura e longe de locais importantes para a segurança nacional, como bases militares e usinas nucleares.
Relação com outros países
O Reino Unido também vai buscar acordos comerciais com outros países. As prioridades, além dos EUA e da União Europeia, devem ser Austrália e Japão.
No fim do ano passado, Johnson disse ao primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, que fará do acordo de livre comércio entre os dois países uma das prioridades de sua agenda no pós-Brexit.
O governo britânico e o Japão também concordaram em negociar um novo acordo bilateral usando o acordo existente da UE como base, “procurando oportunidades para aprimorar áreas de interesse mútuo”.
O Mercosul não está no topo, mas também aparece na lista de acordos comerciais que o Reino Unido quer fazer. O ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, disse, após reunião com o ministro das Finanças britânico, Sajid Javid, em janeiro, que o Reino Unido quer iniciar negociações para um acordo de livre comércio com o Mercosul. O objetivo do acordo seria garantir menos burocracia para as negociações entre o bloco sul-americano e os britânicos pós Brexit. A intenção é começar as tratativas assim que estiver finalizado o processo de saída do país da União Europeia.
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