Reunião de chanceleres dos países do G20 em Nagoya, Japão| Foto: Célio Yano / Gazeta do Povo

A reunião de ministros de Relações Exteriores do G20 terminou neste sábado (23) ofuscada por um debate extraoficial que tomou conta do evento. O clima era de tensão na sexta-feira (22), porque à meia-noite expiraria um acordo de cooperação militar que o Japão, anfitrião do encontro, mantém com a Coreia do Sul desde 2016.

CARREGANDO :)

A parceria estabelece o compartilhamento de informações militares confidenciais, como detalhes sobre lançamentos de mísseis e movimentação de tropas da Coreia do Norte, assim como sobre outras potências regionais, como China e Rússia. O acordo tem renovação automática a cada ano a menos que alguma das partes se manifeste em contrário, o que Seul fez no último dia 22 de agosto em meio aos crescentes atritos com Tóquio. Com isso, o pacto duraria apenas mais três meses, encerrando-se ao fim do dia 22 de novembro.

Na tarde do dia 22, poucas horas antes do jantar de abertura do encontro de chanceleres do G20, a delegação da Coreia do Sul era a única que não havia chegado a Nagoya, onde foi realizada a reunião. Nas últimas horas do prazo para expiração, a Casa Azul, sede do governo sul-coreano, anunciou a manutenção do acordo por ao menos mais um ano, em um movimento descrito como “dramático” pela imprensa japonesa. A mudança de posição teria ocorrido por pressão dos Estados Unidos.

Publicidade

Quase simultaneamente ao anúncio, a chanceler da Coreia do Sul, Kang Kyung-wha, confirmou presença na reunião do G20. A viagem de Seul até Nagoya dura pouco mais de uma hora. Questionado, um porta-voz do governo japonês não quis associar a chegada de Kang de última hora à decisão sobre o acordo de cooperação militar.

Ministra das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Kang Kyung-wha| Foto: Célio Yano / Gazeta do Povo

Em uma coletiva de imprensa em Tóquio, o primeiro-ministro japonês, Abe Shinzo, disse considerar “extremamente importante para o Japão e a Coreia do Sul, assim como para os Estados Unidos, a cooperação e a coordenação para lidar com a Coreia do Norte”.

Neste sábado (23), Kang e o chanceler japonês, Motegi Toshitsumi, tiveram um encontro bilateral que durou cerca de 35 minutos. Na reunião, Motegi ressaltou que uma interrupção no acordo geraria “uma situação muito séria”, segundo relatou Kaifu Atsushi, secretário adjunto de imprensa do Ministério de Relações Exteriores do Japão a jornalistas. Ainda de acordo com o porta-voz japonês, apesar da situação delicada, os dois países mantêm boas relações econômicas e comerciais especialmente por meio do setor privado.

Os chanceleres concordaram em arranjar um encontro entre Abe e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em dezembro.

Publicidade

Na pauta oficial, reforma da OMC e acordos de livre comércio

Nas discussões oficiais da reunião de chanceleres do G20, os ministros concordaram ser urgente uma reforma na Organização Mundial do Comércio (OMC) como forma de tornar mais transparente e aberta a atuação do órgão na mediação de problemas enfrentados por alguns países. Em coletiva de imprensa, Motegi, como presidente do encontro, destacou ainda a importância do Acordo Econômico Compreensivo Regional (RCEP, na sigla em inglês), em negociação entre países asiáticos. Ele defendeu que o acordo seja assinado pelos 16 membros originais, incluindo a Índia, que recentemente anunciou sua saída das discussões.

Em outras sessões plenárias foram discutidas iniciativas e dificuldades dos diversos países na implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e ações de cooperação e investimento para o desenvolvimento da África.

A participação do Brasil no encontro, um dos poucos países que não foram representados pelo chanceler, foi protocolar. No lugar do ministro Ernesto Araújo, esteve o secretário de Política Externa Comercial e Econômica, Norberto Moretti, que não deu resposta a pedidos de entrevista feitos pela Gazeta do Povo. Outro nome ausente foi do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, que está em viagem pela Europa, e foi representado pelo secretário adjunto, John S. Sullivan. Nos bastidores do evento, a ausência foi interpretada como um sinal de desinteresse dos Estados Unidos na discussão sobre livre comércio em meio ao avanço de medidas protecionistas adotadas por Donald Trump na guerra comercial com a China.

Embaixador Norberto Moretti, secretário de Política Externa Comercial e Econômica do Brasil| Foto: Célio Yano / Gazeta do Povo

A reunião de ministros de Relações Exteriores do G20 foi a nona e última do grupo de potências mundiais sob a liderança do Japão, que ocupa a presidência rotativa em 2019. Além do encontro de cúpula realizado em junho em Osaka, houve eventos, por exemplo, com ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais em Fukuoka; de ministros de Agricultura, em Niigata; e de ministros do Trabalho e Emprego, em Matsuyama.

Publicidade

Ao término do encontro, representando o Japão, Motegi passou a presidência do G20 para o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, o príncipe Faisal bin Farhan bin Abdullah Al-Saud.

Diferentemente dos encontros de cúpula do G20, as reuniões de nível ministerial não geram protocolos de intenção ou cartas de compromisso. O objetivo é ser um fórum de discussão e troca de experiências em assuntos específicos entre os países membros, que respondem por mais de 80% da economia global.

O jornalista viajou à reunião do G20 a convite do Ministério de Relações Exteriores do Japão